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Com reforma da orla, funcionários de restaurantes da Ribeira podem ser demitidos

Trabalhadores pedem permissão para usar mesas e cadeiras na parte externa dos estabelecimentos  |  

Publicado em 23/11/2013, às 13h09      Marivaldo Filho (Twitter: @marivaldofilho)

Quando o prefeito ACM Neto apresentou o projeto de requalificação da orla de Salvador animou moradores e comerciantes das praias da capital. A promessa era que de as obras seriam realizadas em etapas e modernizaria as praias soteropolitanas. Na Ribeira, até a população e os donos de restaurantes colherem os frutos positivos da reforma, estão passando por muitas dificuldades. A retirada de toldos, mesas e cadeiras da parte externa dos restaurantes está causando prejuízos aos proprietários dos estabelecimentos. Com a repentina queda no faturamento, se a situação não mudar, cerca de 120 trabalhadores dos dez restaurantes da orla da Ribeira correm o risco de serem demitidos.
 
A maior preocupação dos proprietários de restaurantes é em relação à impossibilidade de colocar as mesas e cadeiras na parte externa dos estabelecimentos. Reivindicam que, ao menos, possam vender do lado de fora nos períodos em que as obras não estão sendo executadas, de segunda a sexta-feira, a partir das 17h, e nos finais de semana durante todo o dia.

 
Para quem conhece a orla da Ribeira, o cenário é assustador. As mesas e cadeiras deram lugar à poeira, tratores e funcionários derrubando árvores e transformando o local. O resultado é que, depois da última quarta-feira (20), dia em que os toldos foram retirados pela prefeitura, os clientes dos restaurantes sumiram. 
 
Se a situação continuar como está, a perspectiva dos moradores locais não é das mais otimistas. Segundo os donos dos estabelecimentos, inevitavelmente, as demissões acontecerão. Além da falta de prazo para a conclusão das obras, os comerciantes alegam que falta até dinheiro para pagar as rescisões e demitir. 

É consenso entre os vendedores que a requalificação da orla será benéfica para a comunidade, mas a forma com que está sendo imposta pela Prefeitura de Salvador, através da Secretária Municipal da Ordem Pública (Semop), é contestada. 

Para a proprietária do Bar e Restaurante La Gula, Márcia Galo, os donos dos estabelecimentos não terão outra opção senão demitir os funcionários. “Esta situação está muito complicada para todos nós. Procuramos a Semop várias vezes e não sabemos qual é a previsão para a conclusão da obra. Desta forma, precisaremos demitir”, lamentou.

 
A mesma opinião tem a dona do Restaurante Sol e Mar, Lúcia Fernandes, que lamenta os estabelecimentos vazios. “Nosso movimento caiu muito. Sabemos que vai melhorar quando a reforma for concluída, mas, até lá, como sustentaremos os nossos funcionários? Como pagaremos o 13º salário e os direitos dos trabalhadores. A prefeitura precisa pensar nisso. Estamos sem opção”, reclamou.
 
Lentidão
 
Além de reclamar da impossibilidade de vender fora dos estabelecimentos, o garçom do Restaurante Veleiros, Carlos Nascimento, há 11 anos trabalhando no local, criticou a lentidão nas obras e a quantidade insuficiente de operários.
 

“Estamos começando a sentir as dificuldades e estamos todos muito preocupados com o que vem por aí. A realidade é que o movimento caiu 99% e as obras estão sendo executadas em uma lentidão absurda. Tenho família e não sei qual vai ser meu futuro se a situação continuar como está”, argumentou Carlos Nascimento.

 

O funcionário do Restaurante Sol e Mar, Manoel Pedro Silva, também revelou a preocupação com a situação dos estabelecimentos. “Temos as nossas contas a pagar e as nossas obrigações. Queremos poder trabalhar no período em que as obras não estão acontecendo. Não é pedir demais e não vai atrapalhar ninguém. Pode parecer pouco, mas pode salvar o emprego de muita gente”, reivindicou.
 
Participação popular
 
Outro ponto criticado por populares e trabalhadores da Ribeira foi a falta de participação popular no desenvolvimento do projeto de revitalização. O morador do bairro, José Alberto, que estava tentando praticar exercícios na orla, reclamou da retirada das árvores.
 


“ACM Neto perguntou a alguém se queríamos que as árvores fossem retiradas? São árvores históricas. Acho que faltou perguntar como nós queríamos. Eu pratico esporte sempre, passo aqui hoje e vejo as árvores derrubadas. É um absurdo”, lamentou o morador.
 

 
A proprietária do Restaurante Rosa dos Mares, Adriana Pasolim, classificou a situação como “muito crítica”. Para ela, o que foi prometido não está sendo cumprido. “É desesperador. Estou muito triste e depressiva por causa disso. De onde vou tirar dinheiro para pagar os funcionários? Se continuar desse jeito, vou ter que demitir e não tenho nem recurso para pagar a rescisão. A prefeitura prometeu fazer por etapas e está fazendo desta forma”, reclamou.
 


 
Detalhes da obra
 
O trecho entre a Praia do Divino até o Bogari teve parte do asfalto retirado e pedras estão sendo colocadas junto com colchões de areia para fixar o piso compartilhado. De acordo com a prefeitura, também estão sendo finalizados estudos, avaliando a possibilidade de passar a fiação e cabeamento por uma vala comum subterrânea.  Os gastos da prefeitura com a recuperação da orla da Ribeira somam R$8 milhões.


A prefeitura prometeu dar um quiosque com 12 mesas para cada dono de restaurante na orla da Ribeira. Até a inauguração, os proprietários de estabelecimentos e funcionários lutarão pela sobrevivência dos seus pontos de comércio. 

 
A requalificação total da orla de Salvador está orçada em aproximadamente, R$ 111 milhões e prevê implantação de 50 mil m² de novas calçadas, 16 mil m² de espaço compartilhado, projeto que deverá ser implantado na Orla da Barra e da Ribeira, onde pedestres e veículos dividirão o mesmo espaço público. Além disto, a nova orla terá seis quilômetros de ciclovias, 10 quilômetros com nova iluminação pública, além de quadras, praças e restaurantes. A previsão é que todas as obras sejam concluídas até maio de 2014.

Confira o vídeo divulgado pela prefeitura dos projetos de requalificação da obra de Salvador.

 


Nota originalmente postada às 19h do dia 22

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