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Qual o seu preço?

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Publicado em 05/02/2020, às 07h50   Diêgo Aric*


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“Tenha paciência, se for pra ser, será. O que é do homem o bicho não come”. Ouvi, timidamente, alguém proferir essas palavras enquanto caminhava disperso pelas ruas da cidade. O dito popular me chamou a atenção, não apenas por crescer ouvindo isto dos anciões e com certeza, grandes sábios, mas, agora, por refletir sobre seus significados. 

É engraçado que desde pequenos somos obrigados a seguir regras e encaixados em cubos axiológicos. Para todas as coisas, o valor dos indivíduos depende do quanto eles valem, o preço que tem a pagar por determinado anseio e como devem se comportar frente ao capitalismo e o patriarcado. Desde pequenos, sempre nos deparamos com frases do tipo: “pense como um rico”, “você não pode, não tem dinheiro pra isso”, “se controle, seus gastos vão lhe afundar”, “com esse valor eu viajaria o mundo”. Quando crianças o peso destas questões já é limitante ao próprio desenvolvimento humano, e no avanço da idade, a frustração recai sobre o que você poderia ou não fazer para alcançar seus propósitos existenciais.

Contudo, esse não é o foco do que quero advertir aqui. O que de fato parece estranho é a maneira como isso é encarado em via de mão dupla pelos sujeitos ao longo de suas relações interpessoais. A hipocrisia impera e, o julgamento é inevitável. Pessoas são “pessoas” e por conta do valor que elas têm. Por este ângulo e por dinheiro, namoros/casamentos se encerram, empregos são perdidos e aproximações vantajosas são criadas. A inveja começa a se erguer como um “drone” no céu do “mal querer disfarçado de bem–me–quer”, pairando com sua força latente de discórdia e a ilusão mascarada da bondade. Arrisco-me a dizer que é bizarro! A expressão: “faça o teu bença, deixa o que é dos outros” nunca foi tão apropriada, ultimamente.

Tenho outra constatação: fingir o que não se é também leva a perdas muito dolorosas, principalmente pela ganância. Miro e acerto isso como um caçador atirando sua flecha no alvo da verdade que, pode ser ou não, absoluta. Financeiramente falando, não sei o que é pior: alguém que se vitimiza por problemas de natureza própria (dor, saúde física e mental, problemas familiares etc.) ou aqueles que não ajudam o próximo (podendo fazê-lo, obviamente) simplesmente porque não querem. A filosofia cristã não direciona nossos atos para “fazer o bem, sem olhar a quem?” Se você não consegue ajudar o outro, mesmo que ele minta e finja o que de fato não é ou não possui, de que modo pode receber perdão ou misericórdia? Realmente, gosto de pensar sobre estes aspectos com medo de não cair nessa armadilha. Na minha própria armadilha. 

Também na concepção cristã, temos os sete pecados capitais que todos conhecemos bem. O desejo insaciável, além do necessário, por comida e bebida. O apego excessivo e descontrolado pelos bens materiais e pelo dinheiro. O descontrole passional e egoísta por todo o prazer sensual e material. O intenso e exacerbado sentimento de raiva. Ignorar suas próprias bênçãos e, em troca, priorizar/querer o de outrem. Viver em estado da falta de capricho e de esmero, sob a esperança de que algo fantástico aconteça sem o prazer da luta pela conquista. Ou, até mesmo, o orgulho excessivo, a arrogância e a própria vaidade. É pecado ou é natural dos sujeitos? 

Não sei se condeno. Naturalmente, acontece com todos nós, pelo fato de ser quem se é e isto que importa, acredito. Ou não?  

Sem delongas, afirmo: todos nós temos preço. 

Sem pestanejar pergunto: Qual o SEU preço?  

*Diêgo Aric Souza é Relações Públicas. Especialista em Mídias Oficiais e Gestão em RP. Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). 

Classificação Indicativa: Livre

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