Justiça

A eleição da OAB importa à sociedade

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Publicado em 13/11/2018, às 15h20      Thiago Lopes Cardoso Campos*

No geral, as pessoas estão cansadas dos virulentos processos eleitorais vivenciados nos últimos anos. Alguns analistas apontam que isso se dá em razão da baixa cultura democrática em vigor no país; outros que o conteúdo e a forma como são debatidas os projetos não exprimem confiança, desacreditando a maior parte das propostas; outros ainda apontam a ausência plena de qualquer debate entre os candidatos, dizendo existir apenas um “vale tudo” de desconstrução do outro para a ascensão ao poder. Qualquer que seja a análise, contudo, não poderá deixar de reforçar a importância de um processo democrático amplo e justo para o desenvolvimento do país.

Após o fim de um processo eleitoral no âmbito nacional, milhares de advogados se organizam para, no próximo dia 21 de novembro, elegerem os representantes das Subseções e Seções da OAB. A eleição da OAB é de suma importância para o futuro democrático do Brasil. Não se trata apenas da eleição de um conselho profissional, mas de um representante da sociedade, com legitimidade moral e jurídica, para defender a Constituição e os direitos e garantias individuais. 

A OAB tem, na ordem constitucional, um papel primordial na defesa da democracia contra as ameaças autoritárias que possam violar a Constituição, especialmente em tempos como o atual, em que proliferam notícias falsas, ameaças à Justiça, apologia à tortura, racismos e homofobia, além de tantas outras ameaças ao pacto constitucional de 1988.

É por isso que o debate em torno da eleição para a Ordem não pode se resumir à discussão sobre propostas ligadas apenas à melhoria da eficiência da gestão, criação de metas e resultados administrativos. O que se espera é que os candidatos reafirmem o papel da instituição na defesa da Constituição, da ordem jurídica, do Estado democrático de direito, dos direitos humanos e da justiça social.

Apesar de reconhecer a tendência que, se tratando de uma eleição, o foco das propostas se limite aos interesses daqueles que compõem o colégio eleitoral, é preciso fugir da armadilha do discurso eminentemente corporativista, ampliando a direção das falas públicas para toda a sociedade. A partir do reconhecimento e da importância do seu papel social, é que a Ordem resgatará a sua legitimidade e poderá voltar a ser o farol da democracia, tão necessário ao momento histórico atual.
Isso deve ser feito sem vincular a Ordem a qualquer partido político ou ideologia, mas lembrando o papel histórico que exercemos em momentos de crises institucionais, na defesa das leis e da sociedade, com altivez, coragem e disposição para o bom combate.

A entidade, que teve papel decisivo para a redemocratização do país e o restabelecimento do Estado democrático de direito, tendo como seu baluarte o emitente e saudoso jurista Raymundo Faoro, não pode permanecer calada diante dos fatos graves que nos assolam. 

Permitir que a eleição para a Ordem seja apenas e tão somente um processo de escolha de um representante de uma categoria profissional é rebaixar a sua importância e corroborar com os que querem ver a sua atuação reduzida e deslegitimada perante a população brasileira.

*Advogado inscrito na OAB/BA e na OAB/DF

Classificação Indicativa: Livre


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