Artigo
Publicado em 28/10/2019, às 09h11 Victor Pinto*
Não, Jaques Wagner não tem demonstrado um pingo de interesse real de retornar ao comando do governo do Estado. O movimento é outro, por mais que os mais próximos do senador neguem, há uma inclinação para o petista assumir o controle da sucessão de 2022 e baixar a bola dos aliados mais ensaiados pelo poder.
O Queremismo, pelo que aprendi nas minhas leituras de Thomas Skidmore, foi um movimento de 1945 que buscava dar continuidade à presidência de Getúlio Vargas no Brasil. A ação dos aliados fervorosos, eleitores e políticos mais achegados tinha o slogan “Queremos Getúlio”, o que acabou batizando o movimento. Não vingou, mas ficou marcado na história.
No último Congresso Estadual do PT, na Escola de Arquitetura, o que se viu foi justamente isso, os petistas ecoando a palavra “Governador” quando Jaques Wagner fora anunciado. O novo cabelo branco da Bahia falou com sorriso no rosto: “já entendi o recado”.
Na mesa estavam membros de vários partidos da coalizão, principalmente João Leão, vice-governador, manda chuva do PP e um dos que têm pleiteado a vaga principal da futura chapa majoritária do governo. Na saída, o questionei sobre o fato, o pepista saiu pela tangente e disse que todos têm o direito de apresentar seus nomes.
O assunto de apaziguar a composição, pois Wagner é um dos pouquíssimos nomes de consenso no atual cenário, surge também no processo de quebra de naturalização construída ao nome do senador Otto Alencar para o posto.
Numa entrevista com o presidente estadual do PT, Éden Valadares, ao BNews, quando o questionei se o movimento seria um balão de ensaio, o petista negou veemente. Chamou atenção para as qualidades e o currículo do seu assessorado e falou que ele nunca se prestaria a esse papel. Não sei. Tenho minhas dúvidas.
A unção de Éden ao posto maior da sigla baiana reforça a tese da volta do comando da articulação para Wagner como ponto central de toda construção futura. Sentar com os partidos e conduzir a composição. Segurar o protagonismo do PT, apesar dos desgastes de anos no poder que isso poderá provocar. A experiência, a aceitação popular, a composição de figura de Rui, a herança do lulismo, a habilidade de negociar com situação e oposição lhe dão totais credenciais para tal. Por mais que não tenha ficado inerte nos últimos tempos, volta ao poder de cacique mor.
O atual governador não ficaria neutralizado das medidas e tem força para colocar voz e voto na articulação, mas tem sonhado o sonho de Ícaro para voar à presidência da República, percebido em seus discursos nas entrevistas para veículos nacionais, como o Central Globo News recentemente. Caso não seja alçado, tem todo o direito de pleitear o Senado, o que provocaria um rearranjo denso na futura chapa de 2022.
Os aliados acompanham de perto a questão, contudo, há uma eleição no meio do caminho. Tudo ocorre dentro da previsibilidade do percurso, mas como política é nuvem, daqui uns dias tudo pode tá de outro jeito.
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