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Vivi na Ladeira da Preguiça

Imagem Vivi na Ladeira da Preguiça
Pois é, hoje é cult. Há dois anos estive lá, de quando em vez passo e ainda encontro amigos daquele tempo, o velho Cundunga igualzinho como sempre: forte e carnavalesco  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 17/02/2020, às 09h01   José Medrado*


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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, proclamava Camões. É verdade como o tempo ajuda no processo de revisão de conceito, ou mesmo de se adotar novos comportamentos, em razão digamos, da atualização dos processos de valoração do que antes era marginal, colocado de lado.

Este final de semana foi a Lavagem da Ladeira da Preguiça, como conheço aquela região, ali cresci e passei toda a minha adolescência e lembro nitidamente dos banhos de mar a fantasia patrocinados, em especial, por uma agremiação carnavalesca Caídos do Céu, que tinha Cundunga à frente, como grande idealizador, ao lado de Xarita, fundador das Muquiranas. Era um acontecimento restrito, porque pessoa alguma queria ir,  somente nós, os moradores, éramos os que acompanhávamos a festa, atrás da carroça com a rainha, toda enfeitada de papel crepom, tendo a banda a pé tocando as músicas carnavalescas.

Ao passarmos pela rua Chile, entrando pelo Largo Dois de Julho eram muitos os que torciam o nariz, afinal era aquele povo da Preguiça que estava ali, fazendo a sua festa...era a gentia da região, assim desdenhavam. Não raro éramos chamados de arruaceiros da Preguiça, mas, a bem da verdade, nunca presenciei problema algum nessa caminhada, éramos uns 50, 60...era, sim, a alegria de gente pobre, pretas e pardas brincando,

Pois é, hoje é cult. Há dois anos estive lá, de quando em vez passo e ainda encontro amigos daquele tempo, o velho Cundunga igualzinho como sempre: forte e carnavalesco, mas hoje é uma multidão de pessoas de todos os lados, a Preguiça virou moda. Reflito sobre tudo isso apenas para alertar a esses conservadores de plantão, aos ranzinzas do tempo – aqueles que pensam que podem reter a marcha das mudanças, das conquistas, da evolução dos costumes e da sociedade...não conseguem, não, pois como canta Elis Regina: Mas é você que ama o passado / E que não vê/ É você que ama o passado/ E que não vê /  Que o novo sempre vem.

Aprendam: o novo sempre vem, forçando os seus preconceitos, os seus antolhos, pois o passado não volta, mas pode renascer aprimorado, ajustado aos tempos atuais que correm e deixam vocês aí petrificados, lamentando e querendo o que já foi. Ainda bem. Acorda! Você que insiste em dormir achando que meninos veste azul e meninas rosa, que família é composta por um homem, uma mulher, um menino e uma menina. Já chegou e há muito o século XXI.

* José Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio.

Classificação Indicativa: Livre

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