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Difícil desapego 

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O verbo desapegar foi conjugado por aqueles que se desprenderam dos seus cargos políticos, já outros...  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 04/01/2021, às 07h23   Victor Pinto


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Desapegar é algo difícil de acontecer e esses primeiros dias de 2021, não fáceis pela continuidade da pandemia do coronavírus, foi um verbo conjugado por dezenas de prefeitos, vices, secretários, vereadores, cargos de confiança nas prefeituras baianas a dentro e também nas Câmaras municipais. Faz parte do processo democrático, cuja supremacia da alternância nos permite ver e acompanhar isso. 

De maneira didática, desapego, pelo dicionário Michaelis, é a falta de interesse ou entusiasmo; desapegamento, desinteresse, indiferença ou falta de amor ou de afeto; desafeição, desamor, desapegamento ou até mesmo o desprendimento dos bens materiais. Muito mais do que isso, creio que no aspecto político daqueles que vão precisar deixar suas funções, é tentar se desprender daquilo que estava acostumado. 

Benesses do poder, lugar de fala, tapa nas costas dos puxa saco, poder interferir em questões importantes, emplacar aliados, perseguir inimigos, tudo isso faz parte dessa jogatina. 

Contudo há desapegos e desapegos. O primeiro como reza a legalidade com uma transição séria com olhares no bem comum, com reuniões pontuais da gestão que sai com a nova que entra, tudo direitinho, preto no branco e outros insistem em fazer na marra, desejando o mau pior para seu sucessor e chutando o pau da barraca: quem sai no prejuízo é tão somente o povo. 

Esse segundo tipo é muito comum no interior quando grupos adversários destroem documentos, somem com computadores, quebram e dilaceram o patrimônio público como forma de se vingar. Atitude mesquinha e fora da civilidade que nosso Estado Democrático pede. 

Se apegar demais como forma de se apaixonar pelo feito é interessante, mas até que ponto se acostumar a tal ponto de ainda querer interferir no cargo não gerará um desentendimento? 

Um exemplo do difícil desapego, creio, passará por ACM Neto. Depois de oito anos agarrado no cargo de prefeito, passou o bastão para Bruno Reis. Centralizador e bastante ferrenho no cumprimento de medidas, como membros da sua antiga gestão faziam questão de citar, o agora somente presidente nacional do DEM buscará nas consultorias interior a fora não se afastar do tema da administração pública, mas tudo isso com os olhos no governo do Estado. 

Se de fato não for integrante daquilo que alguns apontam ser a extensão dos seus dois mandatos, Neto conseguirá se desapegar mais fácil. Fato que vi acontecer com Jaques Wagner (PT) em 2015 quando passou o comando do Palácio de Ondina para Rui Costa (PT) e nem da posse do secretariado novo ficou até o fim: na época se limitou a parte formal na Assembleia Legislativa e fez a transferência de poder ao afilhado. Logo após cascou fora com Fátima Mendonça em um carro vermelho de capota aberta. 

JW se manteve distante na administração de Rui e só interferiu, pelo sabido, naquilo que fora chamado para opinar. Veremos se o mesmo acontecerá com Reis. A correlação dos criadores e criaturas (quando esses no poder) ou até mesmo da democrática missão de entregar a chave a um adversário que assumiu a função é da velha de boa arte de fazer política obedecendo a harmonia. Agora é desapego no sentido do desprendimento e precisa ser um exercício e tanto para quem se acostumou com micros ou macros poderes. 

Victor Pinto é editor do BNews, jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. Atua na cobertura jornalística e na área administrativa de rádios em Salvador. 

Twitter: @victordojornal

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