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Otto Filho afirma que é preciso enfrentar o debate sobre desempenho no serviço público; confira

Imagem Otto Filho afirma que é preciso enfrentar o debate sobre desempenho no serviço público; confira
"Acostumei a chegar no lugar como filho de Otto e a sair como Otto Filho", afirma presidente da Desembahia  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 24/03/2018, às 18h48   Luiz Fernando Lima


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Aos 40 anos, Otto Alencar Filho traz no currículo anos de experiência na iniciativa privada e uma primeira passagem por cargo público na presidência da Desenbahia. Foi indicado em janeiro de 2015 para direção da agência de fomento e se orgulha dos resultados obtidos nos últimos três anos. Na próxima segunda-feira (26), Otto Filho deixa a presidência para se dedicar à pré-candidatura a deputado federal. Não esperará o fim do prazo legal. Neste bate-papo com a reportagem do BNews, o jovem pessedista avalia o cenário político e econômico do país, defende a revisão do serviço público para torna-lo mais eficiente para “quem mais precisa” e sentencia: quando chego em um lugar para trabalhar me chamam de filho de Otto, quando saio sou chamado de Otto Filho. 
Confira!

BNews: Qual a sua avaliação da Desenbahia nestes três anos em que esteve à frente da agência?

Otto Alencar Filho: Eu fico feliz com os resultados que nós tivemos nestes três anos. Uma das coisas principais que tivemos foi o aumento da nossa carteira de clientes. No início de janeiro de 2015, nós saímos de uma carteira de aproximadamente 552,49 milhões de reais para 747,22 milhões de reais em 31 de dezembro de 2017. Um crescimento de 35,24% no período. As liberações também foram importantes. Apenas na Carteira Desenbahia nós conseguimos atingir a marca de 592,69 milhões de reais, somando os anos de 2015 a 2017. São números expressivos nestes três anos de grave crise econômica e política que atravessamos. Eu acredito muito que a gestão por desempenho que nós implantamos e a nova cultura de meritocracia que hoje a Desenbahia tem influenciou muito nestes números. Hoje nós temos uma relação muito próxima do empresariado baiano, brasileiro e internacional. Temos um atendimento especializado. Nos fortalecemos muito na linha de financiamento para prefeituras. No início de 2015 nós tínhamos aproximadamente 60 milhões de reais em contratos com prefeituras e estamos chegando a aproximadamente 300 milhões de reais em contratos. 

Nestes quesitos: contratos com prefeituras, quais foram as maiores dificuldades para enquadrar legalmente as gestões municipais de modo a conseguir tornar os empréstimos viáveis?

Nós tivemos que apoiar os prefeitos da Bahia a se adequar à lei de responsabilidade fiscal. Tivemos que apoiá-los para que pudessem reduzir o índice de pessoal para abaixo de 54% da receita corrente liquida para que regularizassem o Cauc e a dívida pública. No período de seis a oito meses conseguíamos atingir a janela para que a prefeitura pudesse estar numa condição adequada para contratação de empréstimo. É importante dizer que todos os projetos de contratação para prefeitura são antes aprovados pela secretaria do Tesouro Nacional (STN). Somente após esta aceitação é que autorizamos a prefeitura a fazer a licitação.

Quais são as principais destinações dos recursos direcionados pela Desenbahia às prefeituras?

Investimentos em saneamento, pavimentação e drenagem. Principalmente para a população mais carente. Normalmente são bairros, distritos e povoados sem nenhuma infraestrutura.

Embora a Desenbahia empreste os recursos, ela também faz o acompanhamento das obras? 

Nós fazemos isso com equipe própria. Antes de mandar para o STN nós fazemos a avaliação do projeto de engenharia com equipe própria. Logo após a aprovação e contratação nós fazemos a liberação dos recursos por medições. Nós temos muito critérios na hora de fazer esta liberação. A avaliação é criteriosa. Da qualidade do material contratado na licitação, passando por como o projeto foi realizado e se atendeu ao cronograma físico e financeiro. Realmente a gente só libera quando o recurso foi empregado da forma que foi contratado.

A Desenbahia é uma agência de fomento que está vinculada a estrutura do governo. Neste sentido, há uma pressão política para liberação de recursos mesmo em casos de prefeituras que não atendam às recomendações em função do interesse político?

Como uma instituição financeira que responde a todos os órgãos de controle do Brasil, e eu digo todos porque nós trabalhamos com recursos municipais, estaduais e federais, nós temos um critério muito adequado para utilização destes recursos públicos. No caso dos municípios, assim como é na iniciativa privada, a qualidade de análise e auditoria é grande. A gente só aprova financiamento para prefeitura quando ela está dentro dos requisitos da Lei de Responsabilidade Fiscal. Acontece a mesma coisa na iniciativa privada que precisa atender as normativas e cumprimentos das linhas de financiamento dos órgãos financiadores.

