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Fuga de Capitais na Economia Brasileira e a incompetência do Governo Bolsonaro

Imagem Fuga de Capitais na Economia Brasileira e a incompetência do Governo Bolsonaro
Bnews - Divulgação

Publicado em 08/01/2020, às 12h46   Victor Andreoni e Cairo Andrade


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Ao adotar uma política de austeridade fiscal, em 2019, o governo brasileiro buscava assegurar o nível de confiança dos investidores no país. Muitas vezes foram apregoadas, nos mais diversos meios de comunicação, a necessidade de realizar a reforma da previdência e o congelamento dos gastos públicos como forma de atrair os investimentos para o Brasil. Contudo, após a realização da reforma da previdência e a manutenção da política de congelamento de gastos, a expectativa da retomada do crescimento econômico por meio da iniciativa privada não gerou os resultados esperados. Considerando principalmente o investimento externo, ao analisar o nível de investimento durante o primeiro ano de governo Bolsonaro, notamos uma queda dos investimentos em carteira e uma fuga de capitais do país.

Compreende-se como fuga de capital a saída de divisas (Dólar) internacionais da economia doméstica (Brasil) rumo a economias externas, ou seja, os investidores detentores de ativos na economia doméstica/nacional decidem por alocar os seus recursos em outros países. Isto pode ocorrer por diversas razões; por exemplo, a elevação da taxa de juros internacional pode fazer com que investidores sintam-se mais seguros em designar o seu dinheiro na economia externa em busca de melhores oportunidades de retornos financeiro. No entanto, atualmente a taxa de juros internacional é próxima de zero, chegando  até a ser negativa em alguns países. Outro fator que pode gerar  fuga de capital é uma instabilidade política no país, fato este que explica a atual situação do Brasil, quando houve uma recente fuga de capital do país por causa da conturbada gestão do governo Bolsonaro.

O primeiro ano do governo Bolsonaro está sendo marcado, além de muita instabilidade política, por baixa dinâmica na economia e grande fuga de capitais. Em artigo passado, mostramos que, em agosto, o IBovespa registrou a maior fuga de capital estrangeiro em pelo menos 23 anos, quando as saídas totalizaram R$ 10,79 bilhões. Já no início de novembro, foi novamente registrado uma grande fuga de capitais da Bolsa de Valores de São Paulo, no valor de R$ 533 milhões de reais.

O foco desse texto é a saída de capitais do país, por isso é importante fazer uma breve análise da balança de pagamentos brasileira. O acumulado do ano, de janeiro a novembro de 2019, apresenta déficit nas transações correntes, que é reflexo, essencialmente, dos resultados negativos na balança comercial e de serviços e renda. A balança comercial apresentou uma redução de 26,39%, saindo de US$ 47,07 bilhões (2018) para US$ 34,65 bilhões (2019). Os saldos das contas de capital e financeira também caíram, onde apenas a conta de capital mantém-se superavitária; a conta de capital apresentou redução de 16,49%, de US$ 0,42 bilhões (2018) para US$ 0,35 bilhões (2019), já a conta financeira teve um aprofundamento do seu déficit de 32,57%, saindo de US$ -36,37 bilhões (2018) para US$ -48,21 bilhões (2019).

Quando olhamos para o ingresso de IDE (investimento direto estrangeiro) no Brasil, vemos de uma forma mais acentuada a fuga de capitais do país. A queda de ingresso do IDE, no acumulado de janeiro a novembro de 2019, foi de 71,78% quando comparado ao mesmo período do ano de 2018, saindo de um total de US$ 19,02 bilhões em 2018, para apenas US$ 5,37 bilhões em 2019. vale ressaltar que a principal forma de investimentos estrangeiro na economia brasileira são investimentos em carteira, como ações e títulos. Estes por terem uma maior liquidez podem ser vendidos com maior facilidade caso ocorra uma fuga de capitais. 

Nem mesmo com a aprovação da reforma da previdência, ponto principal da política liberal comandada por Paulo Guedes, foi suficiente para trazer de volta o grande volume de investimento estrangeiro. Do outro lado, as turbulências que rondaram o governo Bolsonaro, devido a sua pauta política e ideológica, desgastaram a agenda de reformas e privatizações. Outra marca do governo Bolsonaro foi a alta do Dólar que atingiu recorde histórico do ponto de vista nominal desde da criação do Plano Real, chegando a marca R$ 4,27 (Dólar comercial), patamar motivado também pela baixa entrada de capital estrangeiro no país. Uma das medidas adotadas pelo governo para estabilizar o dólar foi a venda das reservas internacionais brasileiras. Segundo o Banco Central, foram vendidas durante o ano de 2019 cerca de US $ 27 bilhões das reservas, atualmente o país tem US$ 361.7 bilhões.

Devido ao crescimento econômico tímido, com previsão do Banco Central de crescimento de 1,2% para o ano de 2019, o Bacen vem derrubando a taxa Selic para estimular o investimento, o que acaba afastando por um lado o capital financeiro que não enxerga os atuais 4,5% atraentes dentro de um contexto onde o Brasil está envolto em crises políticas e inserido numa América Latina conturbada do ponto de vista político e econômico no período recente. Por outro lado, é muito difícil o investidor estrangeiro entrar no país para provocar crescimento da atividade econômica sem ver uma movimentação do próprio empresariado local.

Com olhos para 2020, muitos analistas de mercado defendem que o governo deveria adotar uma postura pragmática, tanto na política interna quanto na política externa, visando propagar uma boa impressão do ambiente de negócios brasileiro, e assim, transmitir confiança para que o investidor externo volte a ter mais interesse no Brasil. Entretanto, é relevante notar que não basta criar um ambiente de negócios mais favorável do ponto de vista de comportamento do governo, mas acima de tudo é essencial o governo apresentar e implementar uma política de recuperação do crescimento econômico, com geração de emprego e recuperação da renda, fortalecendo o mercado interno. Esse cenário de recuperação sim terá um poder substancial em atrair o investimento externo, principalmente o investimento externo direto e não apenas o investimento em carteira de caráter especulativo. Essa medida se faz mais ainda necessária quando observamos que o ano de 20119 se encerrou com o acirramento da guerra comercial entre China e Estados Unidos, cenário este que aponta para um agravamento das tensões comerciais no mundo, além da crise política instalada pelos Estados Unidos ao assassinar o general iraniano Qassim Suleimani, acentuando o conflito no Oriente Médio e no mundo. 

Victor Andreoni - Pesquisador do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC) da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Graduando em Economia na Faculdade de Economia da Ufba;

Cairo Andrade - Pesquisador do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestrando em Economia na Faculdade de Economia da UFBA. Graduado em Economia na Faculdade de Economia da UFBA.

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