Artigo

Coitado de Osmar, o Campo Grande não é mais o mesmo...

Imagem Coitado de Osmar, o Campo Grande não é mais o mesmo...
Os artistas não querem “encaixar” em suas agendas o velho Osmar. Fica parecendo que é a sobra. Fica parecendo que é o que dá  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 24/02/2020, às 09h24   Victor Pinto*


FacebookTwitterWhatsApp

O Carnaval se reinventa e se molda a novos contextos. As mutações são visíveis ano após anos. A estrutura de logística se aprimora, ajuda, facilita, mas o conteúdo não segue a linearidade. Não sou um exímio conhecedor da folia, raras foram as vezes que fui pra rua curtir, mas sempre acompanhei a festa pelos bastidores, pelo viés da cobertura jornalística.

O esvaziamento do Circuito Osmar (Campo Grande) – nome em homenagem ao criado do trio elétrico junto a Dodô - é inegável, apesar de os operadores do Carnaval negarem esse movimento. Transferir a entrega das chaves da Cidade, a abertura da folia, para a Barra, desprestigia o circuito mais antigo. Mas, mais do que isso, creio que a culpa recai aos grandes artistas e foi isso que entendi da fala do prefeito ACM Neto (DEM).

O chefe do Executivo destacou que se o circuito Osmar não acabou, isso é fruto dos esforços despendidos pela prefeitura para bancar. Fato! Mas os artistas não querem “encaixar” em suas agendas o velho Osmar. Fica parecendo que é a sobra. Fica parecendo que é o que dá. A prioridade total é a Barra e a Ondina com os suntuosos camarotes.

A configuração de horário é um fator. Apesar de a sexta-feira ser morta, à noite, pelos relatos e vídeos que recebi de conhecidos, o povo vai ver os blocos afros que, costumeiramente, avançam madrugada a dentro e muitas vezes sem o devido destaque midiático, das tevês, já que cabe apenas a TVE a transmissão ao vivo.  O samba ainda sustenta o movimento, os blocos afro, alguns blocos infantis…

Me cortou o coração de uma sexta de Carnaval ver trios com Bailinho de Quinta - sou um fã inveterado -, Márcia Freire, Sarajane, como exemplos, sozinhos em meio ao Furdunço que há tempos foi pujante ali. Nas transmissões não tinha o que sustentar no ao vivo. No domingo, dia de pujança também, já no fim da tarde e início da noite, um vácuo de trios.

Encurtar o percurso é uma ideia proliferada, ou seja, encerrar o contrafluxo na Carlos Gomes. É de se pensar. Mudar a essência é difícil, mas algo novo precisa ser implementado. Não sou antropólogo, sociólogo, produtor cultural, nem especialista em Carnaval. Quem sabe um dia? Mas meus humildes escritos são de um jornalista que atuou na folia como repórter e vendo o movimento da pipoca, dos blocos, dos trios e algumas vezes passando por ele.

Sou fã do Campo Grande. Foi ali onde eu conheci o Carnaval de Salvador pela primeira vez, cobrindo a folia de Momo pela rádio Excelsior da Bahia. Vi uma Passarela Nelson Maleiro lotada. Nas imediações do Teatro Castro Alves, se você tirasse um pé não conseguia colocá-lo de volta. O acesso pelo Garcia fervia de tanta gente.

Com a rua lotada, descer a Avenida Sete era um desafio. Chegar no relógio de São Pedro era uma sensação de sufoco e alívio, pois a Ladeira de São Bento estava próxima e dali poderia chegar na expansão da Castro Alves.

O circuito mais antigo da festa em atividade, desde os idos de 1966, precisa de uma análise e atenção. Ingressa na UTI. Ninguém pode obrigar ninguém a ir para um circuito, como salientou o prefeito, mas pode seduzir, pode buscar o carisma.

Fica o desafio para o Palácio Thomé de Souza e o chamamento para a Câmara de Vereadores, artistas e operadores do Carnaval ajudarem na fomentação desse debate para 2021.

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É editor do BNews e coordenador de programação da Rádio Excelsior da Bahia. Atua em outros veículos e com consultoria. Twitter: @victordojornal

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp

Tags