Você precisou enxugar estrutura da Desenbahia ao chegar para que pudesse cumprir o papel para o qual ela se propõe a fazer. Gerou economia a eficiência?

A gente fez um plano de reestruturação administrativa. Nós fizemos redução de quadros. Depois fizemos alterações nas gerencias e reduzimos a quantidade por diretoria. Criamos uma cultura de meritocracia. Não foi fácil implantar a gestão voltada para o desempenho, mas hoje a instituição, todos os seus colaboradores, principalmente os que tiveram novas oportunidades, entendem e percebem como foi importante a gente implantar uma cultura voltada por desempenho, pela meritocracia, para que a instituição se fortalecesse e ao longo destes anos aumentasse sua carteira e tivesse lucro. Para se ter uma ideia, o lucro acumulado destes três anos foi de aproximadamente 90 milhões de reais. É um dado importante para aquele gestor público que acredita que a melhor opção é aquela onde se possa ter um dialogo franco com o colaborador, que ele entenda que para ele ganhar bem e é justo que se ganhe bem, é também justo que se dê resultado. Precisa atender o cliente adequadamente com atenção, respeito, com agilidade. Eu acredito muito que o Poder Público e o setor privado têm que andar sempre em parceria. O setor público é a veia principal de desenvolvimento econômico e social de um município, do estado e do País. No caso da Desenbahia o que a gente quis é fazer com que os empresários baianos, de outros estados ou outros países quando viessem para cá tivessem como objetivo agregar valor aos seus produtos e serviços gerando emprego, renda e principalmente riqueza para o estado da Bahia. Fortalecendo assim a economia do nosso estado. 

O senhor fala sobre meritocracia e outros assuntos que são semelhantes ao discurso liberal, mas a Desenbahia enquanto  agência de fomento público não poderia perder o compromisso com a política de Estado...

E sociais...

Hoje vemos críticas, sobretudo de setores do PT, à política econômica do governo Michel Temer sendo empregada por Henrique Meirelles. A política econômica que traz para bancos públicos e agências fomentos a lógica do mercado privado...

Eu acredito muito numa visão democrática, social e liberal. Como, por exemplo, é hoje a economia da Alemanha. Lá se tem uma visão capitalista, liberal que não perde a visão social e comunitária. No setor social, via Fundese, investimos muito no microempresário. No ano de 2017 nós liberamos mais de 50 milhões de reais para microempresário. São aqueles que captam o recurso com o próprio CPF, não precisa ter CNPJ para isso. Ao longo destes três anos a gente deve ter liberado mais de 180 milhões de reais para os microempresários.

São bons pagadores?

Obviamente se tem uma inadimplência um pouco maior. As prefeituras, por exemplo, (a inadimplência) é zero. O médio e grande empresários também têm índice de inadimplência um pouco menor que a do micro. Mas é natural que isso aconteça porque o microcrédito não foi gerado na carteira Desenbahia, eu repito, foi no Fundo de Desenvolvimento Social e Econômico (Fundese) que tem uma conotação diferente da instituição financeira. O Fundese foi criado para que o Estado da Bahia possa ter taxas ainda mais subsidiadas que outras linhas de crédito justamente para apoiar o microempresário e neste caso temos uma parceria importante com o Sebrae. O Sebrae é o parceiro do microempresário. É onde ele pode buscar informações sobre plano de negócios; o que é ser empreendedor; como empreender. Tudo isso para que tenha noção de como bem investir os seus recursos. Acredito que o microcrédito tende a avançar. A gente já vem pensando e estender para o micro produtor rural. É uma ideia da Desenbahia com a Setre (Trabalho, Renda e Esporte) e do governador Rui Costa. A ideia é ampliar com segurança e em parceria com as cooperativas de crédito estes financiamentos. Espero que em 2018 a gente consiga atingir este objetivo de ampliação de linha mesmo com este cenário de crise econômica.

O ex-governador Jaques Wagner disse em entrevista recente que a Bahia perdeu muito investimento no que se refere ao governo federal e que, em função disso, perdeu algumas oportunidades de trazer novas empresas. Eu gostaria que o senhor analisasse um pouco este cenário do ponto de vista da Desenbahia.

