Economia & Mercado

Nova Estimativa: RLAM foi vendida abaixo do preço

Arquivo Pessoal
Bnews - Divulgação Arquivo Pessoal

Publicado em 01/04/2021, às 19h19   André Garcez Ghirardi e Claudiane de Jesus


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Em 8 de fevereiro último a Petrobras informou ter concluído o processo de venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM) e seus ativos logísticos associados (portos, dutos, tanques) ao Mubadala Capital pelo valor de US$ 1,65 bilhões. Na mesma data foi publicado estudo mostrando que o preço justo da RLAM seria o dobro do que foi aceito pela Petrobras . Foi também divulgada estimativa feita por um banco de investimentos segundo a qual o preço de venda da RLAM estaria subestimado em 35% .

Em 23 de fevereiro a Petrobras foi notificada sobre a necessidade de aval do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para concluir a venda da RLAM . A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o senador Jaques Wagner ingressaram ação popular pedindo suspensão imediata da venda da RLAM. Ao mesmo tempo, o Sindipetro denunciou a operação de venda ao Tribunal de Contas da União. 

O estudo mencionado acima se baseia em estimativas da geração futura de caixa pela empresa. O preço assim calculado é denominado valor intrínseco da empresa. A estimação do preço da RLAM depende de previsões de longo prazo, com grandes incertezas. Para reduzir as incertezas nesse tipo de transação é comum o uso de diferentes métodos para estimar o preço do ativo em questão e comparar os resultados. Para efeito de comparação, fizemos uma estimativa simples pelo método de avaliações relativas. São ditas avaliações relativas porque entendem que deve haver semelhança ou equivalência entre empresas semelhantes. É um método amplamente usado por bancos de investimento, e é baseado numa simples multiplicação. O preço é calculado multiplicando-se o resultado gerado anualmente pela refinaria por um fator médio para o setor. 

É o mesmo que se faz ao avaliar um imóvel pelo preço médio do metro quadrado. Assim como há variações no preço do metro quadrado de imóveis, há variações no múltiplo adotado para indústrias como a RLAM. Adotando-se um múltiplo conservador para a indústria (seis) e assumindo a geração média de caixa das refinarias relatada pela Petrobras (US$ 7 por barril processado nos dois últimos trimestres)  obteve-se para a RLAM uma estimativa de preço de USD 3,8 bilhões. O resultado dessa estimativa simples reforça a suspeita de que a RLAM está, de fato, muito subestimada. Valeria mais que o dobro do preço de USD 1,65 bilhão aceito pela Petrobras. Note-se que se trata de estimativa feita com pressupostos conservadores: em anos recentes a Petrobras informou valores muito maiores para a geração média de caixa das refinarias (US$ 12 por barril em 2017). Ou seja, o preço justo poderia ser ainda maior.

Efeito sobre os preços de combustível

Além dessa grande diferença de preço, a venda da RLAM, por qualquer preço, causará prejuízo à população ao aumentar a necessidade de importar combustíveis. Os preços do GLP, do diesel e da gasolina no Brasil estarão mais diretamente ligados ao preço internacional.

Pouco adianta ser autossuficiente em petróleo se o país não tem refinarias para abastecer o mercado interno. É por isso que, durante o governo Lula, a Petrobras investiu na construção de novas refinarias e na expansão de capacidade das refinarias existentes, inclusive a RLAM. A partir do governo Temer a Petrobras passou a ter gestão voltada exclusivamente para os resultados financeiros. Essa gestão financista foi aprofundada no governo Bolsonaro, com base na venda acelerada de ativos estratégicos da companhia, a começar com a venda da BR Distribuidora em julho de 2019, seguida de um ambicioso plano de vendas de oito refinarias. A RLAM é apenas a primeira delas.

Se levada adiante como está, a venda da RLAM será duplamente danosa. A Petrobras vai se desfazer de um ativo estratégico por preço abaixo da prática de mercado. E o Brasil vai aumentar sua dependência de importações para abastecer o mercado interno de combustíveis.

Autores:

André Garcez Ghirardi - Pesquisador do Núcleo de Estudos Conjunturais da Universidade Federal da Bahia Professor (NEC/UFBA).  Mestre em Technology and Policy pelo Massachusetts Institute of Technology. Doutor pelo Energy and Resources Program da University of California Berkeley (1983). Mestre em Technology and Policy pelo Massachusetts Institute of Technology.

Claudiane de Jesus - Mestrando pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP). Graduada em Economia e pesquisadora do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC), da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Classificação Indicativa: Livre

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