Com que roupa eu vou?

A voz terna e afetuosa de Alana convida:

- O Senhor aceita ser meu padrinho?

Tem treta?

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Vem aí!

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Os olhos marejados sufocam a resposta, que ela bem compreendeu afirmativa. Fraterno privilégio ser escolhido por padrinho daquela que vi crescer e que agora se casará.

Ato contínuo entrega-me o convite feito artesanalmente por ela e pelo noivo. Tudo muito lindo, amoroso e cuidadosamente preparado, salvo o encarte anexo, onde os cerimonialistas (que não sei onde são formados) indicam o traje e a cor da gravata a serem usados pelos padrinhos. Triste fantasia, nada alegórica. De fazer inveja às alas das escolas de samba do segundo grupo.

Indicar traje em nada combina com a delicadeza de convidar alguém para confraternizar com você em qualquer evento. "Passeio completo", "esporte fino", "a rigor", seriam trajes assim tão necessários quanto a presença da pessoa querida? Nada mais grosseiro que Indicá-los em convites. Sequer nos tribunais são apreciadas as fantasiosas togas.

E se avançarmos nesta sandice, veremos em futuro indicação de trajes também para funerais ou missas de sétimo dia?

- Depois de morto, vistam-me como quiserem; em vida decido eu, e não cerimonialistas, como me devo vestir! Ouviu de mim a assustada afilhada.

Enxugadas as lágrimas e o espanto, confirmo minha presença enquanto padrinho, com o traje escolhido por mim e no qual me sentirei confortável, física e financeiramente. Como bem disse Maria Bethânia, já não tenho mais idade para viver o que não é verdade. E já que o hábito não faz o monge, que o "traje a rigor" seja merecidamente "La leche para los puretas".

*Padre Alfredo Dorea é arcebispo da Igreja Anglicana Tradicional do Brasil. Graduado em filosofia e teologia. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Atua no diálogo interreligioso, combate às violências, discriminações e preconceitos, defesa dos direitos humanos e das pessoas mais vulneráveis e empobrecidas, sobretudo as que vivem com o HIV AIDS. Escreve para o BNews quinzenalmente.