Coronavírus

Coronavírus: conversando sobre a morte com as crianças

Imagem Coronavírus: conversando sobre a morte com as crianças
Bnews - Divulgação

Publicado em 26/05/2020, às 20h18   Claudia Mascarenhas*


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Muito está sendo publicado sobre como entreter as crianças na quarentena em casa, como as escolas devem dar aulas on-line, como devemos proceder para explicar o que é o coronavírus, o que dizer para que elas possam entender que não podem visitar os avós…

Porém, estamos num momento em que não apenas a preocupação com a morte é um fator ansiogênico para os adultos, mas a quantidade de pessoas que estão morrendo por conta do coronavírus é impactante.

Ha três pilares de preocupações que não deixam de ocupar o pensamento dos adultos: o medo de transmitir, de ser contaminado e um terceiro menos explícito: o de testemunhar uma quantidade muito grande de mortes.

Escutamos na clínica diariamente: as notícias de mortes estão chegado mais perto, chegando até os conhecidos.

E as crianças nisso? Como falar de morte com elas? O que é um assunto para conversar e o que seria desnecessário?

Temos pelo menos duas situações a considerar:

1 - As notícias gerais de mortes, quantas mil morrem em cada país, em cada cidade.

2 - A situação que a família perdeu um ente querido, alguém que a criança conhecia.

A primeira é uma informação para adultos, não interessa e não tem nada a ajudar para a compreensão da criança no momento em que vivemos. Essa primeira vertente sobre as notícias de mortes da pandemia, que são gerais e impessoais, só provocam na criança ansiedade, angustia ou até sintomas mais graves. Não se trata aqui de um assunto para crianças porque não traz nenhuma contribuição a sua vida, inclusive números tão grandes lhes são muito abstratos.

Já na segunda situação, lhe concerne e ela tem direito de saber.

Mas como contar que alguém querido da família morreu? E no caso ser um dos seus cuidadores principais? Um pai, uma mãe, uma avó, um avô?

Algumas dicas:

- Uma notícia triste é sempre triste, então não esperemos que a criança não fique triste ou não sofra. A vida é assim. Quando alguém que gostamos morre, ficamos tristes.

- Lembrem que a criança sempre percebe que algo não está bem na família, estão tristes… Ela não se engana nisso.

- Contem os fatos sempre dando a entender que tudo de melhor foi feito para que a pessoa não morresse. Por exemplo: “Chamaram ótimos médicos, mas o remédio não deu certo”.

- Onde preferem conversar. Qual espaço da casa pode ser usado para que possam se concentrar e ficarem à vontade para chorar, caso ocorra. Chamem para esse espaço e, desde o início, a criança já saberá que se trata de algo muito sério.

- Nunca deem a notícia à noite, protejam o sono da criança.

- Se tiverem algum brinquedo, boneco preferido, podem estar com eles em mãos.

- Falem devagar e de modo muito honesto.

- Compartilhem o que estão sentindo, o quanto é difícil para todos. Se a criança chorar, acalente-a.

- Não se preocupem se chorarem ou se emocionarem muito. As crianças precisam saber que se pode chorar e, quando ficamos tristes, é isso que fazemos.

- É preciso verbalizar que a pessoa morreu, mesmo que se respeitem as crianças religiosas que as famílias tenham. Não tentem enganar a criança, por exemplo, dizendo que está no hospital ad infinito.

- Deem uma pausa e digam que a criança pode perguntar TUDO o que quiser e respondam com sinceridade, sempre pensado que, como se trata de uma criança, detalhes mórbidos não precisam ser descritos.

- Não precisam inventar diversões logo após a notícia. Muitas vezes, vale mais ficar juntinho lendo uma história, conversando mais, comendo algo… Ficarem juntos no primeiro momentos para a criança se sentir protegida. Isso será uma boa opção.

*Claudia Mascarenhas – psicanalista

Classificação Indicativa: Livre

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