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Petismo e Bolsonarismo no sebastianismo moderno

Imagem Petismo e Bolsonarismo no sebastianismo moderno
Um mandamento comum que os iguala na mesma proporção: "Odiar Sérgio Moro acima de todas as coisas"  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 04/05/2020, às 06h30   Victor Pinto


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O Petismo e o Bolsonarismo viraram uma religião e estão mais idênticos do que nunca nos modus operandi de tocar sua forma de conduzir os procedimentos históricos, eleitorais e do debate das suas “ideologias”. Ambos são os exponenciais do Sebastianismo moderno brasileiro em curso. Tentam polarizar o discurso e concentrar a queda de braço, pois fica mais fácil para tirar o lucro político. 

1. atacar a imprensa; 2. reafirmar discurso do golpe; 3. apontar ex-membros dos governos como traidores; 4. insuflar movimentos para a rua para mostrar apoio popular; 5. apontar o judiciário como tendencioso e parcial; 6. afinar o discurso de devolver o Brasil para os brasileiros e 7. ter um salvador da Pátria. Afinal de contas, com esse elenco de características sobre qual movimento me refiro? De quais são esses Sete Mandamentos? Do petismo? Do Bolsonarismo? Respondo: dos dois! Populistas que também são. 

Na dividida, no entanto, a queda de braço do mais sebastianista dos dois movimentos, o bolsonarismo vence pela tentativa da instalação de uma teocracia no Brasil. Uma vontade do retorno monárquico onde um só controlaria tudo em detrimento das velhas instituições difundidas por Montesquieu - Executivo, Legislativo e Judiciário. É praticamente o messianismo, pois o nome do "mito" é Jair Messias: eis o messiânico que alimenta essa corrente. 

Não poderia me esquecer! O oitavo mandamento comum que os iguala na mesma proporção: "Odiar Sérgio Moro acima de todas as coisas". Os dois polos da política agora têm um inimigo comum: o ex-juiz da Lava Jato, que vaza conversa com presidentes e ex-presidentes ao seu bel prazer. Este, que também bebe na fonte do sebastianismo, é bem posicionado na aceitação popular conforme as últimas pesquisas, e funda o "morismo" desgarrado da sanha bolsonariana de poder. 

Mas quando chegará um Dom Sebastião à altura e assim resolver todos os problemas da crise da saúde, da economia, e do social?! Chama o Beato Salu! Dias Gomes escreveu em Roque Santeiro o personagem do Beato, pai do santeiro, título da novela de 1985, que representava o fanatismo do sebastianismo. Uma espécie de Antônio Conselheiro de Asa Branca, cidade fictícia, com seus seguidores. 

O Sebastianismo vem da história de Dom Sebastião, o rei de Portugal sumido, cuja crença do povo era de que qualquer momento ele retornaria para salvar todo o povo. Esse tipo de ideologia foi propagado em diversos movimentos separatistas do Nordeste e, na Bahia, se configurou personificado em Antônio Conselheiro de Canudos, um monarquista inveterado com atitudes comunistas e um perigo para a Repúblicas e os Militares do período próximo de 1893 em diante. 

“Visita vem nos fazer, nosso Rei Dom Sebastião, coitado daquele pobre, que viver na lei do cão”. Esse trecho é dos versos correntes dos adeptos de Antônio Conselheiro que aprendi na escola, na oitava série, nas aulas de professora Joana Angélica no Colégio Polivalente, e sei de có até hoje. De lá pra cá, sempre procurei ler e estudar o desdobramento disso na nossa história.  

Lula com o Petismo, Bolsonaro com o Bolsonarismo, Moro com o Morismo… São nomes modernos do messianismo/sebastianismo do século XXI brasileiro. Foram poucos os que se firmaram na história por sua persona, como, por exemplo, Getúlio Vargas via Getulismo ou ACM, o original, com o Carlismo tão venerado interior da Bahia na década de 80. 

Essa história de votar na pessoa e não partido/projeto é o mesmo que confirmar Dom Sebastião na cabeça. Vai no homem e confirma. É algo cultural, e cultura é difícil, muito difícil de ser quebrada... ainda mais quando se torna uma devoção.

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É editor do BNews e coordenador de programação da Rádio Excelsior da Bahia. Atua em outros veículos e com consultoria. Twitter: @victordojornal

Classificação Indicativa: Livre

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