Artigo
Publicado em 14/05/2020, às 10h47 Juscelina Nascimento
O Coronavírus se tornou um assunto popular na Bahia a partir de março deste ano. Com a confirmação dos primeiros casos de contágio, as autoridades adotaram o distanciamento social como principal medida de contenção do COVID 19. Consequentemente, o setor cultural foi o primeiro a ser atingido pela pandemia. Isso porque a Bahia é um Estado que tem sua economia centrada no setor de serviços, e dentro deste, o mercado cultural apresenta as maiores arrecadações e emprega milhares de pessoas: São músicos, atores, dançarinos, artistas de rua e de circo, artistas plásticos e do audiovisual, produtores e técnicos que, de uma hora para a outra, ficaram sem renda e passaram a necessitar de ajuda, apoios e auxílios para subsistirem nesse cenário de desafios. Só que a ajuda ainda não veio.
Depois de dois meses de isolamento social, o setor cultural está resiliente, com segmentos inteiros parados. Na Economia Criativa, o pessoal de moda e design ainda produz máscaras, confecções e artefatos; outros setores ligados à informática, desenvolvem conteúdos digitais, aplicativos e afins. No entanto, maioria dos profissionais da cultura colecionam perdas. Exemplo disso é a suspensão dos festejos tradicionais, como as festas juninas, que aquecem a economia dos municípios na baixa estação. Sem festa de São João a arrecadação cai, aumenta o desemprego e a precarização do trabalho, elevando a vulnerabilidade social de toda a coletividade.
Outra faceta da COVID 19 sobre a cultura é a escassez de patrocínio da iniciativa privada no setor cultural autônomo, de base popular, cujas entidades ou representantes não têm independência financeira para fomentar suas atividades. Essas entidades, como grupos de samba, bandas de pífano, Fanfarras,, Coletivos Culturais, Agremiações, Griôs; Musicistas autônomos, Artistas performáticos etc, estão buscando alternativas para se manterem, mas não está fácil. Na verdade, nunca foi, porque a cultura produzida por esses grupos, não raro, é ligada à afirmação das identidades, à preservação da ancestralidade, aos ritos que fortalecem a resistência, à denúncia de mazelas sociais - e isso tudo é lindo de se ver, mas é difícil de patrocinar.
Fala-se muito nas possibilidades de ganhos com as redes sociais, porém o uso da internet como estratégia de retorno financeiro pouco funciona com esse conjunto de fazedores de cultura. Se chegam a produzir lives e vídeos, tem baixa adesão. Com raras e honrosas exceções, os artistas populares, autônomos ou dependentes de apoio, não tem patrocínio de empresas privadas, nem conseguem arrecadações e doações suficientes para a subsistência. Neste mesmo cenário de pandemia, outros atores culturais midiáticos fazem shows e lives patrocinadas por grandes marcas. Assim, além do apoio que recebem, angariam públicos, afetos e mentes, que valem mais do que dinheiro. Ou seja, em tempos de COVID 19, a estratégia deles é ser Top of Mind. E qual é a nossa?
Sem trabalho, sem patrocínio da iniciativa privada, nem apoios das grandes marcas, resta aos produtores e fazedores de cultura buscar alternativas de sobrevivência junto ao Estado, às Prefeituras e outros organismos. Por isso é fundamental que os poderes públicos desenvolvam políticas públicas específicas para esse momento de pandemia, disponibilizem recurso financeiro, auxílios diretos e financiamentos, bem como seus espaços físicos, como fábricas, estúdios, equipamentos e pessoal para dinamizar o setor cultural e mantê-lo vivo e produtivo.
Afinal, se a cultura do povo é essencial para eleger políticos, para suavizar crises sociais e gerar trabalho e renda para empresários e servidores públicos; se é essencial para ajudar a manter a saúde psíquica da população em isolamento, porque essa cultura não pode ser essencial para garantir a sobrevivência das pessoas que a produzem?
Juscelina Nascimento é Gestora Cultural
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