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Os pormenores das vaias a Bruno Reis no Ilê

Imagem Os pormenores das vaias a Bruno Reis no Ilê
Membros do PT, como o presidente municipal da legenda, fizeram questão de espalhar o trecho do momento da vaia  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 10/02/2020, às 06h56   Victor Pinto*


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As vaias recebidas pelo vice-prefeito e secretário da Infraestrutura de Salvador Bruno Reis (DEM) na noite de escolha da Beleza Negra do Ilê Ayê, e reverberadas nos bastidores político, dizem muito. Elas foram sonoras ao ponto do apresentador do evento, na Senzala do Barro Preto, na Ladeira do Curuzu, no bairro da Liberdade, tentar contê-las com educação. Mas não foi o suficiente.

Reis, pré-candidato a prefeito de ACM Neto à prefeitura da capital baiana, foi jurado do evento tradicional, uma noite de referência da representatividade do povo e do movimento negro e importante no aspecto cultural soteropolitano.

Membros do PT, como o presidente municipal da legenda, fizeram questão de espalhar o trecho do momento da vaia, transmitida ao vivo na TVE Bahia - emissora que todo ano transmite na íntegra a escolha da Deusa do Ébano do mais belo dos belos. Por mais que Ademário não seja o partido, faz parte em um lugar de referência e soa como um porta voz da sigla.

O colega jornalista João Brandão fez um comentário correto em um tweet e faço questão do registro: "A Noite da Beleza Negra quase acabou por falta de apoio dos governos do PT (Estado) e do DEM (prefeitura). Não vejo sentido em o próprio PT divulgar [o vídeo da vaia]". Fato!

Os acenos feitos do vice-prefeito ao Ilê, principalmente no ensejo da negativa do patrocínio do governo do Estado ao grupo, sob a justificativa de não terem entregues documentações garantidores dos apoios, podem até soar como oportunismo, mas fazem parte do jogo eleitoral. Uma eleição bate a porta e como o vice-prefeito não carrega o sobrenome Magalhães, por mais que seja apoiado por um, é outra persona no espectro político. E Vovô do Ilê, nome do tabuleiro do xadrez eleitoral, atualmente ligado ao PDT que ensaia lançá-lo a prefeito ou a vice, tem dialogado também com outra linha derivada do netismo: o secretário da Saúde e postulante à prefeitura, Leo Prates.

O apoio só veio depois, após ampla repercussão na imprensa. Mas se não fosse isso, creio que passaria batido.

Ainda sobre as vaias a Reis na Liberdade, essas não foram as primeiras. Eu já presenciei e já fiz uma entrevista com ACM Neto durante sua chegada na saída do bloco, no sábado do Carnaval de 2017, ano da ascensão de Michel Temer (MDB) ao poder com a derrocada de Dilma Rousseff (PT) após processo de impeachment. Foi uma saraivada que os semblantes do prefeito e da sua comitiva não escondiam o desconcerto.

Apesar de sempre tido como reduto petista, pelo menos nas eleições gerais para governador e presidente - tanto que Fernando Haddad (PT) fez um evento de campanha presidencial no bairro, um fato é consolidado quando se trata de certames locais: na Zona Eleitoral 18, com predominância da Liberdade e do Curuzu, dados das apurações mostram vitórias de ACM Neto (DEM) nas duas últimas eleições municipais. Em 2012, no segundo turno, foram 55% dos votos para o atual prefeito contra 44% de Pelegrino. Em 2016, na reeleição, no primeiro e único turno naquele ano, foi ainda maior: 73% para ACM Neto e 15% para Alice Portugal.

Ou seja: mesmo dividida nas gerais e nas locais, a Liberdade/Curuzu, pelos dados, tem feito aceno aos dois lados dos campos políticos, como também algumas lideranças conhecidas. O Carnaval bate na porta, como a campanha eleitoral também. Se as vaias vão perdurar, acompanhemos.

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É editor do BNews e coordenador de programação da Rádio Excelsior da Bahia. Atua em outros veículos e com consultoria. Twitter: @victordojornal

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