Salvador

Professora de Português 'mora' no Aeroporto de Salvador após se afastar das funções por problemas de saúde

Oceya ensinava no Colégio Estadual Thales de Azevedo, na capital baiana  |  Arquivo BNews

Publicado em 29/04/2021, às 10h19   Arquivo BNews   Redação BNews

Formada em letras pela Universidade Católica do Salvador (Ucsal), a professora de Língua Portuguesa Oceya de Souza, 55 anos, dorme dentro do Aeroporto Internacional de Salvador, driblando a segurança e tentando se acomodar nas cadeiras azuis, em trocadores de fralda dos banheiros femininos ou em qualquer canto que lhe permita descansar.

A história dela foi contada em matéria do TAB Uol, assinada pelo jornalista baiano Alexandre Lyrio e publicada nesta quinta-feira (29), que mostra a dura realidade de quem tenta sobreviver na pandemia. Durante o dia, a professora fica sentada, com a cabeça apoiada na sacola plástica que reúne todos os pertences que tem, além de uma bolsa e a manta que usa para não passar tanto frio.

A rotina de Oceya é tentar, durante o dia, conseguir mantimentos em bairros vizinhos ao Aeroporto, precisando, para isso, atravessar o famoso bambuzal. Ao UOL, ela disse que um grupo de amigos e conhecidos a ajudam, formado por professores e feirantes, que doam alimentos à docente.

Em janeiro, a professora não conseguiu mais pagar o aluguel e recorreu ao teto do Aeroporto como morada, apesar de já ter passado outras ‘temporadas’ no local e até na rodoviária de Salvador. Mas, com a pandemia, o período de estadia emprestada nunca foi tão longo

Ela teve covid-19 em maio  do ano passado, quando chegou a ser internada, necessitou de aporte de oxigênio, mas não foi intubada. Após a alta, teve a ajuda de um projeto chamado Pós Covid, que lhe deu a possibilidade de alugar um quarto por alguns meses.

A professora contou à reportagem que o motivo de ter ido parar nas ruas foi, basicamente, de saúde. Oceya disse que foi diagnosticada com fibromialgia, síndrome caracterizada principalmente por dores crônicas e generalizadas pelo corpo, e que foi a doença que a afastou das atividades no colégio Thales de Azevedo.

Ainda segundo ela, o pedido de aposentadoria feito à Secretaria de Educação do Estado da Bahia não teria sido aceito. A professora garantiu ao TAB Uol que tentou Justiça, Ministério Público e Defensoria Pública para resolver o imbróglio com a secretaria de Educação, à qual ainda estaria ligada, motivo pelo qual não teria conseguido receber o auxílio emergencial.

De acordo com a Secretaria de Educação do Estado da Bahia, Oceya de Souza é servidora desde 2000 e deu aula em colégios da capital baiana, mas após tirar sucessivas licenças médicas e afastamentos por licença-prêmio, ausentou-se das funções, "ficando quatro meses fora da folha (de outubro/2009 a fevereiro/2010)".

A SEC ainda afirmou ao Uol que o pagamento foi restabelecido em março de 2010, por um processo judicial, quando ela voltou a receber salário mesmo ausente. Em 2013, pediu exoneração, que não foi atendida por suposto abandono de cargo. A pasta ainda explicou que os pagamentos foram suspensos em 2018, "porque a servidora não realizou o recadastramento obrigatório".

A secretaria afirmou, por fim, que, em duas ocasiões, Oceya faltou à perícia médica necessária para dar encaminhamento ao processo de aposentadoria, o que ela negou ao TAB Uol e disse que, na verdade, houve confusão no preenchimento da documentação.

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