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Não filme, socorra

Imagem Não filme, socorra
O discurso machista ainda está muito forte e recentemente foi revigorado por pronunciamentos de algumas excelências autoridades  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 10/02/2020, às 09h39   José Medrado*


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Vi aqui no BNews, em seu trabalho de informar, um vídeo, onde um cidadão esfaqueava a sua mulher, segundo informações, diante do filho. O site teve a sensibilidade de alertar sobre o conteúdo do filme. Lamentei, por um lado, que uma pessoa resolveu filmar o feminicídio, sem buscar, ao menos, discar o 180, ou mesmo gritar. Poderia, sei lá, movimentar os vizinhos para uma atitude em coletivo. Não. Ficou filmando, certamente, para ganhar muitas visualizações e likes em suas redes sociais. Muito triste.

Todavia, estamos vendo a todo dia um aumento crescente de violência contra as mulheres. A legislação atinente é muito boa, a Lei Maria da Penha, mas as mulheres agredidas sempre reclamam que ela não é aplicada de forma adequada, inclusive são muitos os relatos que nas delegacias da mulher há falta de profissionais qualificados e com sucateamento nos serviços públicos de atendimento.

O discurso machista ainda está muito forte e recentemente foi revigorado por pronunciamentos de algumas excelências autoridades. E neste vale tudo da violência vamos ver agressões à mulher  porque não obedeceu ao pai, ao marido; porque não gostou do assédio, travestido de cantada, que recebeu na rua e foi confrontar; porque alguém se sentiu no direito de assediá-la  por conta  da roupa que vestia; porque alguém sentiu o direito de forçá-la a fazer sexo contra a sua vontade e consentimento.  Ou seja, por dignas razões as mulheres não aceitam mais serem submissas, querem sair para estudar, trabalhar, serem independentes. Apenas querem viver a sua vida. O Brasil amarga a quinta colocação no mundo entre os países mais violentos contra a mulher. Simplesmente porque elas não aceitam mais serem submissas, querem sair para estudar, trabalhar, serem independentes. Inclusive saírem de um relacionamento que não aceitam mais.

Não resta dúvida que a violência contra a mulher acontece, principalmente, por estarem posicionadas em um lugar social menor frente ao homem.  Ele ainda se sente o dono da cabeceira da mesa, nas refeições em família. O tempo para tudo é o dele, e chamado a atenção grita: “que saco”,,, ao contrário o caro leitor já sabe o que acontece.
As autoridades brasileiras comemoram que o número de homicídios caiu 20% em 2019, no Brasil e o de estupro 12%, segundo dados compilados pelo Ministério da Justiça, mas estes dados, no entanto, coexistem com fortes sinais de que os feminicídios disparam, em S. Paulo, por exemplo, houve aumento de 44%. Na Bahia os dados não são fáceis de serem achados. A cada quatro horas uma mulher é morta por ser mulher, por medo ou por ódio.

O Brasil não é apenas o quinto país com mais feminicídios do mundo, mas esses números podem aumentar, já que parte dos homicídios de mulheres registrados poderiam ser também feminicídios, assim como a maioria dos estupros de mulheres seguidos de morte devem ser considerados também feminicídios, por terem como motivo o ódio e o desprezo pela mulher.

Vemos tanto, e lá com as suas justificativas, o Governo Federal  tentando introduzir uma visão, modelo  de família, até com ministério da Mulher, Família...levando subliminarmente uma ideia ideológica religiosa de tradição do século passado, em cores de roupa para distingui meninos de meninas.... Lamentável.

* José Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio.

Classificação Indicativa: Livre

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