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A metralhadora salvou o debate da chatice

Imagem A metralhadora salvou o debate da chatice
O encontro da TVE Bahia foi um aperitivo animado, um sal para uma eleição insossa  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 26/10/2020, às 04h28   Victor Pinto


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O debate da TVE Bahia, definitivamente, foi mais animado em comparação ao realizado pela Band Bahia. Com uma eleição em curso e nas beiras das semanas finais, com horário eleitoral no ar e pesquisas divulgadas, não seria diferente. Porém, aspectos desse mesmo grupo mostram diferenças estratégicas no confronto de ideias. 

Apesar da saúde ter sido colocada de lado - sendo, inclusive, o assunto mais preocupante por parte da população conforme a última pesquisa Ibope -, educação, economia e turismo foram temas preponderantes em propostas e ataques. Entretanto, a animação por parte de acusações transformou o candidato Hilton Coelho (PSOL) como o principal destaque. 

O psolista, deputado estadual, atirou para todo mundo - tanto, que quando afrontou a colega deputada Olívia Santana (PCdoB), ganhou a pecha de “metralhadora giratória”. Ele pisou no calo da comunista quando a acusou de ter ficado em cima do muro sobre a discussão da reforma da previdência estadual, o que não é mentira. No questionamento posto por Denice (PT), que quis encher a bola de Rui Costa (PT), recebeu do opositor esquerdista duras críticas a gestão estadual na área de mobilidade da capital, principalmente sobre o trem do subúrbio.

Mas, sem dúvidas, o alvo mais pesado foi Bruno Reis (DEM). Hilton chamou o ex-ministro Geddel Vieira Lima para o debate: o chamou de padrinho de Reis e lembrou do bunker de dinheiro. Foi mais além e evocou o caso Chico Rodrigues, o senador do dinheiro nas nádegas, cujo partido é o mesmo do vice-prefeito. 

Nem o "charmoso" Bacelar (Pode), como bem chamou Isidório (Avante), escapou da rajada da metralhadora do candidato: lembrou do escândalo da ONG Pierre Bordieu e de quando a secretaria da Educação de Salvador, na gestão dele, no Solar Boa Vista, "misteriosamente" pegou fogo. 

A lenha política foi de Hilton, que animou as repercussões e o noticiário. Por outro lado, foi pouco propositivo, diferente dos mais comedidos. 

O bom compadre do debate foi Celsinho Cotrim (Pros), sem sombra de dúvidas. A pergunta do Turismo a Denice e sua ênfase ao falar do assunto, cuja área já foi gestor, soou até como uma menção ao governador: “ei, estou aqui quando Fausto Franco cair da Setur”. Queda esta cujo cronograma corre certo. No embate com Bruno Reis, quando este o escolheu estrategicamente para não rivalizar com outros mais bem posicionados nas pesquisas, seguiu o fluxo como o democrata bem pensou. 

Denice foi Denice, apesar de ter citado Gilberto Gil (apoiador de Olívia) e mostrar que quer transformar Salvador na Wakanda do turismo étnico. Mostrou ser pop e a Marvel (editora das histórias de "Pantera Negra") curtiu isso. No jogo casado com Bacelar atacou uma áreas pontuais da prefeitura: a questão tributária e a economia. Olívia foi Olívia e se sobressaiu quando não ficou acuada por Hilton. Contudo, essas duas, as comadres do debate passado, resolveram não se topar. Ambas já estão no jogo do quem chega lá no combate pela vaga do segundo turno, que o diga a comunista que já cutuca a petista em seu horário eleitoral.

Isidório, em nova roupagem nesta eleição, só rivalizou bem sutil com Bacelar sobre as escolas militares - primeiro se colocou a favor e o segundo contra (e não passou disso). 

Por fim, a TVE Bahia merece as congratulações por promover o encontro e mostrar ser possível seguir os protocolos sanitários para evitar o contágio do novo coronavírus, como também fez a Band, e colocar os candidatos cara a cara - mesmo não todos e só aqueles que a lei eleitoral concede a possibilidade de convite. As demais emissoras aproveitaram da pandemia para fugir do compromisso e não deixaram de ser metralhadas pela maioria dos postulantes. 

Pelo menos o encontro foi um aperitivo animado, um sal para uma eleição insossa.

Victor Pinto é editor do BNews, jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. Atua na cobertura jornalística e na área administrativa de rádios em Salvador. 

Twitter: @victordojornal

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