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Pedrada de todo o lado, mas a gente segue

Imagem Pedrada de todo o lado, mas a gente segue
É a lógica de que jornalista bom é aquele que fala bem de mim. A partir do momento que me critica, não presta mais  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 02/12/2019, às 14h48   Victor Pinto*


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Por mais que chamem a imprensa de quarto poder, na correlação de forças entre o tripé desenvolvido do Montesquieu do Executivo, Legislativo e Judiciário, os meios de comunicação, também vigiados e atacados, ajudam a ser os moderadores na correlação política validada pelo consumo popular da informação. Isso não é um absolutismo, mas uma espécie extraoficial da teoria dos freios e contrapesos.

O que o presidente Bolsonaro (sem partido) faz com a imprensa e os meios de produção de conteúdo vai na contramão de um dever assegurado na Constituição da livre expressão e da liberdade de imprensa. Não aceita ser confrontado com críticas ou investigação noticiada. Apesar de muitos veículos serem os criadores, e colhem agora os frutos da plantação, tentar sufocar o papel da imprensa é abominável.

Mas em questões de extremos na política, há mudança dos personagens, mas as táticas são as mesmas. Os petistas corroboraram com o igual discurso bolsonarista quando estavam no poder, quiçá as declarações dadas por Lula no poder e fora do poder, na cadeia ou fora dela.

Quando o jornalista faz uma matéria ou um artigo que ataque o PT, é reaça e os bolsominions vibram. Quando ocorre o contrário, bolsominions atacam e petistas/esquerdistas concordam. Nos meros comentários das matérias, quando se trata do online, cujo feedback é instantâneo, é percebido isso.

É a lógica de que jornalista bom é aquele que fala bem de mim. A partir do momento que me critica, não presta mais.

Sobre essa lógica da imprensa e relação com os políticos, não vou longe nos fatos recentes. Aprendemos nos estudos aprofundados nas mais diversas cadeiras da doutrina do jornalismo uma célebre teoria de Marshall McLuhan de que o meio é a mensagem, bem como a forma ou quem passa sugere também uma mensagem.

Um fato de repercussão do desdobramento da Faroeste, a operação Joia da Coroa, desencadeada pela Polícia Federal sob determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ) chamou atenção na última semana. Esse é aquele caso que apura o envolvimento de membros da alta corte baiana em um suposto esquema de venda de sentença em uma situação que envolve grilagem de terras no oeste baiano.

A PF encontrou um bilhete que seria endereçado ao governador Rui Costa (PT) entre os pertences da ex-presidente do Tribunal de Justiça, Maria do Socorro. Há um fato. Durante a inauguração de uma policlínica, em coletiva, o chefe do Palácio de Ondina foi instigado pelo repórter Bruno Luiz do BNews a prestar um comentário sobre o fato. Eu não estava, mas ouvi o áudio do trecho. O petista foi extremamente raivoso na resposta e acusou o repórter de fazer ilações, questionamento e esse não o fez. Ficou incomodado com o assunto e até reclamou que a pergunta não foi de saúde, motivo da pauta. Típico do bolsonarismo.

No âmbito da política e nos causos que tomamos conhecimento ou estamos inteirados, o buraco é mais embaixo. Tem deputado, por exemplo, que adora arrotar possuir processos contra jornalistas como forma de coação. Faz questão de desfilar nos corredores do Legislativo contando nos dedos que processou esse ou aquele ou fez acordo, como se isso fosse uma vantagem a ser tirada. Outros, também do Legislativo, já se levantaram em motim para impedir ingresso de jornalista ao Plenário da Casa soteropolitana por este cumprir seu papel de divulgar determinado assunto apurado. Sem contar as inúmeras matérias que deixam de ser publicadas.

Demonizada perante a população, está cada vez mais difícil fazer a atividade do jornalismo. A perseguição do trabalho do jornalista, por mais que os envolvidos não gostem das pautas não determinadas por eles, já fez muito mais efeitos há tempos atrás. Desagradam a uns, mas informa uns tantos outros. Está difícil, mas, como diria Chico Buarque, em Meu Caro Amigo, a gente vai levando de teimoso e de pirraça. Ninguém segura esse rojão.

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. Atua na cobertura política em sites e rádios de Salvador. Twitter: @victordojornal

Classificação Indicativa: Livre

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