Política

Baianas veem avanços e gargalos após 7 anos de Lei Maria da Penha

Vice-prefeita e diretoras de órgãos de políticas femininas avaliam impacto da legislação ao Bocão News  |  

Publicado em 08/08/2013, às 08h26      Lucas Esteves (Twitter: @lucasesteves)

 
Em 7 de agosto de 2006, o ex-presidente Lula sancionou a Lei 11.340 e criou a terceira mais avançada legislação do mundo em relação aos direitos e proteção jurídica das mulheres, a Lei Maria da Penha. Sete anos após o fato, baianas envolvidas na defesa das políticas femininas avaliam o impacto das novas regras na sociedade e decretam que, apesar de uma série de inegáveis avanços, promover o fim da violência de gênero é uma batalha que ainda terá muitos capítulos pela frente dadas as dificuldades naturais de um processo ainda bastante novo.
 
Apesar de a criação das primeiras Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher (Deam) datarem dos anos 90, foi apenas em 2003 que o Governo Federal instituiu como política de Estado a promoção dos direitos e políticas femininas. Desde então, a luta ficou conhecida e a Lei Maria da Penha, curiosamente, se tornou a legislação mais difundida em todo o Brasil. Não há quem more no país e não tenha sequer ouvido falar dela e o que defende de acordo com estatísticas oficiais.
 
Esta difusão, de acordo com as entrevistadas pelo Bocão News, já conseguiu estabelecer uma mudança de mentalidade: a ideia de que a agressão à mulher é crime. “O homem já consegue entender que bater na mulher é errado. Assim, ele pensa duas vezes antes de dar o primeiro tapa, antes de fazer divisão patrimonial. E a mulher já consegue saber que não é aceitável apanhar do marido”, argumenta a coordenadora de Ações Temáticas da Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres, Maria Alice Bittencourt.
 
Para a superintendente municipal de Políticas para as Mulheres, Mônica Kalile, o conhecimento da lei faz com que as mulheres progressivamente refinem sua auto-consciência. “Acabou essa ideia de ‘ruim com eles, pior sem eles (homens)’. Hoje a mulher discute, sabe que não precisa mais ser oprimida, não tem mais medo, não precisa aceitar a agressão por conta de falta de autonomia financeira”, argumenta.
 
Entretanto, todo o trabalho esbarra em uma série de dificuldades estruturais. Em especial destacam-se a dificuldade em dotar o estado de mais unidades para receber as denúncias, além da necessidade de ampliar as varas especiais na Justiça para julgar os processos já existentes. Outra frente é continuar a incentivar as mulheres a denunciar as agressões, uma vez que a Região Metropolitana de Salvador, por exemplo, concentra 80% da violência contra a mulher já localizada na Bahia.
 
“Não tem como negar que melhorou, mas temos muito ainda a fazer. A violência contra a mulher não tem classe social. Em todos os níveis da sociedade há violência contra a mulher. Salvador é a 5ª cidade em violência doméstica no Brasil”, avalia a vice-prefeita de Salvador, Célia Sacramento (PV). Ela defende, por exemplo, que haja também uma política de psicologia para o homem, que ainda precisa entender melhor seu papel diante das companheiras.
 
A vice-prefeita alega que em diversos bairros populares há um costume de associar o final das atividades profissionais com o consumo exagerado de álcool. Consequentemente, muitas vezes o costume termina em violência. Por conta disto, os órgãos públicos precisam dotar os homens de dispositivos de acompanhamento que minorem o sofrimento causado com desemprego e pobreza para fazer com que as frustrações da vida não se transformem em agressões em casa.
 
A Justiça, por sua vez, também representa um grande “gargalo” para a extinção do problema da impunidade. Com apenas uma vara especializada na Bahia, o Poder Judiciário tem 13 mil processos em curso. A iminente criação de uma outra vara em Feira de Santana deverá desafogar o trabalho, mas de acordo com Maria Alice Bittencourt, há em curso um acordo entre o Governo do Estado e o Tribunal de Justiça para a criação de oito novas varas em todo o Estado.
 
“Fizemos o pedido junto à desembargadora Nágila Brito para a criação de oito varas especializadas: em Salvador, Camaçari, Amargosa, Porto Seguro, Itabuna, Barreiras, Juazeiro e Vitória da Conquista. Se estas varas forem criadas, vai desafogar muito e os processos terão maior possibilidade de andar”, prevê. As prisões, processos e outras providências relativas aos casos de violência contra a mulher têm sido efetuados por meio da atuação da sociedade junto ao telefone gratuito 180, que concentra o recebimento de denúncias em todo o país.
 
Estrutura municipal e estadual - Em Salvador, a superintendência de Políticas para as Mulheres completará 8 anos em 2013 com a promessa de reedição do mais antigo Centro de Referência (CR) feminino, o Loreta Valadares. O novo espaço funcionará nos próximos meses nos Barris, em frente à Delegacia do Idoso, e trará equipes para atendimento multidisciplinar às vítimas dos abusos e também aos filhos que sofrem com as agressões. O órgão está vinculado ao gabinete do prefeito e organiza as atuações das secretarias para proteção feminina.
 
Já no Governo do Estado, em 2007 começou o processo de ampliação dos CRs, que desde então eram apenas dois, além de criar a secretaria especializada. Atualmente, 19 CRs em todo o estado – e mais quatro em fase de implantação até o ano que vem em Santa Maria da Vitória, Jacobina, Ilhéus e Itabuna. As Deams foram ampliadas de duas para 15 em toda a Bahia em seis anos, enquanto a Defensoria Pública do Estado passou a dar maior atenção aos casos através do Núcleo Especial de Defesa à Mulher.

*Nota originalmente publicada às 17h41 do dia 07/08

Classificação Indicativa: Livre


Tags Bahia Salvador aniversário Lei Maria da Penha balanço Secretaria de Políticas para as Mulheres Célia Sacramento impacto maria alice bittencourt mônica kalile realizações superintendência de política para as mulheres 7 anos