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Cinismo e Linguagem

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Bnews - Divulgação

Publicado em 17/05/2021, às 11h03   José Medrado


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O Cinismo, como corrente filosófica, tinha como defesa o total desprezo pelos bens materiais e o prazer. Os filósofos cínicos desdenhavam de tudo que fosse componente de bem-estar e de   satisfação, buscavam uma vida simples em consonância com a natureza. Os cínicos eram, então, pessoas que desprezavam os ordenamentos sociais.

Em seu significado de origem no grego kynismós, que significa "como um cão", reflete a forma de vida dos adeptos dessa filosofia. É possível que daí tenha surgindo a corrupção do sentido da filosofia cínica, e virado instrumento de ataque, de escamotear ou mesmo destroçar verdades, em ataques verbais desestruturadores. O cinismo se torna uma figura de linguagem como forma de dominação. Usado com recorrência na política partidária, muito usada em confronto para constranger e mesmo humilhar oponente.

O famoso político baiano Antônio Carlos Magalhães era mestre nesta performance. Diante de um cínico, uma pessoa comum não consegue dizer nada, pois se sente desarmada, quando não irritada e geralmente perde o controle. Com o cínico não há diálogo, pois a língua é viperina.

O problema, no entanto, é quando este “viés” de diálogo ganha espaço na sociedade, associando-se à ironia, porque se cria fumaça em tudo que seja verdade, ou pelo menos o mais próximo dela, causando dúvida sobre fatos concretos, dando-se, por conseguinte, espaço de construção a narrativas, a versões, que vão esfacelando histórias e acontecimentos. O cinismo é o cancelamento de diálogo e relacionamento civilizado com o outro, inviabilizando acesso pelos argumentos.

É fato também que o cinismo evidencia um esgotamento emocional, em uma espécie de “não aguento mais” então vou passando por cima como puder. É fraqueza. Tudo isso só vem ao encontro da certeza de como vemos o mundo e o outro e se temos hostilidade neste processo? Haverá um momento do revés, da volta.

Um estudo feito por dois psicólogos sociais, Daniel Ehlebracht, da Universidade de Colônia, e Olga Stavrova, da Universidade de Tilburg, após analisar dados de 40.000 pessoas, os pesquisadores concluíram que o cinismo tem impacto real na vida de relação e na deterioração da saúde das pessoas, levando ao seus, digamos, adeptos, a terem uma sensação de não ter controle sobre a própria vida, gerando com que as pessoas que sofrem com isso aprendam a criar estratégias de autoproteção, como a desconfiança e a hostilidade, dando lugar a uma visão cínica do mundo em sua volta, de seus problemas e das pessoas.

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