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Não me chocou

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Publicado em 24/08/2020, às 10h54   José Medrado


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Muita gente ficou surpresa com mais um arroubo do presidente da República, direcionado a um jornalista, simplesmente porque este perguntou sobre depósitos de um investigado por lavagem de dinheiro na conta da primeira-dama. Honestamente? Por que a surpresa? Ele é assim, e, por questões dos interesses e preocupações que envolvem a busca da possibilidade da sua reeleição (mesmo sendo só em 2022), bem como às questões atinentes ao seu filho, Flávio, deve estar se sentindo amarrado, contido, seguramente, por orientação, mas ninguém sustenta o que não é o tempo todo.

O problema é a memória curta que temos, de um modo geral, pois ele já disse que não era coveiro, quando foi questionado sobre os mortos pelo coronavírus; já disse que não podia fazer milagres, apesar de ser Messias; disse a uma deputa: “Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque você não merece" . Foi obrigado judicialmente a pedir desculpas públicas. Em 2015, disse: “Espero que Dilma saia. Infartada, com câncer, de qualquer  jeito”, e no seu voto pelo Impeachment da mesma Dilma, avoca a figura do Coronel Ustra, conhecido torturador do período de ditadura no Brasil. Então, não há o que estranhar da fala do presidente. ´É Bolsonaro sendo Bolsonaro. Lamentável, mas sim.

Por outro lado, o que me surpreende é ver que grande parte dos seus seguidores acha natural, inclusive justifica, afirmando que a Globo...vocês sabem. Interessante, que Lula também reclamava, desqualificava a Globo e os seus seguidores também davam razão, ou seja, contrariou o morador do Alvorada, pronto, não presta. Esse pessoal gosta dos incensos e bajulações, fugiu destas linhas, é inimigo. 

Não entro aqui nas questões que levam a milhões apreciarem, seguirem, amarem o presidente Bolsonaro, o que me chama a atenção é a falta de conceito das pessoas sobre as instituições da República, consequentemente à postura que os seus representantes precisam, devem ter, independentemente do seu “temperamento”. Imagino que um político que se lança democrática e lidimamente a um pleito e ganha, deve saber que ali surge a representatividade a que foi guindado, logo o seu compromisso, como servidor público, está também em prestar contas aos seus patrões – nós, povo brasileiro – das suas ações e da compatibilidade delas com o seu posto.

Compreendo, no entanto, que temos, como humanos, a necessidade de nos protegermos de alguma situação que nos gere desconforto emocional, razão pela qual sempre culpamos os outros e justificamos diante dos que amamos os seus erros. Fazemos o tempo todo isso, só pararmos para pensarmos. Todavia, uma coisa é o sentimento de gostar, admirar, a outra é confundir essas questões com o que seja, pelo menos, sensato e aceitável, esteja a pessoa em qualquer cargo público ou não. Sempre, penso, valerá o “fazer ao outro o que gostaríamos que o outro nos fizesse”. Tão simples.

Classificação Indicativa: Livre

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