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Covid-19 e seus impactos na economia internacional

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Bnews - Divulgação

Publicado em 28/04/2020, às 15h23   Cairo Andrade e Victor Andreoni*


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A pandemia do novo coronavírus (COVID-19) freou a economia mundial e deixou todos analistas desnorteados, pois ainda não se sabe qual a proporção do impacto econômico da crise criada pelo COVID-19, dado que vírus continua em franco avanço pelo globo, forçando os líderes políticos a tomarem medidas do isolamento que tem como consequência a redução da atividade econômica. A pandemia afetou a economia capitalista em uma escala e velocidade sem precedentes, tornando-se mais profunda que a crise financeira de 2007\2008, principalmente pelo motivo de atacar diretamente a saúde pública, provocando o fechamento de negócios, a interrupção da produção fabril e a paralisação das cadeias globais de valor. Ou seja, diferentemente da crise de 2008/2009 que teve origem na lógica financeira da economia internacional e inicialmente em um país (EUA), agora o mundo enfrenta uma crise que tem origem em questões sanitárias.

Vale lembrar que, apesar do novo coronavírus ser o fator principal, a economia global já vinha numa trajetória de baixa dinamismo devido aos reflexos da guerra comercial entre EUA e China, desaceleração da Europa – principalmente Alemanha e Inglaterra – e mais recentemente o desentendimento entre Rússia e Arábia Saudita que derrubou o preço do petróleo na eminencia da pandemia.

A desaceleração da produção na China em decorrência do surto do novo coronavírus está impactando no comércio mundial e pode resultar em uma redução de, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), US$ 50 bilhões nas exportações em toda a cadeia global de valor. Países como México e Brasil que, por exemplo, dependem das importações de bens intermediários chineses como autopeças, produtos eletrônicos e farmacêuticos, deverão declinar as suas compras nos próximos períodos. Olhando também pelo lado da demanda reduzida da China, países que têm uma forte dependência da exportação de produtos agrícolas, mineração e a produção de petróleo, vão experimentar uma queda nos preços das commodities gerando assim sérias consequências para suas contas nacionais. Por conta do COVID-19 e as medidas tomadas para conte-lo (China realizou severas restrições à circulação de pessoas e paralização de fábricas), o país asiático teve uma queda em sua produção industrial de 13,5% no primeiro bimestre do ano, quando comparado ao mesmo período do ano anterior; já quando olhamos para o PIB, espera-se uma retração de 9% no primeiro trimestre de 2020 (de acordo com projeção atualizadas do banco de investimento Goldman Sachs).

É importante prestarmos atenção nas consequências causadas na China pelo novo coronavírus, pois o país foi o primeiro a sofrer com a pandemia, e como vírus não respeita fronteiras nacionais, a pandemia chegou rapidamente a outros países e já afeta suas economias. Seguindo a China, com mais ou menos intensidade, países europeus e posteriormente a maioria das outras nações tiveram que impor restrições à circulação de pessoas, e seguir caminhos que também diminuem a atividade econômica. Esse caminho de restrições a circulação de pessoas, que afeta diretamente a produção dos países, parece ser, até agora, a melhor opção, punindo com milhares de mortes os países que não o sigam. Outro país que devemos ficar atentos são os Estados Unidos, que vem apresentando  números altíssimos de infectados e já apresenta reflexos negativos na sua economia, com o crescimento do desemprego para 4,4 %, saindo da marca de 3,5% (menor nível em 50 anos).

Outro aspecto que impacta na economia dos países é o aumento dos gastos estatais devido aos esforços para enfrentar a crise, sejam gastos elevados com saúde (área mais afetada) ou com intervenções estatais para manter o emprego e salvaguardar populações em vulnerabilidade. Esse cenário motivou o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) a emitirem uma carta conjunta solicitando “alívio imediato de dívidas aos países mais pobres do mundo”, alegando que a crise terá, além de forte impacto na saúde, "consequências econômicas e sociais severas".

Estimativas atualizadas do impacto econômico do COVID-19 e revisões dos lucros das maiores empresas multinacionais, sugerem que a pressão descendente sobre os fluxos de investimento direto do estrangeiro (IDE) pode variar de -30% à -40% durante 2020-2021 (UNCTAD).  O (IDE) é uma importante fonte de divisas para os países em desenvolvimento, portanto o seu declínio tem o efeito de desvalorizar a moeda doméstica e consequentemente elevar os preços de produtos importados.

A economia mundial em desaceleração desde 2017, diante da pandemia do COVID-19,  levou um tombo a ponto de expor as fragilidades do mercado capitalista. Isto porque, a promoção das políticas neoliberais aplicadas e recomendadas pelas economias centrais, mesmo depois das lições da crise de 2008, continuou mantendo uma proposta de busca pelo crescimento da economia mundial através da financeirização da economia, gerando assim, a redução de gastos sociais (saúde, educação, habitação), privatizações e flexibilização dos direitos trabalhistas. A primazia do mercado neoliberal, apoiado no discurso da ineficiência de instituições públicas e sua suposta incapacidade de prestar serviços de maneira eficiente, resultam em barreiras que retardam os países afetados pela pandemia a saírem da crise.

Voltando nosso olhar ao Brasil, já que, capitaneado pelos governadores, seguimos também o caminho do isolamento social, podemos esperar, sem dúvida nenhuma, também uma forte redução na atividade econômica. De acordo com as projeções de mercado e do governo, a contração econômica do brasil pode ficar entre -5,5% a -8,0%. Analisando o Brasil como um país exportador de comodities, onde seus principais parceiros comerciais são os EUA e a China – dois dos países que apresentam maior número de infectados –, devemos esperar uma queda no fluxo comercial causada pela desaceleração econômica dos seus parceiros. Outro aspecto que não se pode deixar de lado, mesmo dentro de uma pandemia, é a queda do preço do barril de petróleo e dos preços de outras comodities, principais produtos exportados pelo Brasil. Ou seja, além de uma forte contração do mercado interno em decorrência da política inquestionavelmente necessário de isolamento, o Brasil também enfrenta uma forte contração da demanda internacional em termos de quantum e de preços. 

*Cairo Andrade - Pesquisador do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC) da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Mestrando em Economia na Faculdade de Economia da Ufba. Graduado em Economia na Faculdade de Economia da Ufba.

*Victor Andreoni - Pesquisador do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC) da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Graduando em Economia na Faculdade de Economia da Ufba.

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