Metrolândia

Acessibilidade, ampla sinalização, respeito às prioridades, limpeza, pontualidade, vagões climatizados. O metrô funciona qual uma bolha de civilidade e bons serviços, em meio ao caos soteropolitano.

Vendedores não assediam passageiros, nenhum pedinte, nem os fanáticos religiosos fazem dali seus púlpitos. Quem pagou para viajar, assim o faz com tranquilidade e segurança. Até os assaltantes, tão frequentes nos "buzús", ali não importunam os milhares de viajantes. As músicas são curtidas individualmente, por quem assim o quer, nos seus fones de ouvido. A Bahia dos sem limites volumes de som aqui não tem lugar!

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E as pessoas usuárias dos serviços, sempre acusadas de sujar e depredar os meios de transportes públicos, ali utilizam civilizadamente o serviço pelo qual pagaram. Nenhum sinal de violência, de qualquer ordem.

Supreendentemente tudo funciona como deveria ser, devolvendo aos cidadãos, em bons serviços, os altos impostos que pagamos. Até a cortesia do pessoal que ali trabalha chama a atenção, nesta urbe onde a grosseria de quem presta serviço público, em todas as esferas e níveis, virou vergonhosa rotina.

Pena que a viagem de metrô dure só alguns minutos. Urge esconder o celular, o trocado da feira e descer apreensivo do vagão, de volta ao caótico e violento mundo urbano desta cidade de São Salvador. A nave paradisíaca seguirá no seu movimento pendular, acenando que é possível prestar um serviço público de qualidade à uma população obrigada a pagar, por eles, impostos acachapantes.

*Padre Alfredo Dorea é arcebispo da Igreja Anglicana Tradicional do Brasil. Graduado em filosofia e teologia. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Atua no diálogo interreligioso, combate às violências, discriminações e preconceitos, defesa dos direitos humanos e das pessoas mais vulneráveis e empobrecidas, sobretudo as que vivem com o HIV AIDS. Escreve para o BNews quinzenalmente.