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A casca de banana de Bruno Reis

Imagem A casca de banana de Bruno Reis
Bnews - Divulgação

Publicado em 05/01/2021, às 15h15   Rodrigo Daniel Silva


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Talvez, sem intuir, o novo prefeito soteropolitano Bruno Reis tenha jogado uma casca de banana no chão e, se bobear, vai escorregar nela. No discurso de posse na semana passada, o democrata afirmou, sem meias palavras, que quer ser o “prefeito da Educação”. A declaração pode passar de bom lema a um alvo perigoso para o governo municipal em pouco tempo. Assim como Bruno, a petista Dilma Rousseff, ao ser reempossada como presidente da República em 2015, anunciou que o slogan do segundo mandato seria "Brasil: Pátria Educadora". “Só a educação liberta um povo e lhe abre as portas de um futuro próspero”, disse ela, com razão.

No entanto, como sabemos, a área naufragou assim como o governo Dilma, que fez cortes nos orçamentos da Educação e trocas no ministério. “O lema dava a todos os jornais, de bandeja, um mote para ridicularizar qualquer fracasso que ocorresse na educação, pública ou privada, federal ou estadual ou municipal”, observou o ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi um que zombou do lema, ao criticar as mudanças no comando do MEC. “Pobre ‘pátria educadora, ficou só na propaganda”, ironizou ele, em uma rede social. “O governo do PSDB teve só um ministro na pasta, um educador respeitável Paulo Renato Sousa, que lá ficou oito anos. Agora o Ministério da Educação virou carta no baralho da barganha”, emendou.

Ao ser empossado novamente como governador da Bahia em 2019, Rui Costa não lançou um lema, mas garantiu que a “educação é uma prioridade” no seu segundo governo. Meses depois, enfrentaria uma greve de professores universitários que durou mais de 60 dias. Os governos petistas fizeram duros cortes no orçamento das unidades de ensino superior do estado. Além disso, um ano depois, Rui sancionaria a lei que autorizou a venda do Colégio Odorico Tavares, em um bairro nobre de Salvador, um ato de desvalorização da educação que ficará gravado na memória dos baianos. 

O que dizer, então, da educação em 2020? O secretário Jerônimo Rodrigues disse que “não foi um ano perdido”, mas difícil acreditar quando pais e alunos ficaram angustiados por não ter aula em todo o período e sem ter qualquer atividade compensatória. Antes que me esqueça, é bom dizer que o vale-alimentação concedido pelo governo estadual aos estudantes somente se concretizou após determinação judicial. Do contrário, eles poderiam nem ter merenda durante este tempo. 

Já, no governo federal, a educação nunca foi prioridade nem no verbo nem nos gestos. Prova disto é ter quatro ministros em um ano e meio de gestão. De volta a Bruno Reis, ele optou por uma indicação política para a Secretaria de Educação, ao nomear o ex-prefeito de Mata de São João, Marcelo Oliveira, do PSDB. Tudo indica que Oliveira desconhece a realidade soteropolitana, mas carrega no currículo a experiência de ter sido professor e secretário da área na cidade. Espera-se que surpreenda.  

Antecessor de Bruno Reis, ACM Neto deixou um legado expressivo na Educação, ao melhorar os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Também implantou programas relevantes, como o projeto “Agente da Educação”, estruturado na gestão de Guilherme Bellintani, que era cota pessoal de ACM Neto na época. Os desafios serão enormes para Marcelo Oliveira, que terá de recuperar um ano perdido para estudantes que estão no princípio da vida escolar. 

O tempo nos dirá se o “prefeito da educação” é uma realidade ou, como disse FHC, só uma propaganda. 

Rodrigo Daniel é jornalista e repórter da Tribuna da Bahia

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