Denúncia

Ambulantes das praias de Salvador estão cobrando preços exorbitantes no Kit

Publicado em 12/01/2015, às 06h23   Amanda Sant'ana (Twitter: @amandasmota)



Sem barracas de praia há quase três anos, em Salvador, ir à praia agora virou lazer de luxo, já que a extensa Orla da capital baiana se tornou comércio até para se ter sombra. Pisou na areia, tem que pagar. Ou paga e senta ou fica de pé. Essa é a nova regra na qual os barraqueiros estipularam ao começarem a alugar os kit's que variam de preço e podem chegar até a R$ 50.
De forma gratuita, no ano passado a prefeitura de Salvador distribuiu cadeiras e sombreiros aos vendedores que atuam nas praias da capital e a orientação era que os equipamentos fossem disponibilizados à população, também de forma gratuita. Mas, na prática, é bem diferente. Os comerciantes cobram pelo uso das cadeiras e sombreiros, afastando baianos e turistas do lazer.
Barraqueiro há 15 anos - antes proprietário da barraca Cabana do Dodô, em Jaguaribe -, Valdivino Gomes colocou seu ponto na praia para garantir a receita do mês. Vendendo apenas água, refrigerante e cerveja, o ambulante credenciado garante que a cobrança pelo aluguel é o lucro que tira para pagar o valor diário do carreto, que desloca o material de São Cristóvão para Jaguaribe por R$ 100.
“Preciso tirar esse prejuízo por dia que pra mim é grande. Somos proibidos de vender comida, apenas líquidos, o que para nós não rende quase nada. Às vezes nem compensa vir na semana, mais no verão a gente trabalha pesado para garantir as outras estações. Quando eu tinha a barraca nunca cobrei aluguel de mesa porque sempre pude vender tudo, agora somos limitados e então precisamos ter nosso lucro”, contou Valvidio
De acordo com seu funcionário, José da Cruz, no aluguel de segunda a sábado é cobrado o valor de R$ 10, já aos domingos, R$ 20: “Estamos cobrando um preço baixo e justo e mesmo assim os clientes reclamam. Pior são os barraqueiros de outras praias, como em Piatã, que chegam a cobrar R$ 50 pelo Kit”, revelou. “Não concordo com esse preço abusivo que estão cobrando em outros lugares, a menos que a pessoa traga algo de casa, aí sim, é justo o valor cobrado”, completou Vivaldo.
Próximo do espaço de Vivaldo, uma barraqueira que não quis se identificar, afirmou que quem usufrui dos kit's dela não pagam pelo aluguel, mas pelo que consome. Entretanto, uma turma de soteropolitanos que mora fora contradisse Vivaldo. Eles disseram terem sido avisados de que pagariam R$ 20 pelo uso das cadeiras, mesa e sombreiro.
“Viemos na praia e não vamos ficar em pé, né? Acho indecente essa cobrança e não concordo. Poderia ser cobrada uma taxa por ser o trabalho deles, mas, não nesse valor absurdo”, disse a professora que hoje mora em Portugal, Adriana Silva, 40 anos. “Nunca vi, em lugar algum, se cobrar um valor tão alto. Isso nos afasta da opção de lazer, praia. Ficamos inibidos até de vir. Por mim não volto mais”, declarou o amigo e engenheiro civil, Hevert Pires, 39 anos.
Fugindo do comércio local, os turistas de Bauru, em São Paulo, que já conhecem as novas regras das praias de Salvador, decidiram levar seu kit e aproveitar o dia sem ser incomodados. Pela segunda vez em Salvador, eles acreditam que tudo isso acontece por conta da falta de fiscalização da Prefeitura de Salvador.
“Agora você pense comigo. Eles recebem o material gratuito da prefeitura e depois vem nos cobrar por um material que não tiveram custo. É justo que vendam seus produtos, mas cobrar pelo que não pagaram, isso não existe. Há uns dois anos, na praia de Stella Mares, quase fomos agredidos porque queriam nos cobrar o valor de R$ 10 pelo kit, sem nos avisar pela taxa. Isso tem que acabar urgente, devolvendo ao cidadão o direito de ir à praia, sem ter que ficar sendo coagido”, disse Fernando Aboim.
O paulista comentou ainda que enquanto puderem levar o kit particular à praia, irão levar, caso contrário, buscarão outros destinos fora de Salvador: “Já fomos a outras praias e as que não tem barracas de praia não existe essa obrigação em alugar um Kit, que é público. Em todo o nordeste, por onde passamos, percebemos que essa obrigação só existe aqui”.
Acompanhante de Fernando, a advogada, Andréia Magnabosco, se mostrou bastante indignada com a situação: “Não temos liberdade de ficar na praia e curtí-la. Somos obrigados a consumir ou a pagar o Kit que é gratuito, ou seja, para ir à praia agora tem que pagar. Isso nos afasta deste lazer. Acho que deveria ter uma fiscalização pesada para coibir esse tipo de conduta. Todos que vêm à praia acabam consumindo, porém é melhor consumir sem imposição”.
A redação do Bocão News entrou em contato com a secretária da Semop (Secretaria Municipal de Ordem Pública), Rosemma Maluf, porém não obteve êxito. A assessoria de comunicação da Secretaria também não foi localizada.
Publicada no dia 11 de janeiro de 2015, às 13h49

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