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O choro de ACM Neto

Imagem O choro de ACM Neto
Até janeiro de 2021 deverá chorar ainda mais. Se haverá também ranger de dentes, isso os fatos de outubro de 2020 nos dirão  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 20/01/2020, às 08h30   Victor Pinto


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O choro do prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto, ganhou as redes no último fim de semana. Após uma exaustiva passagem pelas ruas da Cidade Baixa no cortejo da Lavagem do Bonfim, ao chegar no adro da Basílica, na Sagrada Colina, não conteve sua emoção. Chorou muito. Quase não conseguia fazer o vídeo institucional para suas redes sociais e quase não conseguiu responder as indagações da imprensa. 

O choro foi diferente daquele na comunidade Guerreira Zeferina, em abril de 2018, quando negou renunciar a prefeitura e concorrer ao Governo do Estado. Desmantelou o grupo. O choro de Neto, naquela ocasião, transpareceu um misto de derrota com o apego ao cargo. O choro de Bruno Reis foi ver passar longe a chance de segurar a caneta do Executivo dois anos antes do pleito eleitoral.

O choro de agora foi de despedida. Foi o último Bonfim de ACM Neto como prefeito. Será seu último festejo de Yemanjá como tal, Carnaval, Dois de Julho... será um ano de desapegar da cadeira do Palácio Thomé de Souza. Será um período de tentar emplacar seu sucessor e fazer prosseguir seu projeto de grupo no poder. 

As caras e bocas do prefeito, algumas delas tentando segurar o choro, foi, sem dúvida, o fato mais comentado pós lavagem. Ganhou a rede. Principalmente a montagem de uma música popular da banda considerada o “novo hit de sofrência”, Unha Pintada. Isso foi o suficiente para se alastrar, principalmente, no Instagram e no WhatsApp e o próprio prefeito aderir à brincadeira. 

Do outro lado também era notada a reação dos opositores ao prefeito. O político era acusado de fazer um momento triste de fachada. Alguns remitiam aos tipos de encenação que o avô, ACM, gostava de fazer. Outro apontavam para a cena concorrer ao Oscar do próximo ano. Não sobraram elogios e muito menos críticas. 

Mas o choro fez tecer uma reflexão que ainda alguns colegas de jornalismo também se postam a indagar: qual será o futuro do prefeito após deixar a cadeira maior do Executivo soteropolitano?

Creio que Neto não deve fazer parte da equipe de uma eventual prefeitura de Bruno Reis. Não seria sadio para o ex-deputado estadual e vice-prefeito, caso eleito em outubro desse ano, venha fazer uma plena administração sem ficar na sombra do antecessor. O maior exemplo disso na história recente da política local foi Jaques Wagner (PT) que se desgarrou da sua criatura - Rui Costa (PT) - e a deixou criar caminhos próprios e cara própria à gestão.

Com repercussão nacional, o ainda presidente do DEM articula e dar cartas ao lado do presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM), e o Senado Federal, Davi Alcolumbre (DEM). Como será a transição dos dois no Congresso no próximo ano? O fato também pode selar articulações futuras de Neto. 

Alguns acreditam que será ministro nesses dois anos que separam uma nova eleição. Eu acho ser remoto, pois ACM Neto é inteligente o suficiente para não ter digitais escancaradas no governo Bolsonaro e deverá articular oposição ao atual mandatário da União na próxima eleição.

Por seus aliados, nos dois anos pós-prefeitura, o democrata ficaria livre para circular pelo Estado e fazer articulações políticas e assim viabilizar de vez seu nome ao governo da Bahia. Caso o cenário não mude, pois política é nuvem, dessa “raia” ele não deverá fugir, mesmo que seja um páreo muito arriscado ou extremamente concorrido. 

O futuro de ACM Neto será traçado por ele mesmo. Os caminhos para a tentativa de controle ainda maior da política estadual e a manutenção da sua interferência na política nacional tendem a ser acompanhados nos meses subsequentes ao fim do mandato. Até janeiro de 2021 deverá chorar ainda mais. Se haverá também ranger de dentes, isso os fatos de outubro de 2020 nos dirão.

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É editor do BNews e coordenador de programção da Rádio Excelsior da Bahia. Atua em outros veículos e com consultoria. Twitter: @victordojornal

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