Política

Os velhos traquejos de Odorico Paraguaçu e Justo Veríssimo estão mais vivos do que nunca

Imagem Os velhos traquejos de Odorico Paraguaçu e Justo Veríssimo estão mais vivos do que nunca
Qualquer comparação com a realidade não passa de uma mera coincidência  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 03/06/2019, às 12h50   Victor Pinto


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A política sempre foi alvo da comédia. Zombar e tirar sarro de situações, contextos e personagens que fazem parte dessa grande arena eleitoral faz parte do nosso cotidiano, nas charges, em artigos e, principalmente, no rádio e na televisão. Dias Gomes e Chico Anísio - já falecidos - foram dois mestres na arte de representar aquilo que o político brasileiro carrega em sua essência. Não digo de uma maneira generalizada, mas arrisco em asseverar ser em sua plena maioria.

Escritor de peças teatrais e novelas memoráveis, Dias Gomes, foi o pai de Odorico Paraguaçu, personagem épico interpretado por Paulo Gracindo em O Bem Amado (primeira novela a cores do Brasil pela TV Globo em 1973) e posteriormente por Marco Nanini em um filme mais recente sobre a mesma história. O lendário prefeito baiano de Sucupira chega as urnas com a promessa de construir um cemitério caso eleito fosse. Ganhou, construiu, mas sua peleja toda foi em torno da inauguração do “difuntório”.

As características “coronelescas” de Odorico dão o tom de todos os materiais produzidos sobre a obra que virou série e até outros livros com diversos causos muito interessantes. As invenções de viagens de Paraguaçu para outros estados e países sem compromissos oficiais, mas sempre com uma cortina de fumaça para viajar e não cair nas garras da oposição; a tentativa de invadir uma ilha e convocar uma guerra local; contratar o maior assassino da região para tentar inaugurar o dito cemitério além dos discursos acalorados com palavras e termos inventados.

Recentemente ouvi um novo formato de podcast de humor produzido pela rádio CBN chamado de rádio Sucupira. Eles pegam trechos de falas e contextos de O Bem Amado, na voz do Odorico original e outros atores, e mesclam com situações reais nossas. Foram assim nos anos de Dilma Rousseff (PT), de Michel Temer (MDB) e agora está no de Jair Bolsonaro (PSL). Quem conhece e acompanha a política é difícil segurar a gargalhada. As trapalhadas dos discursos e das articulações políticas do capitão não têm ficado atrás dos seus antecessores.

Já o Justo Veríssimo de Santo Cristo, de autoria e interpretação de Chico Aniso, era deputado federal eleito pelo Pernambuco. Todo alinhado, cabelo lambido, óculos redondos e bigodão de Hitler na ponta da boca, Veríssimo fazia o diabo com o seu eleitorado e com os contextos nos quais estavam inseridos. Um dos seus bordões mais conhecidos é aquele que diz: “Tenho raiva de pobre, quero que pobre se exploda”. E o que tem de político com esse mesmo pensamento ou de querer o pobre ainda mais miserável para poder tirar proveito das nuances não está no gibi.  

Um vídeo compartilhado pelas redes sociais há pouco tempo me fez crer que tanto Dias Gomes como Chico Anísio não perderam a validade e suas sátiras ainda produzem conteúdos atualizados.

Em determinado momento o deputado Justo propõe uma reforma da previdência chamada de Tartaruga e só para pobre, claro! Questionado se o nome se dava pela demora para sair o benefício, ele negou. “Idiota! Só se o pobre viver 200 anos como tartaruga vive é que vai conseguir se aposentar. Até lá é pau no lombo!!!”, brada. Há quem defenda que essa foi a premonição que permeou a chegada de Paulo Guedes no Ministério da Economia.

No mais, como apontam ser obras de ficção, nunca se esqueça: qualquer comparação com a realidade não passa de uma mera coincidência. Será?!

* Victor Pinto é jornalista formado pela Ufba, especialista em gestão de empresas em radiodifusão e estudante de Direito da Ucsal. Atua na cobertura política em sites e rádios de Salvador. Twitter: @victordojornal

** Esse artigo é publicado simultaneamente no jornal Tribuna da Bahia

Classificação Indicativa: Livre

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