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Sinal vermelho

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Bnews - Divulgação

Publicado em 11/01/2019, às 07h00   Padre Alfredo Dórea*


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O vermelho do mês de dezembro não é alusão às vestes de Papai Noel nem a qualquer ideologia. Remete sim à rubra cor do laço da luta contra a AIDS, a pandemia que ainda está longe de ser debelada, com dados que acendem o sinal de alerta.

Na América Latina o Brasil é quem mais concentra casos de novas infecções por HIV: Segundo a UNAIDS, das pessoas contaminadas, em 2016, 49% eram brasileiras.

O mais grave é que, das  4.500 novas infecções pelo vírus HIV em adultos, no Brasil, 35% ocorreram entre jovens  de 15 a 24 anos.

O Ministério da Saúde já considera que há uma "epidemia entre os jovens".  Entre 2006 e 2015, a taxa de detecção de casos de AIDS entre jovens do sexo masculino, com 15 a 19 anos, quase que triplicou, de 2,4 para 6,9 casos por 100 mil habitantes. Para os da faixa dos 20 aos 24 anos, o índice mais do que dobrou: de 15,9 para 33,1 casos por 100 mil habitantes (UNAIDS).

Nas muitas ações de prevenção realizadas por ONGs em Salvador, durante o mês de dezembro, constatamos perplexos: ausências recorrentes do teste rápido, medicamentos ARV (Anti Retro Virais) e insumos (preservativos masculinos, femininos e géis)em unidades de saúde; restrição de muitas unidades públicas de ensino para adolescentes e jovens, quanto à ações de prevenção, mesmo as oferecidas gratuitamente naquelas unidades; ausência absoluta de postos de disponibilização de insumos, orientação e prevenção, nas portas de entrada da cidade - aeroporto, estações rodoviária e ferroviária, terminais marítimos, etc.

Imperioso deduzir que a prevenção à pandemia do HIV AIDS ainda não parece ser prioridade na Salvador de população marcadamente jovem, dos grandes eventos e milhões de turistas o ano todo.

A prevenção ao HIV AIDS é imperativo de todos os dias e não somente no dezembro vermelho. As discussões sobre as questões de resistência, enfrentamento e prevenção devem ser travadas com mais abertura e maior frequência em todos os meses do ano. Talvez só assim consigamos reduzir danos e salvar vidas.

Gestores retrucarão com "dados", estatísticas e números internos. Usuários, usuárias e militantes testemunhamos e denunciamos o aqui afirmado, na expectativa que a luta contra a AIDS, em Salvador, não seja mais uma "brincadeira de papel".

*Padre Alfredo Dorea é arcebispo da Igreja Anglicana Tradicional do Brasil. Graduado em filosofia e teologia. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Atua no diálogo interreligioso, combate às violências, discriminações e preconceitos, defesa dos direitos humanos e das pessoas mais vulneráveis e empobrecidas, sobretudo as que vivem com o HIV AIDS. Escreve para o BNews quinzenalmente.

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