Nosso objetivo é que com recursos próprios, linhas de repasses, a gente consiga fixar empresário aqui na Bahia. Fazer com ele pense em expansão adequada para o projeto dele. Sempre de forma sustentável. Invista em automação e novas tecnologias. Porque hoje, mesmo que a indústria seja aqui na Bahia, a concorrência as vezes é nacional ou internacional. Tem que pensar que a concorrência é maior que a regional. Por isso, começou a ter uma visão de longo prazo. Ao longo dos anos a Desenbahia começou a ampliar seus prazos. Antigamente, uma indústria era financiada com cinco ou seis anos, passou para dez. Hoje podemos ter um prazo de financiamento de projeto em até 20 anos, incluindo três anos de carência. É uma ampliação grande para que o empresário possa pensar a longo prazo. Eu sempre oriento o empresário para que ele não invista com recursos próprio em nenhum projeto. Que ele teste o produto dele aqui na Desenbahia. A gente fará uma avaliação criteriosa do projeto dele. Ele terá o que existe de melhor no mercado de taxas subsidiadas, com prazos alongados para que o projeto possa dar certo. Para ter viabilidade econômica financeira a longo prazo.

Há alguma exigência do ponto de vista social como contratação de mão-de-obra local; investimento local?

Não é bom obrigar o empresário nestas questões. Ou trazer outras exigências deste tipo. Cada negócio, cada setor tem particularidades. Tem projetos onde é possível ver mais automação como por exemplo uma fábrica de chips. Outra, uma fábrica de calçados tem uma quantidade muito maior de empregos, por outro lado, é necessário ter taxas maiores de subsídios fiscais. O que é importante é avaliar o setor que o empresário está inserido, as características deste segmento e apoiá-lo para que ele possa ser mais competitivo a nível de Brasil e internacionalmente.

Vamos falar um pouco de política. Você acredita que a Câmara dos Deputados é um lugar permeável para este tipo de debate e como pensa em criar interseção em caso de ser eleito deputado federal?

Estou saindo da Desenbahia no próximo dia 26 para uma pré-campanha a deputado federal. Obviamente, é uma pré-campanha que deve se configurar lá para maio ou junho. Se meu partido atestar meu nome para deputado federal a minha intenção é seguir as diretrizes do PSD e do senador Otto Alencar que é nossa liderança maior. Poder propor projetos que venham realmente fortalecer a nossa economia. Além de atrelar esta visão às questões sociais de forma que a distribuição de renda seja mais justa e que o setor público seja mais eficiente. Que se possa investir no País e permitir que o empresariado possa ter mais recursos para investimento subsidiado e a gente trate o funcionário com mais respeito e sistematicamente, dentro de uma segurança orçamentária, aumentar o salário mínimo. 

Durante algum tempo seu nome foi ventilado como tendo possibilidade de ocupar uma das vagas da chapa majoritária, isso já foi superado? 

Isso foi uma especulação. Não sei de onde saiu, mas em nenhum momento passou pela minha cabeça ou na do senador Otto Alencar. Até porque a gente acredita que dentro do PSD tem pessoas com muito mais experiência que eu que podem compor a chapa a majoritária. Para mim é um grande desafio, se de fato for confirmado, sair para candidato a deputado federal. Digo isso porque na conjuntura atual ser um deputado federal que possa ter um resultado positivo e que traga resultado para a população não é fácil.

Você acredita que é necessário enfrentar o debate sobre a necessidade de termos um serviço público mais eficiente e que tenha um custo benefício para a população mais favorável? Implementar a meritocracia no serviço público, bem como mexer no estatuto? 

É sim necessário porque quando temos um poder público eficiente não só o servidor público ganha como também a sociedade. Por exemplo, hoje a Educação no Brasil ainda é de nível muito baixo. Isso já deveria estar mais atrelado ao salário do funcionalismo público. Eu acredito que é preciso implementar a visão meritocrática para funcionalismo público. O funcionário público pode ganhar bem e por produtividade. 

Qual a dificuldade para se entender e implementar isso no Brasil na sua visão?

Eu ainda vejo que a população mais carente é muito dependente do Estado. Quem consegue viver com o salário mínimo? Em outros países o salário mínimo é um salário mais alto e a população não depende do Estado como aqui. Eu penso que o Brasil precisa mudar por ai. Fortalecer a população mais carente através de um salário digno, de uma educação de grande qualidade, saúde de qualidade...

Privadas ou públicas?

