Política

Aqui e acolá de forma leviana

Imagem Aqui e acolá de forma leviana
Bnews - Divulgação

Publicado em 24/05/2019, às 12h03   Luiz Fernando Lima


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O crescimento vertical do uso das redes sociais no meio político é um fenômeno com pouca, ou nenhuma, ciência naquilo que se refere aos resultados práticos. Aproximar a política da cidadania é o desafio maior para quem atua na representação das pessoas, contudo, até que ponto os recursos empregados através das redes sociais impactam no mundo real do desenvolvimento de políticas para a sociedade é outro papo.

Nesta semana, ganhou visibilidade a foto de Pedro Ladeira, fotógrafo da Folha de S. Paulo, dos deputados federais do PSL fazendo lives para as redes durante a votação que tirou do ministério da Justiça (chamado de ministério de Sérgio Moro como se este fosse o dono) para a pasta da Economia. A pressão de parte significativa dos internautas era para que permanecesse onde estava.

Este é um caso ilustrativo diante da profusão de parlamentares “influenciadores digitais”. Primeiro, as lives todas não geraram pressão suficiente para mudar o lado político de quem sabia o recado prático que queria dar. A proposta de mudança foi aprovada. Segundo, os deputados “blogueiros” não conseguiram e seus hiperativos seguidores não se interessaram em saber o que de fato representava a mudança de pasta. 

Os tempos são de simulacro no conceito trabalhado, entre outros, pelo filósofo (olhe eles aí ministro da Educação de sobrenome impronunciável) Jean Baudrillard: os simulacros são estas simulações errôneas sobre o real e que despertam maior atração ao espectador do que o objeto ou situação que está sendo reproduzido.

O fato é que em meio à engenharia política o que se vê é intransigência comprometida por uma impressão do que deve ser feito diante da pressão exercida pela rede social. A parte de um todo que é mera ilusão vendida como assertiva para um mundo melhor, mais justo e anti-PT. 

Nem de longe, esta sensação de democracia direta é democracia direta. Não existe construção de consensos progressivos. Não há construção de nada, na verdade. O que tem sido demasiadamente representado é um falar vazio para a plateia (seguidores), sobre assuntos não estudados, sem saber as consequências de médio e longo prazo, sem responsabilidade com a verdade concreta. 

A oposição ao governo de Jair Bolsonaro não é de todo diferente. Em meio a tantos protestos contra a reforma da Previdência, pergunte para o cidadão de qualquer camada social qual o impacto real sobre a sua aposentadoria caso a proposta do Executivo seja aprovada. O recorte é pobre, simplista e vendido ao gosto do patrão que mais lhe influencia.

Não existem ainda estudos e apontamentos para indicar como será o futuro, a curto prazo, da República Federativa, no entanto, os caminhos trilhados neste momento são extremamente frustrantes tanto para quem defendeu o fim da corrupção, quanto para aqueles que pensam no desenvolvimento e, sobretudo, para quem acredita no progresso da humanidade.

A agenda do governo e de parte do Congresso Nacional, respaldada por internautas irresponsáveis e/ou sem nenhuma noção, interesse ou disposição para entender como funciona uma república, é feita de proselitismo infantil e práticas corrosivas. Enquanto os filhos do presidente batem boca com militares empossados, Paulo Guedes não consegue interseção com o Congresso e tampouco falar com a massa da sociedade. 

Sérgio Moro não é diferente. Enquanto estava togado em Curitiba, despachava sentenças e se vestia de senhor da moralidade, com declarações duras contra corrupção e utilizando subterfúgios pouco éticos para conseguir apoio popular para condenações. Como ministro, calou-se em casos de denúncias graves, quieto ficou quando assassinatos foram cometidos e uma barata tonta o é quando o assunto é propor leis.

O pacote defendido por ele está aí. Se Moro ganhou a narrativa à época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ao vazar de forma ilegal áudios de uma conversa dela com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, agora, ele perde. Com tantas postagens pululando nas redes, quantas pessoas sabem do que se trata a reforma de Moro?

A ministra Damares é um clichê de insanidades que merece ser tratada como isto mesmo, um clichê. Para ela, resta apenas um jargão batido: seria cômico, se não fosse trágico.

Para concluir, domingo tem manifestação convocada pelo governo. Pelo governo que ainda não saiu da live das redes sociais para governar responsavelmente como deveria. Tem ator político com receio de que, se der muita gente, haverá um emparedamento da classe política parlamentar. Entretanto, o fato é que dando ou não gente na manifestação, dificilmente este governo terá salvação.

Enquanto a queda não vem, o negócio é dar um like aqui e comentar alguma besteira acolá de forma leviana.

Luiz Fernando Lima é jornalista

Classificação Indicativa: Livre

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