Política

Lindbergh Farias defende radicalização no PT e desdenha de “nova direita”

Publicado em 01/04/2017, às 00h00   Alexandre Galvão | Fotos: Vagner Souza / Bocão News


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Nordestino e senador pelo Rio de Janeiro, Lindbergh Farias concorre à presidência do PT. A candidatura, segundo afirmou ao Bocão News, surgiu após movimentos de membros do partido, que defendiam alianças com Rodrigo Maia (DEM) e Eunício Oliveira (PMDB). 
“Sou da turma que se levantou contra Rodrigo Maia (DEM), Eunício Oliveira (PMDB). Somos da turma que se opôs contra a aliança com o Cunha, porque infelizmente tem gente que defendeu. Isso seria a desmoralização do PT. Então, a gente quer um PT mais aguerrido”, afirmou. 
Para o senador, a oposição, a mídia e a Justiça não reúnem condições de prender o ex-presidente Lula. “Contra o Lula não tem prova. Há anos procura-se coisas contra Lula e não acha. Sinceramente, se impedirem um candidato do campo popular, que lidera as pesquisas, de participar da eleição, é melhor acabar. É uma fraude. Não tem mais democracia, não tem resquício democrático. A discussão é se vale participar ou não. Acho que a gente tem que elevar o nosso discurso. Essas elites querem fazer o que querem. Querem escolher quem pode ser candidato. Eu acho que eles não têm condições de impedir o Lula de ser candidato”, analisou. 
Para o petista, a nova direita, representada pelo prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB), é “ignorante” e “burra”. “Eu acho que Lula janta o Dória. Ele não tem condições de falar com o sertanejo aqui. Às vezes me dá irritação o grau de burrice da vida política no Brasil. Esse pessoal sem rumo só falando de austeridade”, finalizou.
Alexandre Galvão | Fotos: Vagner Souza / Bocão News
Primeiro, queria conversar com o senhor sobre as questões mais nacionais. Como o senhor tem visto essas reformas propostas pelo governo Temer? 
Os pressupostos do golpe estão ruindo. Primeiro diziam que bastava tirar a Dilma que a economia ia melhorar e estamos vendo a recessão a pleno vapor e a gente fala em desemprego de 14% ao final do ano. O projeto de Temer só aprofunda a crise. Estamos numa crise violenta, política, econômica, social, redução de salários, estados e empresas quebradas e eles só falam em austeridade. E tinha que ser o contrário. O país tinha que investir. Foi assim que o Brasil saiu da crise com o Lula em 2008 e 2009. O segundo pressuposto é que eles fizeram uma campanha chamando o PT de organização criminosa e a gente vê que a organização criminosa está aí no governo Temer. Eles diziam ter uma base parlamentar do tamanho do mundo, mas a gente vê que já não é assim. A perspectiva da eleição em 2018 e a baixa popularidade do Temer vão ter reflexos na votação da reforma da previdência. Você já observa que a terceirização eles tiveram 231 votos. Para aprovar a previdência são 308 votos. Eles achavam que estávamos imobilizados e estamos reagindo, estamos preparando a  greve geral. O ultimo é que eles achavam que o Lula estava imobilizado. Mas o Lula não para de subir, pois as pessoas lembram do processo de inclusão social e vêm que o governo Temer é só retirada de direitos. O que acho que vai acontecer é um período profundo de instabilidade política. Acho que o Temer não aprova a reforma da previdência, tem o julgamento das contas no TSE...
Que pode demorar... 
Pode demorar, mas ninguém sabe quanto tempo vai ser. Pode ser rápido também. Tem a ameaça de delação do Eduardo Cunha, que ninguém sabe se vai fazer, mas ele está chantageando o governo do Temer. O fato é o seguinte, o governo do Temer vai ter muita dificuldade e acho que ele pode cair. Por isso eu tenho falado muito em eleição direta, pois seria um crime esse Congresso Nacional eleger presidente. Não resolve o problema do país. Só resolve um candidato eleito pelo povo. Agora, em abril e maio vamos antecipar o lançamento da candidatura do Lula, ele vai voltar a viajar pelo país para vender esperança, apresentar um programa, fazer o que ele já fez em 2008 e 2009. Esse governo apresenta grandes fragilidades. 
