Educação

E na “balbúrdia” me forjei desde 2010

Imagem E na “balbúrdia” me forjei desde 2010
Estudei e aprendi muita balbúrdia (no bom sentido da ressignificação da palavra)  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 06/05/2019, às 14h49   Victor Pinto


FacebookTwitterWhatsApp

Depois da queda, o coice. É assim que o sertanejo sempre se refere a algo pior que nos reserva quando algo *ruim* já aconteceu. Tenho a sensação de receber coices atrás de coices quando vejo entrevistas, declarações e atitudes de pessoas em locais de poder de interferências na vida de todos nós. A troca de ministros da Educação segue um trajeto cada vez pior. Agora o olavete  Abraham Weintraub nos joga uma pedrada ao vangloriar o corte de 30% do orçamento da Universidade Federal da Bahia (Ufba), uma das mais importantes do país.

Sou formado das fileiras da Ufba, onde em 2010 deixei a querida Conceição do Coité, interior da Bahia, e cheguei à selva de pedra soteropolitana para estudar e aprender muita balbúrdia (no bom sentido da ressignificação da palavra).

Balbúrdia foi a justificativa dada pelo inábil ao se referir à tesourada na verba de manutenção da universidade.  “Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas”. Um viés totalmente sem nexo, sem fundamento técnico, o que contraria o senso do próprio governo que aponta o fim da ideologia, mas acaba tomando atitudes eleitoreiras de segmento ideológico. Depois Weintraub voltou atrás da bagunça feita, mas para anunciar cortes em todas as instituições e tentar criar um caráter isonômico à medida.  

A Ufba, criada nos idos de 1808 com a chegada da Família Real ao Brasil e a qual arrisco a dizer ser a mãe de todas as universidades locais, tem melhorado e muito sua posição de rankings em levantamentos brasileiros e internacionais. A exemplo da publicação britânica Times Higher Education (THE) cuja universidade baiana saiu da posição 71 para a 30 da América Latina e se destacou pela boa avaliação em ensino e pesquisa.

Se a Ufba, na faculdade de Comunicação, me ensinou a balbúrdia, creio que sigo dando conta do recado e fazendo muita no meu dia a dia como profissional e cidadão brasileiro. Tenho colegas profissionais e de vida sensacionais que também foram forjados na mesma fileira na graduação, pós, mestrado ou doutorado e só se destacam pelo exercício dos seus ofícios.

Há espaço de desordem no ambiente universitário que pode ser combatido, e acho que foi isso que o ministro quis se referir, contudo não é no corte de verbas o método para tal. Isso só faz comprometer um todo, cuja maioria não vai na lógica da bagunça.  

Prefiro ficar com a declaração dada pelo reitor João Carlos Salles: “Só quem não conhece o diálogo entre as ciências, a confrontação de gerações que ocorre no espaço da universidade pode ver indecência em nossa balbúrdia. A nossa universidade pode ser espaço de balbúrdia, porque ela nunca será o espaço da barbárie”.


* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. Atua na cobertura política em sites e rádios de Salvador. Twitter: @victordojornal

** Esse artigo é publicado simultaneamente no jornal Tribuna da Bahia

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp

Tags