Artigo

Bárbara: baiana Iansã, raios e trovões

Imagem Bárbara: baiana Iansã, raios e trovões
O caruru é de Santa Bárbara ou Iansã? As duas são uma só, seu moço  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 04/12/2019, às 12h36   Jolivaldo Freitas


FacebookTwitterWhatsApp

É Santa Bárbara. É Iansã. Tanto fez e tanto faz, pois, ela atende da forma que for invocada, contanto que seja chamada com respeito e veneração, por ser santa e orixá. Hoje, como todo 4 de dezembro, seu dia, se a pessoa escutar direito - mesmo com o céu azul e sol resplandecente-, vai ouvir pelas bandas da Ilha de Itaparica ou Morro de São Paulo uma trovoada. E não se assuste se relampear do nada. Essas são as formas de chamar na chincha os seus devotos. Desde quando o culto à santa chegou com os portugueses à Bahia, e em seguida os africanos trouxeram a entidade, que sincretizou, uma expressão já mostrava que ela carecia de maior atenção. Dizia-se ao mau devoto: “Só se lembra de Santa Bárbara quando cai raios e vem trovão”.

Ela é também protetora nas batalhas, bastando pedir: “Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura”. Padroeira da artilharia. Bárbara nasceu na, hoje, Turquia no século III e foi condenada à morte por ter se convertido ao catolicismo.  Mas a Igreja Católica a escamoteou em 1729 dando o seu dia 4 para São Pedro Crisólogo. Não bastando, em meados do século passado ela saiu do calendário religioso porque o Vaticano considerou que eram muitas fakes news relativas à sua morte; relatos considerados exagerados e sem comprovação.

Mas, na Bahia ninguém ligou para o Papa. Desde o século XIX que sua festa ganhou corpo e apelo público, embora nunca tenha tido o privilégio de fazer parte do Ciclo das Festas Populares – com direito a festa de largo. Nos anos 1970 os festejos minguaram, até que no início deste novo século voltou a ganhar força com a oferta de carurus em casas de famílias, nos bregas (como fazia o Shangrilá, em Juazeiro), restaurantes e terreiros; com o Corpo de Bombeiros, do qual é padroeira, dando um upgrade ao evento, as camisas, lenços, saias e vestidos vermelhos voltaram a colorir o dia mágico. Interessante é que embora hoje não ocorra, durante muitos anos as baianas do acarajé coloriam seus tabuleiros, se perfumavam, faziam suas contrições e oferendas. Nem todos os terreiros faziam função.

Bom era ir lá no Mercado de Santa Bárbara, que antes pertencia à Nossa Senhora da Guia, na Baixa dos Sapateiros. E tome samba, capoeira, maculelê e carururu. Cervejas e batidas tinha de pegar nos bares ao lado e consumidas fora do ambiente. Festa feita por inciativa popular, com vaquinha, bingo e doações. O caruru é de Santa Bárbara ou Iansã? As duas são uma só, seu moço.

Escritor e jornalista. Autor de “Histórias da Bahia – Jeito Baianao” e “Baianidade...”. Email: [email protected]

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp

Tags