Política

O DEM e a síndrome reversa da Viúva Porcina

Imagem O DEM e a síndrome reversa da Viúva Porcina
Bnews - Divulgação

Publicado em 05/08/2019, às 19h33   Victor Pinto*


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Devidamente escandalosa, a Viúva Porcina, personagem épica da teledramaturgia brasileira encenada por Regina Duarte em Roque Santeiro, do glorioso Dias Gomes, era conhecida como “foi sem ter sido”. Explico: tida como viúva sem ter realmente sido, pois o personagem principal da trama, Roque, não morreu defendendo a cidade de Asa Branca como muitos pensavam. O mesmo acontece na relação do DEM com o presidente Jair Bolsonaro (PSL), contudo, essa síndrome é reversa. 

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), presidente nacional do DEM, bateu o pé e em entrevista à imprensa na semana passada afirmou não ser a sigla integrante da base do presidente. Palavras do ainda chefe do Palácio Thomé de Souza: “Quem é que está apoiando? Em que posicionamento? Nós apoiamos? Você me viu apoiar? Você viu alguém do partido apoiar? Não estou na base... Isso aí é coisa sua, me perdoe. Você está querendo colocar palavras na boca do presidente nacional do partido. Não vou deixar. Não estou na base", disse ao responder uma repórter quando indagado. 

Se a Viúva Porcina foi sem ter sido, o DEM não foi sendo que é. Apesar da negativa do presidente da legenda, o DEM é mais base do que o próprio PSL poderia ser nas relações da conjuntura do Congresso. Há indicações de ministros, mesmo sem esses terem passado no crivo do partido, é notado um alinhamento em discursos, nas votações em comissões, em articulações é possível ver toda uma tendência favorável a Bolsonaro, mesmo diante de embates duros capitaneados pelo presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM). Vale lembrar que a presidência do Senado também é do DEM, antigo PFL, mesma sigla na qual o chefe da Nação já fez parte enquanto deputado. 

Não podemos esquecer a foto do prefeito ACM Neto gargalhando ao receber um caloroso abraço do presidente após reunião no Planalto ou até mesmo os acenos feitos por Bolsonaro que rasgou sedas à imagem do prefeito de Salvador e chegou a alçá-lo a um presidente da República no futuro, durante a cerimônia de inauguração do aeroporto de Vitória da Conquista, repleto, majoritariamente, de aliados do chefe do Executivo soteropolitano. 

A votação da Reforma da Previdência foi outro aceno, mas o texto só passou pelo aval de Maia, que conduziu o processo.

Se com tantos gestos o DEM não assume o seu apoio formal ao governo, imagine se apoiasse. Chegariam a ninar no colo o presidente, o mesmo que faz fogo amigo e se coloca como membro da nova política e precisa das muletas da velha para poder continuar o mandato.

O DEM não quer deixar digitais caso o barco afunde, pois pensa em articulações futuras. Nunca foi membro orgânico do clã bolsonarista, mas para sua sobrevivência precisa dos acordos extraoficiais. Está em uma relação sem compromisso. Para os adolescentes o que poderia ser chamado do bom e velho “ficar”, uma zona entre o início da paquera e a oficialização do namoro.

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. Atua na cobertura política em sites e rádios de Salvador. Twitter: @victordojornal

Classificação Indicativa: Livre

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