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Na sanha, Bolsonaro insinua ataque da PF a Otto, Coronel e ao governo Rui

Imagem Na sanha, Bolsonaro insinua ataque da PF a Otto, Coronel e ao governo Rui
A sanha de Bolsonaro não é vã. A mensagem não está ali gratuitamente no inquérito da denúncia de Moro contra o mandatário palaciano, matéria pela qual o ex-juiz lavajatista tenta provar a suposta interferência  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 25/05/2020, às 10h25   Victor Pinto


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Nem de longe é despretensiosa a informação falsa compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro com o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro sobre o contexto da reabertura do Hospital Espanhol, que estava fechado havia mais de cinco anos, em Salvador. O inquilino do Planalto enviou ao ex-super ministro acusação séria contra o governador Rui Costa (PT) e os senadores Otto Alencar e Angelo Coronel, ambos do PSD, além do secretário da Saúde Fábio Villas-Boas. Ao tratar do abrir de portas da unidade hospitalar para pacientes covid-19, resta subentendido que a intenção do PR articular o uso da Polícia Federal para eventual investigação sobre as circunstâncias para que o Espanhol voltasse a funcionar. Ninguém é criança!

A mensagem, que veio a público por meio do blog de Fausto Macedo, do Estadão, consta no inquérito que analisa as acusações feitas por Moro a Bolsonaro, segundo as quais o presidente buscava, arquitetava e o pressionava para interferir politicamente na Polícia Federal, um dos principais órgãos investigadores do País. A suposta tentativa confugura-se um ato criminoso, diga-se de passagem, caso comprovada a veracidade das denúncias do ex-ministro.

Eis o texto em questão enviado por Bolsonaro em uma conversa no WhatsApp: "Hospital Espanhol, em Salvador, é reativado pelo governador Rui Costa, teve sua 'administração' entregue gratuitamente e sem licitação ao INTS - Instituto Nacional de Tecnologia da Saúde. Agora você sabe a quem pertence este INTS? É do filho do Senador Oto Alencar! As refeições do hospital serão fornecidas pela empresa de quem? Do Senado  ngelo Coronel a um preço 6 vezes mais caro que o normal. Uma médica amiga participou de uma reunião na Sesab (secretaria de saúde do Estado da Bahia) sobre a implementação dos leitos de diálise e o secretário Fábio Dantas disse a ela, com toda a arrogância, 'dinheiro não é problema , nós temos 230 milhões para gastar com o covid! Vamos gastar! O Covid não vai acabar nuncaaaaaa!!!" (sic). 

Esta informação falsa foi disparada em diversos grupos de Whatsapp e nas redes sociais há pouco mais de um mês e gerou uma reação imediata de Otto Alencar. O senador vociferou contra a disseminação e mobilizou a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News para que adotasse uma postura investigativa. O presidente do colegiado é, ninguém mais, ninguém menos, que o seu compadre e apadrinhado político Ângelo Coronel. 

A sanha de Bolsonaro pela Bahia não é à toa. Ele teria outros estados com os quais se preocupar no contexto eleitoral, a exemplo de São Paulo, governado por João Dória (PSDB), ou Rio de Janeiro, administrado por Wilson Witzel (PSL). Mas a engrenagem baiana tem um diferencial: Rui Costa, presidente do Consórcio do Nordeste. O petista, desde quando Bolsonaro tomou posse, assumiu a dianteira no antagonismo à sua gestão e tem enfrentado o presidente - a ferro e fogo - com ações administrativas e discursos.

Otto, senador do PSD, ex-governador da Bahia, é influente no Senado Federal, um dos braços direitos do presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab. Logicamente, a base do PSD no Congresso não é descartável. Otto, inclusive, certa feita, em entrevista que fora dada a mim no BNews, afirmou, categoricamente, que não é do Centrão. É, sim, oposição a Bolsonaro. 

Coronel, no entanto, é o alvo primeiro da contenda. Tem causado muito rebuliço com sua atuação na CPMI das Fake News e lida com um assunto cirúrgico nas searas eleitoral e jurídica. Despojado e polêmico com frases de efeito e medidas nada tímidas, têm buscado descobrir os meandros de disparos de mensagens em massa, formação de quadrilha de fomentadores de perfis falsos para disseminar inverdades e tantas outras questões.  Sem contar que o assunto é o 'calcanhar de Aquiles' do presidente porque se aproxima de sua família.

Repito: a sanha de Bolsonaro não é vã. A mensagem não está ali gratuitamente no inquérito da denúncia de Moro contra o mandatário palaciano, matéria pela qual o ex-juiz lavajatista tenta provar a suposta interferência do presidente na PF. Tais fatos podem ser apenas a ponta de um iceberg. Novos casos tendem a surgir e colocar personagens baianos no meio da situação. O cenário reforça um detalhe: a Bahia não perde o protagonismo na interferência na política nacional. O bolsonarismo não colocaria a lupa no estado se não tivesse motivos.

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É editor do BNews e coordenador de programação da Rádio Excelsior da Bahia. Atua em outros veículos e com consultoria. Twitter: @victordojornal

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