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O crédito destinado ao endividamento das famílias

Imagem O crédito destinado ao endividamento das famílias
Bnews - Divulgação

Publicado em 23/04/2019, às 18h52   Thiago Bartolomeu e Vitória Pimentel*


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O atual contexto de incerteza na economia internacional e o adiamento das subidas da taxa de juros norte-americana por parte do Banco Central dos Estados Unidos, Federal Reserve, tem permitido a manutenção da taxa determinada pelo Banco Central do Brasil, a SELIC, num mínimo de 6,5% ao longo de 2019. Esperava-se, então, a progressiva redução das taxas de juros praticadas no mercado de crédito, no entanto, é perceptível um aumento da taxa de juros total. As empresas, representadas pelas pessoas jurídicas, são as mais prejudicadas, pois não conseguem expandir a sua capacidade produtiva.

Ao observar a taxa de juros para pessoas jurídicas, nota-se que esta vem de um aumento em dezembro de 2018 para janeiro de 2019, significando uma diminuição de R$ 39 milhões no saldo da carteira de crédito total, seguida de uma diminuição da taxa de juros de janeiro a fevereiro de 2019, refletindo em um aumento de R$ 950 mil na carteira de crédito, apenas. O crédito para pessoas jurídicas precisa ser incentivado pois gera crescimento econômico, recuperação do emprego e, de forma mais geral, aumenta o nível de renda. As altas taxas de juros para pessoas jurídicas impedem a abertura de novos empreendimentos, a capacidade de criar riqueza do nosso país fica constrangida.

Outrossim, há também um aumento progressivo da taxa de juros para pessoas físicas desde dezembro de 2018. Nota-se, nesse cenário, o aumento progressivo no endividamento das famílias com os bancos nos últimos meses, configurando-se hoje em 42,9% em relação à renda acumulada dos últimos dozes meses das famílias brasileiras. Dessa forma, a produção e os seus principais componentes não crescem, considerando que o consumo das famílias e o investimento privado estão prejudicados.

O saldo total da carteira de crédito nos primeiros meses de 2019 houve um pequeno crescimento, ancorado exclusivamente no crescimento constante para pessoas físicas em detrimento a redução ao crédito para as empresas. O modelo de gestão dos principais bancos comerciais do Brasil explica parcialmente essa compensação que é feita entre pessoas físicas e jurídicas, pois ao observar o balanço patrimonial das principais instituições financeiras comerciais brasileiras percebe-se que o crédito destinado as famílias é preferencial.

A captação de recursos dos bancos está, cada vez mais, dependente das operações de muito curto prazo com contratos de recompra firmado entre as instituições financeiras para provir controle, diário, dos seus fluxos financeiros. A gestão da carteira de crédito dos bancos se adapta a esse tipo de operação, consequentemente, o crédito as famílias, principalmente o crédito consignado, está ganhando cada vez mais espaço frente ao crédito de longo prazo que provém o desenvolvimento econômico, pois os riscos, dessa maneira, são atenuados.

A Caixa Econômica Federal (CEF) é o único, dentre os principais bancos comerciais, que rompe com essa harmonia. Por ser um banco totalmente público, a sua carteira de crédito é mais voltada ao desenvolvimento. Ao observar as captações de recursos da CEF verifica-se que é o banco menos dependente dos empréstimos interbancários de curto prazo, por essa razão, é a instituição menos vulnerável a possíveis choques adversos da economia como, por exemplo, a um possível congelamento de empréstimos interbancários visto na crise financeira de 2008.

Identifica-se, também, neste cenário, o papel fundamental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que apresenta reduções elevadas dos desembolsos desde 2013, resultando em R$ 69,3 bilhões de reais no final de 2018. Ao comparar o ano de 2013, que foi de R$ 190,4 bilhões, verifica-se que o banco tem desembolsado menos dinheiro com o passar dos anos. Todavia, segue sendo o principal financiador a longo prazo do país e, contemplando os principais investimentos para o desejável aumento da produtividade nacional.

Em um futuro próximo, esta dinâmica que envolve o endividamento das famílias e o não incentivo ao crédito para o desenvolvimento poderá tornar-se insustentável, sobretudo no cenário de eventual subida das taxas de juros internacionais. Assim, este debate se torna imprescindível no Brasil, após anos de recessão econômica e uma recuperação muito lenta, o cenário descrito neste artigo evidencia que o futuro não será animador para os estimadores econômicos e, principalmente, para a população.

Thiago Bartolomeu - Graduando em Economia pela Faculdade de Economia da UFBA. Estudante Pesquisador do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC) da UFBA* 

Vitória Pimentel -  Graduanda em Economia pela Faculdade de Economia da UFBA. Estudante Pesquisadora do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC) da UFBA*

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