Não é preciso fazer nenhum exercício de futurologia para vislumbrar uma derrota de Fernando Haddad (PT) no segundo turno marcado para o próximo dia 28 de outubro. A verdade é amarga para a esquerda: no primeiro turno já eram 18 milhões de votos de diferença entre ele e Jair Bolsonaro (PSL) e seria, no mínimo, ingenuidade acreditar que esse número de eleitores iria migrar para o PT.
O senador eleito Cid Gomes (PDT), em mais um ato de sincericídio, jogou a pá de cal que faltava na campanha petista nesta segunda-feira (15). Como se diz na Bahia, o irmão de Ciro “largou o doce” durante o lançamento da campanha pró-Haddad no Ceará. Deixou claro que Bolsonaro só tem esse tamanho hoje por causa do próprio PT. Ou melhor, por causa do próprio Lula - porque até o senador eleito Jaques Wagner, coordenador da campanha nacional da agremiação, era contra a candidatura de Haddad e a favor do apoio a Ciro Gomes (PDT). Wagner não foi ouvido. E deu no que deu.
Cid falou o que o PT se recusou a ouvir. "Lula o quê? Lula tá preso, ô babaca. O Lula tá preso. O Lula tá preso. E vai fazer o quê? Babaca, babaca. Isso é o PT. E o PT deste jeito merece perder", reagiu, após exigir um "mea culpa" dos militantes pelos erros cometidos na gestões Lula e Dilma (esta, aliás, derrotada nas urnas na campanha à senatoria por Minas Gerais).
A última pesquisa do Ibope, divulgada horas antes do discurso, trouxe um dado surpreendente: a rejeição de Haddad ficou maior que a de Bolsonaro. O placar de eleitores que não votaria de jeito nenhum no postulante petista está 47%, contra 35% do oponente. A cúpula do PT apostava na alta rejeição do deputado federal para derrotá-lo nas urnas, mas a realidade é outra e Bolsonaro só depende dele mesmo para se eleger.
A principal arma que Bolsonaro tem contra o Partido dos Trabalhadores é justamente o discurso antipetista. E o partido foi alertado inúmeras vezes sobre isso quando as pesquisas apontavam que o postulante do PSL perdia para todos os demais candidatos (exceto Haddad). Após anos tapando os ouvidos, o PT será penalizado nas urnas da pior forma possível.
*Henrique Brinco é repórter de política do Bocão News e do jornal Tribuna da Bahia, já tendo passado por grandes portais de notícias de Salvador.
