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Finados e lutos

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Bnews - Divulgação Arquivo Pessoal

Publicado em 02/11/2020, às 11h11   José Medrado


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A morte, única certeza da vida, mas quase nunca conversada com a naturalidade que deveria ter. Em verdade, penso, o ser humano quer ter controle sobre tudo, principalmente quando se trata do desconhecido. As pessoas, em sua grande maioria, guardam a tendência psicológica de  evitar desconfortos. Agimos assim em tudo aquilo que foge ao que queremos, para evitarmos frustrações, decepções, arrependimentos e culpas. Com a morte a reação não é diferente. É assim, afirmam alguns estudiosos, que se dedica um dia para que essas dores sejam afloradas, choradas e seus “mortos” lembrados mais fortemente. O dia de finados, portanto, é um dia para revisitar o luto, sentir com maior profundidade a saudade.  

O luto, então, precisa, sim, ser vivido em seu momento, quando a dor da separação chega e avassala. Falo de luto no seu sentido real, de perda, não apenas de morte, pois ao contrário do que muitos pensam há luto nas perdas de oportunidades, experiências que não voltam mais, grandes mudanças, fins de relacionamentos, perdas de emprego...Muitos psicólogos também costumam classificar o luto em etapas, mas que podem variar de pessoa para pessoa, de um modo geral são: 1 – Negação - fase em que a pessoa ainda não assimila a realidade e alimenta pensamentos de como voltar a situação anterior à perda; 2 – Raiva - na busca de um culpado pela grande perda, direciona a raiva para pessoas envolvidas na situação: médicos (não se fala aqui de erros), familiares, pessoas do convívio ou a si mesmo, quando este sentimento acontece se manifesta, em geral, a culpa, como se algo mais a pessoa poderia ter feito;3 – Negociação - ela se assemelha muito à negação. É a fase em que busca uma solução para alterar o que aconteceu; 4 – Depressão - a dor e a tristeza ficam mais fortes, incontroláveis; 5 – Aceitação – a realidade se estabelece, a certeza de que o fim se deu.

É fato que o luto, ainda que marcado geralmente por essas fases, cada um de nós viverá à sua forma, haja vista que tudo isso passará pelo nosso conteúdo de vivências, de sentimentos, pela cultura onde estamos inseridos, pelas crenças, pelo contexto da perda – se algo esperado ou repentino e claro pelo tipo de relação que se tinha antes dele acontecer.

Muito, então, me perguntam como agir neste dia de finados: ir ou não ao cemitério, buscar conexão sentimental ou não? Respondo que o coração dirá, mas com a certeza que os túmulos, em meu entendimento e crença, são apenas um repositório de  roupas que não terão mais uso, a essência não estará ali. Ademais, disse-me um amigo espiritual: “A perda, a morte de outra pessoa...pode ser o fim da vida com aquela pessoa, mas não pode ser o fim da sua vida com as outras pessoas”.

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