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Rusgas palacianas do criador e criatura

Imagem Rusgas palacianas do criador e criatura
A rusga entre os dois será na subjetividade. Para não colocarem lenha na fogueira, nunca vão externar conflitos  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 17/02/2020, às 07h06   Victor Pinto*


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Os mais próximos do Palácio de Ondina apontavam como um erro reverberar [toda vez eram suscitadas pela própria base] eventuais rusgas entre o senador Jaques Wagner (PT) – o criador – e o governador Rui Costa (PT) – a criatura. “Quem aposta na briga, perde”: era sonora frase ouvida.

Mas nos últimos dias o assunto tem crescido. Há quem diga que Wagner não tem gostado de tratamentos recebidos pela gestão. Líder do petismo, muito mais do que Rui, diga-se de passagem, JW quer ser tratado como tal.

Na sessão dos 40 anos do PT, na Assembleia Legislativa da Bahia, criou alvoroço o fato dos dois mal se cumprimentarem e cada um ter entrado por um canto. Pode até não ter sido proposital, mas na semiótica não soou como unidade.

A sessão inclusive foi marcada por discursos de petistas mais orgânicos contrários à chegada de paraquedas da Major Denice Santiago para concorrer à prefeitura de Salvador, tática defendida pelo governador Rui. Apesar de bradarem por prévias entre filiados, decisão recente do diretório soteropolitano aprovou escolha por meio de delegados.

Outro fato recente noticiado foi a ausência de Wagner e de sua esposa, Fátima Mendonça, no jantar promovido pela primeira-dama Aline Peixoto no Palácio da Aclamação. O garboso “Baile Bahia Real Masqué”, além de pomposo pela presença da high society com transmissão ao vivo da TVE Bahia, teve como objetivo arrecadar fundos para projetos sociais.

Wagner, o mais petista entre os dois, carrega consigo um clima de expectativa de retorno para concorrer ao Palácio de Ondina mais uma vez. No último Congresso do PT foi conclamado como governador em 2022. Como bem já salientei em outras colunas, tomou a rédea do partido. Por mais que diga não ter essa predileção e defender um nome jovem, é a alternativa de apaziguar a base.

Rui, que quer ser como Wagner em 2014, nas entrelinhas vê no movimento um enfraquecimento de assumir a dianteira do grupo. Tenta ensaiar tirar da manga um quadro que contemple sua sucessão, mas encontrará resistência de aliados. Não definiu seu rumo político, e, após a desastrosa operação que matou o miliciano que tinha muito a dizer sobre a morte da vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro numa teoria de correlação do caso com os Bolsonaros, viu cair por terra qualquer movimento nacional.

O senador fez certo ao se afastar da criatura no momento certo. Não há um caso de ex-chefes do Executivo que tenham metido o bedelho no trabalho dos seus sucessores que não tenha saído briga. Deu tempo ao tempo e agora encosta estrategicamente.

A rusga entre os dois será na subjetividade. Para não colocarem lenha na fogueira, nunca vão externar conflitos. Agora não é de se descartar a possibilidade de um dia a criatura se levantar contra o criador. Não se sabe se Rui leu as 48 Leis do Poder, mas não ofuscar o brilho do mestre é uma das premissas.

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É editor do BNews e coordenador de programação da Rádio Excelsior da Bahia. Atua em outros veículos e com consultoria. Twitter: @victordojornal

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