Aqui em Salvador o prefeito é o ACM Neto (DEM), o governador é Rui Costa (PT) e os dois defendem o fim do sigilo das delações da Odebrecht. Esse também é um ponto que o senhor defende? 
Claro. O que é ruim são os vazamentos seletivos. Impressionante como o Judiciário e a mídia são seletivos no trato do PSDB. Eles fazem de tudo para proteger Aécio, Serra, Alckmin. Eu acho que tem que acabar. Tem que abrir o sigilo logo para não ficarem fazendo jogo político. É muita manipulação da grande mídia. Quando é contra o Lula, contra o PT, aí eles vem com tudo. No PSDB é uma proteção impressionante. Quantas vezes o Aécio já foi denunciado? Mais de dez e a gente não vê um inquérito, não vê nada. 
O senhor é defensor da antecipação da do lançamento da candidatura do ex-presidente Lula. Seria uma forma de blindar ele dessa perseguição que o senhor acredita existir? 
Eu acho que vamos ter que endurecer o discurso. Prova tem contra o Aécio, o Serra, o Alckmin. Contra o Lula não tem prova. Há anos procura-se coisas contra Lula e não acha. Sinceramente, se impedirem um candidato do campo popular, que lidera as pesquisas, de participar da eleição, é melhor acabar. É uma fraude. Não tem mais democracia, não tem resquício democrático. A discussão é se vale participar ou não. Acho que a gente tem que elevar o nosso discurso. Essas elites querem fazer o que querem. Querem escolher quem pode ser candidato. Eu acho que eles não têm condições de impedir o Lula de ser candidato. O Brasil já tá sendo visto como república das bananas aí fora depois do golpe contra a presidenta Dilma, isso seria a ruptura de qualquer “fiapinho” de democracia no país. 
Lula é o candidato do senhor à presidência do Brasil. O senhor é o candidato do Lula à presidência do PT? 
Eu tenho uma ótima relação com o Lula. Ele vai ficar completamente neutro nessa eleição. Vai ter um candidato da CNB, que pode ser o Padilha ou o Márcio Macedo e eu sou candidato do outro campo. Uma terma que quer eleger o Lula e o PT precisa ter uma postura de enfrentamento, não pode ser burocratizado. Sou da turma que se levantou contra Rodrigo Maia (DEM), Eunício Oliveira (PMDB). Somos da turma que se opôs contra a aliança com o Cunha, porque infelizmente tem gente que defendeu. Isso seria a desmoralização do PT. Então, a gente quer um PT mais aguerrido. A gente quer ter um PT que avance, que fale das grandes fortunas, queremos dar passos à frente. É um grupo que pode conduzir a campanha de Lula com mais força, propriedade, é a turma que quer o PT ligado aos movimentos sociais. Não é só um partido parlamentar. É um partido que tem um pé no parlamento e outro nas ruas. 
Quando o senhor diz que Lula vai se manter neutro, isso foi apalavrado por ele ou algo que o senhor acredita? 
Eu conversei com ele e ele disse: “vou fazer questão, pois tenho vocês com uma relação quase de pai. Então não vou me meter nessa disputa”. Eu acho que dá para fazer uma disputa de alto nível. Avaliar os erros e acertos. Eu acho, por exemplo, que a gente subestimou a luta de classes. Quando olho lá atrás, eu penso: "poxa, era pra a gente ter peitado a Globo”. Era pra ter democratizado os meios de comunicação. A gente tinha uma visão de conciliação irrestrita. A gente deveria ter acabado com o financiamento empresarial, deveria ter disputado as consciências. Muita gente acha que a vida mudou e não foi pelas políticas públicas, mas sim por seu esforço individual. Foi também, mas teve política pública. A gente tem que mobilizar o povo para ter reformas, senão o congresso imobiliza o povo, como o Cunha fez com a Dilma.
