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O FM é o novo AM?

Imagem O FM é o novo AM?
Na verdade a diferença entre o rádio AM e o FM é apenas no modo de transmissão  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 29/10/2020, às 12h30   Maurício Tavares


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Durante muito tempo, e acho que até hoje, as pessoas confundiam AM e FM como diferentes estilos de rádio, diferentes programações. Essa confusão tem origem na chegada do rádio FM no Brasil na década de 70. As primeiras emissoras eram voltadas pra jovens e basicamente musicais. Na época a Zona Franca de Manaus produziu os primeiros sistemas de som Três-em-um que substituiria as antigas radiolas com o acréscimo de um Tape Deck. Nesse tempo também as fitas Cassetes (K-7) era a forma mais popular para se gravar alguma coisa. Essas fitas duravam 60 minutos (30 de cada lado) e só depois surgiriam as fitas de 90 minutos. Aproveita essa nova tecnologia as rádios FM tinham programas musicais que tocavam sem parar músicas por trinta minutos pra permitir que o ouvinte mudasse o lado da fita no intervalo em que o locutor fazia sua participação. Por causa desse início ficou gravado na população que rádio FM era uma rádio voltada pra jovens, que só tocava músicas e que tinha uma linguagem mais “moderna”. Na verdade a diferença entre o rádio AM e o FM é apenas no modo de transmissão. A transmissão em AM é dirigida pra o espaço por isso tem um alcance maior mas sofria de mais interferências. A transmissão em FM é a chamada transmissão em farol, ela é direta como a luz de um farol mas só atinge até 100 km de distância e é sujeita a acidentes geográficos no percurso.

Muita água rolou desde desse início do FM no Brasil e o quadro atual é bem diferente. Com o tempo as FM passaram a ter outro tipo de programação e foram se aproximando lentamente do modelo AM e o renovando em alguns aspectos. Nos últimos anos o governo federal decretou o fim das AM dando um prazo pra todas se transformem em FM. Existe uma série de razões técnicas e econômicas pra essa mudança que não vou falar aqui. O que me interessa nessa mudança é o fim de uma era no rádio, principalmente no rádio do interior. Quem como eu nasceu e viveu um bom período da vida em cidades interioranas, sou de Crato, tem no rádio AM local uma espécie de conexão afetiva. O jornal do meio dia, na minha cidade, era ouvido por todos. E a voz grave e a locução urgente do apresentador ficou gravada na nossa memória.

De uma certa forma isso vai acabar. Os locutores de FM acabaram repetindo um padrão de locução por todo o país. E para as pessoas de cidades pequenas eles representam o novo, como o asfalto, os viadutos e a chegada do MacDonald’s.. Com essa mudança novas questões aparecem. As rádios de Ondas Curtas (OC) de alcance mais longo, a rádio Sociedade da Bahia atinge todo o estado devido a potência de sua antena. Nessa nova era ela vai ter que usar outros meios de transmissão e retransmissão pra continuar atingindo território tão vasto. Mas já era um fim anunciado, ouço sempre rádio em táxis e Ubers e percebi que os únicos que ouviam a Rádio Sociedade eram os motoristas mais velhos ou os que ouviam exclusivamente os programas de futebol. De tudo isso só espero que o rádio do interior não perca sua identidade e continue sendo o mais importante veículo de comunicação local.

Maurício Tavares é professor de Rádio da Facom/Ufba

Classificação Indicativa: Livre

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