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Celsinho Cotrim revela que já sofreu com a homofobia: "É preciso ser muito macho para ser gay"

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Em entrevista ao BNews, primeiro candidato LGBT à prefeitura de Salvador revela detalhes íntimos da vida pessoal e diz quais serão as propostas para o segmento   |   Bnews - Divulgação Divulgação

Publicado em 19/10/2020, às 19h36   Henrique Brinco


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O candidato Celsinho Cotrim (Pros) é o primeiro candidato abertamente LGBTQIA+ a concorrer à Prefeitura de Salvador. O postulante nunca escondeu sua orientação sexual da mídia, mas sempre manteve uma postura discreta em relação ao tema. Todavia, o assunto ganhou projeção após a repercussão de uma sabatina na Rádio Sociedade. Na ocasião, ele revelou pela 1ª vez que é casado com um médico e que os dois compraram uma casa juntos

Em entrevista ao BNews, o apresentador de TV revelou pela primeira vez detalhes da vida pessoal. Até a manhã desta segunda-feira (19), quando a entrevista foi ao ar, ele não ainda tinha noção do impacto do posicionamento. "Confesso que não tinha parado para pensar que será um marco para Salvador", declarou, para a reportagem. Ele avalia que o preconceito impede que outros políticos igualmente LGBTQIA+ falem sobre isso em público. "É preciso ser muito macho pra ser gay numa sociedade extremamente preconceituosa", avaliou, para a reportagem.

Coincidência ou não, o vice da chapa é o ex-pugilista Acelino Popó Freitas. O filho dele, o Juan, também é homossexual. "Popó e muito lindo, é muito especial. O olhar dele para o mundo é algo surreal. Ele é muito gentil, sensível, humano, acolhedor, amoroso, respeitoso e protetor. A forma como ele lidou com seu filho Juanzinho mostrou todas essas características", exalta.

Celsinho também revela que o marido está engajado na campanha. "Comecei a convidá-lo para os eventos políticos e ele está adorando, assim como os apoiadores adoram ele, a ponto de quando ele não vai, eu ser cobrado".

Homofobia

Lamentavelmente, a vida de um LGBTQIA+ nem sempre é fácil. E com Celsinho não foi diferente. Ele revela que sofreu com a discriminação no passado. "Uma vez na vida profissional, meu chefe imediato me disse que o superior dele exigira minha demissão por ser gay e isso se alastrou em todo o ambiente. Foi quando eu realmente senti o peso da homofobia. Foi muito humilhante e constrangedor. Estou estudando o momento certo para tomar as providências, pois homofóbicos não passarão", ressalta. 

"Na minha adolescência, vários 'amigos' faziam brincadeiras veladas e eu reagia à altura; Na minha família, eu já fui chantageado a pagar dinheiro pra essa pessoa não contar a meus pais que eu era gay. Chutei o pau da barraca e denunciei a minha mãe; Uma das vezes na política, eu ocupava um cargo e uma colega de trabalho me chamou no canto pra me contar que nosso chefe de forma ríspida intimou-a a responder se eu era gay: 'Me diga, me diga. Ele é gay ou não é?'", completa.

O apresentador já havia incorporado políticas voltadas ao público LGBTQIA+ no programa de governo. Caso seja eleito prefeito de Salvador, Celsinho afirma que o carro chefe será a educação. "Investiremos muito, também, no público LGBTQIA+ por não permanecerem nas escolas, que se tornam excludentes".

Leia a entrevista completa:

BNews - Por que não existem tantos LGBTs no meio político? A homofobia contribui para isso?

Celsinho Cotrim - Por causa do preconceito, não existem tantos LGBTQIA+ assumidos no meio político. É preciso ser muito macho para ser gay numa sociedade extremamente preconceituosa.

BNews - Quais são as suas propostas para a comunidade LGBTQIA+ em Salvador? O que precisa ser feito?

