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A Pandemia e o risco dos saques

Imagem A Pandemia e o risco dos saques
Bnews - Divulgação

Publicado em 29/03/2020, às 18h11   Edson Valadares


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Os saques são fenômenos sociais que existem desde as sociedades primitivas, passando pelo período medieval e se mantem até os dias atuais. Ele ocorre quando as necessidades físicas, em especial a fome, não são satisfeitas e os seres humanos começam a agir por instinto, sendo movidos por seu lado animal. É assim desde período pré-histórico. Há registros de saques no século IV, como no ano 410, no império romano. Também aconteceu no ano de 1700, no Nordeste brasileiro, durante a grande seca, bem como em Portugal, em 1755, por ocasião do terremoto que destruiu parte de Lisboa, assim como em Buenos Aires, em 1988, quando a hiperinflação bateu próximo de 3.100% no governo Raul Alfonsín, dentre tantos outros exemplos.

A eminência desta ocorrência não está descartada no quadro atual com os riscos provocados pela atual pandemia da COVID-19. Não estou me referindo a países como a Itália, França, Inglaterra ou Espanha, onde as condições de vida da população são nutridas por políticas sociais que atendem, minimamente, as condições de sobrevivência das pessoas, conquistas garantidas durante o estado de bem estar do pós II guerra, mas falo dos países da América Latina e da África, onde a situação de subsistência ainda permanece como fruto da ausência de uma justiça social que assegure a dignidade humana.

Desta forma, é urgente políticas de distribuição de renda para as populações carentes que vivem às margens dos benefícios e das riquezas geradas pela sociedade pós-industrial, que concentra de forma egoísta o lucro nas mãos de poucos, enquanto a grande maioria vive do que sobra da ganância de uma elite insensível.

A pandemia que varre o mundo será avassaladora e afetará profundamente a economia neoliberal, provocando desemprego em massa e aumentando os níveis de miséria, principalmente em países do terceiro mundo e os ditos emergentes, como é o caso do Brasil. A necessária quarentena que envolve, neste momento, mais de um terço da humanidade é um barril de pólvora prestes a explodir. A fome e a privação de bens de primeiras necessidades começam a acontecer, acompanhada de uma depressão coletiva provocada pelo isolamento social.

O estado brasileiro e os demais entes federativos não podem ter dúvidas de como agir neste momento. É preciso abrir mão do equilíbrio fiscal do receituário neoliberal e distribuir a riqueza acumulada para evitar um caos civilizatório. Vivemos uma pandemia entre 1918 e 1920, a Gripe Espanhola, que matou mais de 35 mil pessoas no Brasil, inclusive o presidente eleito, Francisco de Paula Rodrigues Alves, que nem tomou posse do seu segundo mandato em 1919.

Agora, diante deste coronavírus, paralelo ao estabelecimento de uma renda mínima e da garantia dos empregos, as políticas assistencialistas e de caráter imediatistas, como a distribuição de cestas básicas, se justificam e urgem serem implantadas para atenuarem o desastre que se aproxima. Saques já estão acontecendo e serão cada vez mais recorrentes em padarias, lojas de conveniências, depósitos, supermercados e mercadinhos de bairros populares.

O ser humano em situação de fome perde a razão de suas faculdades mentais. A situação de risco de perder a vida e a de seus familiares faz com que o instinto de sobrevivência seja mais forte do que qualquer convenção social, prevalecendo em todos nós o estado de natureza no qual só há lugar para a explosão da violência.

O direito à vida da população precisa ser a primeira missão de todos os governantes, portanto, tomem atitudes e garantam as condições básicas do nosso povo, antes que seja tarde demais para evitar a barbárie que não se justifica mais na sociedade do conhecimento e do desenvolvimento cientifico. É preciso redistribuir melhor as riquezas cada vez mais astronômicas, evitando que os lucros se concentrem nos bancos e no sistema financeiro.

Edson é Sociólogo formado pela UFBA

Classificação Indicativa: Livre

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