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No fio do novelo, uma banana para o Brasil

Imagem No fio do novelo, uma banana para o Brasil
O ex-ministro da Educação, o pior que essa terra já pode ter, Abraham Weintraub, deu no pé do Brasil com medo de ser preso  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 22/06/2020, às 17h51   Victor Pinto


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A situação atual da política brasileira é a realidade de tudo aquilo de ficção que consumimos na literatura nacional ou nas produções audiovisuais. Eu já escrevi, certa vez, que somos uma grande Sucupira, de Dias Gomes. Mas os fatos recentes me remontam a uma cena antológica de crítica política e social no País: Marco Aurélio, personagem de Reginaldo Farias, após suas falcatruas, foge do Brasil de avião e dá uma banana, aquele gesto conhecido com os braços, para o solo brasileiro. Saiu impune como tantos outros. A novela? Vale Tudo, de Gilberto Braga, exibida pela TV Globo. 

O ex-ministro da Educação, o pior que essa terra já pode ter, Abraham Weintraub, deu no pé do Brasil com medo de ser preso. Fez o que fez, disse o que disse, mas não quer arcar com tudo aquilo que destratou. Parou no solo estadunidense, corrido, ligeiro, para não correr o risco de perder o foro e ser enjaulado. Sua exoneração só saiu no dia em que o irmão confirmou a informação da sua partida. 

Weintraub deu uma banana para o Brasil, metaforicamente, como vimos em Vale Tudo. Só veremos a leitura, doravante, notas de repúdio e sorrisos a canto de boca de seus aliados que comemoraram a façanha. Só volta quando a poeira baixar e houver segurança suficiente para desembarcar e concorrer a um cargo eletivo em 2022. O bolsonarismo o venera e o transformou em mártir e exilado político. Me deixe, me faça uma garapa!  

Uma bomba relógio institucional. Mas, vale ressaltar, foi um tiro no peito da ala ideológica do presidente. Não havia condição de sustentação pela relação dos poderes, necessária no processo democrático, e pela ala mais centrada na forma de política do primeiro escalão do ex-capitão. 

Uma terra que gerou Darcy Ribeiro ou Anísio Teixeira, revolucionários, no bom sentido, da educação ter na sua história uma pessoa dessa linhagem é de revirar no túmulo. Condena-se a ideologia da esquerda, mas se quis implantar uma ideologia “babacolavista”. 

A carta lida pelo ex-ministro fugido e a cara de Bolsonaro, que mal o abraçou na despedida, mostrava o capítulo tragicômico dessa novela na qual estamos todos inseridos, seja como protagonistas do processo político ou coadjuvantes. 

O Banco Mundial virou o salvo conduto de Weintraub. Para quem tanto criticou a nomeação de Lula (PT) a ministro da Casa Civil do governo Dilma Rousseff (PT) em 2016 e o envio do “Bessias”, conforme ouvimos nas conversas vazadas por Sérgio Moro, se valeu da mesma prática para fugir da seara jurídica que, como bem salientou Schwartsman, um dos meus articulistas prediletos da Folha de S. Paulo, o judiciário assumiu a linha de frente oposicionista em defesa do Estado Democrático de Direito e, como mesmo escreveu: “um vetor de resistência ao bolsonarismo”.

E outra: além da banana do ex-ministro desta República, vemos o cometa Queiroz surgir. Apareceu e nem precisou do “Linha Direta”. Não era fugitivo, mas estava escondido. Todos pegos na mentira. A cada dia um fato novo, curioso e preocupante. Um novelo cujo fio começa ser puxado a cada semana, a cada mês e se desenrolará. O mesmo acontece numa novela, como bem disse a saudosa e maga da ficção, Janete Clair. Resta saber se haverá final feliz…

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. É editor do BNews e coordenador de programação da Rádio Excelsior da Bahia. Atua em outros veículos e com consultoria. Twitter: @victordojornal

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