Celsinho Cotrim - No meu governo e de Popó, o carro chefe será a educação e investiremos muito, também, no público LGBTQIA+ por não permanecerem nas escolas, que se tornam excludentes. Também é compromisso nosso: maior visibilidade à causa LGBTQIA+; ações de combate à LGBTFobia; ações de incentivo ao trabalho principalmente às pessoas trans e travestis; acesso a programas de incentivo ao estudo e profissionalização; atendimento para a Saúde da mulher trans diferenciado, assim como existe de forma específica para as mulheres; projetos de desenvolvimento local que promova o respeito às diferenças, e assegure avanços nas pautas LGBTQIA+, em especial no que se refere à segurança; criminalização da homofobia; promoção de políticas de respeito às diferenças; luta pelo fim da criminalização da homossexualidade; saúde específica com medicamentos, principalmente para as trans; políticas de emprego e renda para essa população que se encontra em vulnerabilidade social; a criminalização da homo-lesbo-bi-transfobia; reconhecimento da identidade de gênero que inclui a questão do nome social; a luta para que a condição das identidades trans não seja considerada doença; o casamento civil igualitário; permissão de adoção de crianças por casais homoafetivos, entre outras. Portanto, “somos diferentes, somos iguais”

"Uma vez na vida profissional, meu chefe imediato me disse que o superior dele exigira minha demissão por ser gay e isso se alastrou em todo o ambiente. Foi quando eu realmente senti o peso da homofobia"

BNews - Você já sofreu algum tipo de discriminação?

Celsinho Cotrim - Várias vezes. Vou dar alguns exemplos na minha vida pessoal, profissional e política: Uma vez na vida profissional, meu chefe imediato me disse que o superior dele exigira minha demissão por ser gay e isso se alastrou em todo o ambiente. Foi quando eu realmente senti o peso da homofobia. Foi muito humilhante e constrangedor. Estou estudando o momento certo para tomar as providências, pois homofóbicos não passarão; Na minha adolescência, vários 'amigos' faziam brincadeiras veladas e eu reagia à altura; Na minha família, eu já fui chantageado a pagar dinheiro pra essa pessoa não contar a meus pais que eu era gay. Chutei o pau da barraca e denunciei a minha mãe; Uma das vezes na política, eu ocupava um cargo e uma colega de trabalho me chamou no canto pra me contar que nosso chefe de forma ríspida intimou-a a responder se eu era gay: “Me diga, me diga. Ele é gay ou não é?”

BNews - O seu marido está engajado na sua campanha? Como ele está encarando o seu momento atual?

Celsinho Cotrim - Super engajado. Eu sou o homem mais feliz do mundo por ter ele em minha vida. São 11 anos de muito amor, companheirismo, cumplicidade, acolhimento, apoio e estímulo à todas as ideias um do outro. Ele está encarando minha candidatura a prefeito de forma muito tranquila e entusiasmada. Comecei a convidá-lo para os eventos políticos e ele está adorando, assim como os apoiadores adoram ele, a ponto de quando ele não vai, eu ser cobrado.

"Eu sou o homem mais feliz do mundo por ter ele em minha vida. São 11 anos de muito amor, companheirismo, cumplicidade, acolhimento, apoio e estímulo à todas as ideias um do outro"

BNews - Popó, o seu vice, também tem um filho LGBT. Isso contribuiu também para que a aliança fosse selada?

Celsinho Cotrim - Popó e muito lindo, é muito especial. O olhar dele para o mundo é algo surreal. Ele é muito gentil, sensível, humano, acolhedor, amoroso, respeitoso e protetor. A forma como ele lidou com seu filho Juanzinho mostrou todas essas características. Claro, que essa sensibilidade com o outro deve ter tido muito influência, mas, acho que outros elementos pesaram na escolha a exemplo de representarmos a nova política, de termos o mesmo ideal de  sociedade mais justa, fraterna e igual e que respeite a todos e a todas.

BNews - Pretende incorporar esse tema mais ativamente na campanha?

Celsinho Cotrim - Esse tema faz parte da minha história de vida, pois, eu sempre defendi e defenderei as minorias.

Classificação Indicativa: Livre

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