Artigo

E se fosse o filho da patroa?

Imagem E se fosse o filho da patroa?
Bnews - Divulgação

Publicado em 08/06/2020, às 09h55   José Medrado


FacebookTwitterWhatsApp

Essa é a pergunta que tem aparecido pelas redes sociais, inclusive em cartazes nas manifestações desse domingo (8). Miguel morreu em mais um dia trabalho de sua mãe, que não tinha como fazer quarentena, logo deixaria com quem o seu filho? Mirtes, mãe do pequeno Miguel que caiu do nono andar de um prédio, não imaginaria que a sua patroa não teria paciência com ele, já que ela sempre teve com as filhas da patroa. Mirtes não pensou que o pequeno Miguel incomodaria muito, pois estava gerando distúrbio, porque chorava, e ela, a senhora patroa, fazia as unhas.

O filho da empregada chorava, pedindo pela mãe. Natural, em uma criança de cinco anos, dar azo à imaginação e conceber que a mãe o estaria abandonando ali. A senhora patroa, cujo sobrenome, segundo divulgação dada pela imprensa, é Corte Real, que também é mãe, não considerou esta realidade de uma criança.  A sua cachorra precisava dar o seu passeio, para satisfação de suas necessidades. Tudo bem, mas e a criança? Ah! Ela era a filha da empregada, um menino negro.

A verdade é que muitos estão humanizando os animais e desvalorizando a vida humana. O caso Miguel é cheio de simbologia, bastante emblemático, nesses dias de manifestações americana pela morte de um negro. Muitos estão dizendo que, se a empregada fosse branca, e o filho também, teria acontecido a mesma coisa. Talvez, não sei, mas não eram. Tratavam-se de uma empregada doméstica e o seu filho, negros.

Mirtes, a mãe de Miguel, segundo registros da imprensa, tinha contraído a Covid-19, exatamente naquele apartamento, pois os seus patrões estavam em quarentena. Ela não teve opção, não tinha quem ficasse com o filho, levando-o, então, para o foco da infecção.

Afirma  a historiadora Luciana da Cruz Brito, professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e especialista em história da escravidão, abolição e pós-abolição no Brasil e nos EUA,  que a morte de Miguel resume o debate sobre as diferenças entre a questão racial nos dois países: "A nossa supremacia branca é assim. Não tivemos leis segregacionistas, como nos Estados Unidos, mas temos o mesmo princípio de que algumas pessoas são mais humanas do que outras", disse à BBC News Brasil, em entrevista.

A patroa pagou R$20.000,00 e não foi presa, e Mirtes, a mãe, ficará presa, sem dúvidas, à saudade de seu pequeno, e, possivelmente, à culpa, por ter levado Miguel com ela para o trabalho. Ou alguém ainda acredita que a senhor Corte Real em algum momento ficará presa? Aguardemos não mais episódios desta triste história, pois já foi escrita. Veremos qual será a próxima, a próxima, a próxima...até um dia de real basta.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp