Política

A fonoaudiologia bolsonariana para as vozes surgidas das ruas

Imagem A fonoaudiologia bolsonariana para as vozes surgidas das ruas
A prova da falta do trato foi escancarada no dia 15 de maio  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 20/05/2019, às 15h22   Victor Pinto


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Ao invés de extintores, o presidente Bolsonaro tem jogado galões de gasolina na fogueira da opinião pública contrária a ele. Isso não é porque seria o político “porretão”, em sonoro e bom baianês, mas são as faltas do traquejo diplomático e do tato político pedidas pela função.

A sensação de palanque eleitoral ainda paira nas hostes palacianas em Brasília e esse fato é constatado de dez entre dez deputados federais dos mais diferentes partidos e de distintos anos de experiência no Congresso aos quais tenho conversado ultimamente.

A prova da falta do trato foi escancarada no dia 15 de maio. Acordamos, em muitas capitais do País, com tímidas manifestações conclamadas por professores, universidades e entidades do setor. Contudo, bastou o presidente chamar aqueles manifestantes de “idiotas úteis”, “imbecis” e “massa de manobra” para as movimentações da tarde aquecerem. Nas redes sociais o assunto tomou força.

Por mais que partidos políticos tenham tentado conduzir o movimento, Bolsonaro acendeu o movimento estudantil, aguçou a curiosidade de quem estava avesso ao processo político e, o mais importante, repete o erro de Dilma Rousseff (PT), em 2013, ao não tentar, sequer, ouvir a voz das ruas, ainda rouca, mas se encampada por muitos pode ecoar.

Naquele dia 15 era o povo na rua e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, no Congresso vociferando e vomitando boçalidade. É só ver. É só assistir. Foi ele o principal causador da celeuma ao gravar um vídeo regozijando o corte e acusando as universidades de balbúrdia por si só.  

Os governos Lula e Dilma, ambos do PT, cortaram as verbas da educação e não foi pouco. Em 2015 mesmo foram tesourados R$ 9,4 bilhões da pasta. Os dois não passaram ilesos: teve manifestação e teve, principalmente, greves da comunidade acadêmica. Bolsonaro não é e nem nunca será um santo que passaria incólume a esse ônus da cadeira presidencial e a ainda conduzindo o processo como o faz.

Já não basta os episódios dos aliados batendo cabeça, das teorias das conspirações de derrubada de poder por parte dos militares e do astrólogo Olavo de Carvalho, dos problemas com os filhos - principalmente o senador Flávio Bolsonaro (PSL/RJ) e o caso dos laranjas na ALERJ e a briga com o Ministério Público -, o presidente não tem dimensão (ou não sabe ou finge não ter) da importância da sua própria “fonoaudiologia”.

Em tempo: vale o registro da gestão Rui Costa (PT) aqui na Bahia. Sem muito alarde, fez o movimento contrário ao do presidente: paulatinamente tem tesourado verbas da Educação, principalmente do Ensino Superior, conforme apontam as entidades sindicais. O governo rebate e nega. O caso é um argumento certeiro utilizado por apoiadores do presidente ao contra argumentarem com petistas e aliados. Macaco aqui não olha para o próprio rabo.

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. Atua na cobertura política em sites e rádios de Salvador. Twitter: @victordojornal

** Esse artigo é publicado simultaneamente no jornal Tribuna da Bahia

Classificação Indicativa: Livre

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