O PT é um dos poucos partidos com eleições internas assim, movimentadas. O que o senhor acha que essas eleições podem inferir no PT daqui pra frente? 
Acho que esse processo de eleição interna tem que servir para politizar o PT. Não ser uma disputa de espaço burocrático, de lutas menores, mas de uma coisa mais programática, o que a gente tem que fazer para se revitalizar. Antes a gente tinha núcleos, bases. Eu, por exemplo, sou contra esse modelo de eleição direta, pois eu quero que o PT seja de militância e não de filiados distantes. Antes, só quem participava de tudo que ia pro congresso, que decidia, agora é quem leva mais para o PED. No médio prazo tem que mudar isso aí, tem que fazer democracia direta, consultar a militância. A gente quer um partido mais vivo. Tenho preocupação do PT virar acomodado. Existe um envelhecimento natural. O parlamentar fica lá cinco mandatos e aí, tudo bem que temos ótimo parlamentares, mas precisamos de juventude, de dinamismo, uma juventude rebelde. Precisamos dar uma sacodida no PT. Me lancei candidato por isso. Aquele episódio de apoiar Maia e Eunício me mostrou um distanciamento. É como se um espaço na Mesa fosse mais importante do que uma militância. Não podemos perder a capacidade de sonhar. Tem que ter política de aliança? Tem, mas não podemos perder a militância. 
A eleição de 2018 já se avizinha. Tem o Ciro Gomes, Bolsonaro, Dória, Alckmin... o senhor acha que uma candidatura de Ciro e Lula se enfrentam? O senhor aposta na união da esquerda? 
Claro que eu prefiro unir as forças de esquerda. Temos que ir atrás de quem possa nos apoiar, como o Requião, Ricardo Coutinho. Temos que ir atrás de mais alianças. Vejo o PSDB numa grande crise. Aécio tinha 35% em 2015 e agora tem menos de 10%. Está atrás do Bolsonaro. O PSDB é responsável pelo crescimento do fascismo no Brasil. Eles foram para aquelas passeatas e não tinha uma fala do PSDB contra intervenção militar. Eles criaram esse movimento aí. A nossa sorte é que o Bolsonaro é um sujeito limitado. Tem um teto e é limitado intelectualmente. Acredito que tem espaço no crescimento da nova direita, à lá Trump, mas a posição do Bolsonaro é sempre aquela coisa agressiva. Ele vai falar muita besteira. Ele sempre fala muita besteira. Ele vai falar bobagem. Eu acho que esses que defendem o neoliberalismo terão grandes dificuldades. Tem um espaço grande para nós da esquerda e tem um espaço para a nova direita. 
Essa nova direita seria o João Dória? 
O Dória está conseguindo unificar a grande burguesia brasileira, em especial a paulista. Mas é impressionante a ignorância desse pessoal. Eles colocaram o Brasil no meio dessa crise. Eles sabiam o que era Michel Temer. Eles sabiam o que significava fazer isso. Essa classe dominante é completamente idiotizada, sem projeto nacional, eles adoram um imbecil feito o Dória. Ele é rico como eles, com aquele discurso... eu acho que Lula janta o Dória. Ele não tem condições de falar com o sertanejo aqui. Às vezes me dá irritação o grau de burrice da vida política no Brasil. Esse pessoal sem rumo só falando de austeridade. Na crise como estamos, só uma figura com a história do Lula para defender o conceito de nação. Eles estão sem rumo, é só desmonte, entrega. 
Para finalizar, uma provocação. A gente tem Rui aqui na Bahia e, vira e mexe, tem uma informação de que Rui vai mudar de partido. Vai pro PDT, pro PSD... o senhor acha que ele deveria ser mais petista? 
Não, acho que o Rui faz um bom trabalho. Nos Estados, os governadores mal aprovados e aqui Rui é bem avaliado, chamado de Rui Correria, como descobri, pois vai a vários municípios, então acho que ele está bem. Ele é petista, o Wagner também, então está dando orgulho. Tenho pra mim que Rui Costa e Lula vão trazer grande votação para o PT aqui na Bahia. Eu acho que Rui tem tudo para continuar o bom trabalho.

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