Ambas. A população tem que ter o poder de escolha. Na Alemanha tem pessoas que utilizam a Saúde de pública e privada. No Canada a mesma coisa. Eu morei no Canada e lá se tem uma saúde pública de primeiríssima qualidade. Tem pessoas que com plano de saúde, mas que escolhem o sistema público. No entanto, se algum dia ela quiser utilizar o particular para evitar uma fila ou por outra razão, ela tem a possibilidade. Eu gostaria de ver no futuro a população mais carente depender menos do Estado. Isso não quer dizer que vai acabar os programas sociais. Pelo contrário, quando a população tiver mais poder de consumo a economia tende a crescer e com isso também aumentam os recursos para investir em programas sociais, saúde, educação, infraestrutura, pavimento, drenagem, saneamento básico. O fortalecimento da economia faz o poder público ter mais recursos para aplicar. É através do aumento da economia e não do aumento dos impostos que faz isso. É fazer com que a base de arrecadação seja maior com impostos que tenham taxas baixas. Você só consegue ter taxa baixa se conseguir aumentar a base de arrecadação. Caso contrário, tem um problema.

O senhor é favor da taxação das grandes fortunas?

Sou. Porque eu considero que existe ainda muita desigualdade no Brasil e acredito que estes que tiveram um resultado melhor em sua vida devem contribuir mais com aqueles que menos têm. 

Otto Filho, você é um quadro novo, mas que vem de uma estrutura hereditária política. Na sua avaliação há espaço para o novo na política ou é necessário vir de uma estrutura familiar para se ter êxito na política? 

Eu acredito que sempre tem espaço para aquele que quer trabalhar com seriedade. Eu sempre trabalhei na iniciativa privada, este foi meu primeiro cargo público, e estava acostumado a entrar nos lugares como o ‘filho’ de Otto e a sair como Otto Filho. O que vale realmente é o quanto você está se dedicando ao seu trabalho. A forma responsável como você lida com as coisas. Sempre me dediquei muito, sempre trabalhei muito. Sempre tentei tomar decisões com base em bons valores. Valores familiares. Essa questão da ética, responsabilidade com trabalho, ser humilde, atender as pessoas com respeito, reconhecer a individualidade de cada um e respeitar culturas e visões diferentes, além de saber lidar com a diversidade que é o Brasil, para mim isso tudo é uma coisa natural. Eu nasci numa família de médicos. Meu pai é médico, mas por exemplo: antes de o senador Otto Alencar ser político ele deu durante dez anos um plantão toda quinta-feira de graça para Irmã Dulce. Eu nasci numa família que já tinha esse trabalho social como uma forma altruísta de ajudar aqueles que mais precisam. Voltando para aquela conversa de taxar as grandes riquezas eu pergunto: porque não? Aqueles que mais devem ajudar quem está passando necessidade. Eu vejo que o Brasil precisa ter pessoas, ai eu não falo sobre mais velhos, mais jovens, sobre cultura ou etnias, eu gostaria muito que o Brasil começasse a ter lideres que pensassem mais na coletividade em detrimento dos seus interesses pessoais. Que começasse a pensar mais e tomassem decisões com base nos bons valores. Muitos destes representantes que temos hoje em Brasília são formados, tem doutorado, mestrado, mas as decisões não são altruístas como deveriam ser. Acredito que o Brasil precisa passar por uma mudança de cultura, valores, não apenas os líderes, mas a população como um todo. Porque é preciso acreditar na política para que se possa mudar. A população precisa votar mais por ideologia para que se tenha representantes que pensem mais nos interesses coletivos. Eu espero que esta nova geração que está vindo, venha com este pensamento de tomar as decisões tendo uma visão mais social, tendo a coragem de fazer mudanças que são necessárias para o poder público, que ela possa fortalecer a população mais carente e fazer com que o Estado seja um Estado adequado para a população...

Não é o Estado mínimo? 

De jeito nenhum. Esta questão de Estado mínimo para mim não está posta. Quando se fala em Estado mínimo se fala em retirada de programas sociais, se fala em questões que não podem nem se quer ser discutida quando se tem uma população tão carente, que passa fome. Como é que você reduzir o Estado ao mínimo com tanta gente que necessita do Estado para Educação, Saúde. Não é isso. O que a gente terá que fazer é uma mudança para fortalecer a população brasileira. 

Você acredita que o ex-presidente Lula seria o líder para promover estas mudanças?

Sinceramente não sei lhe dizer. Eu sei quem estarei representando na Bahia. O PSD estará do lado do governador Rui Costa e da base aliada com PP, PSB e outros partidos da base. Nós vamos fazer a reeleição e se tudo der certo vamos vencer. A nível nacional, a gente não sabe quem serão os candidatos. Eu gostaria muito que o candidato que ganhe as eleições à presidência seja ficha limpa, que não tenha tido processo nas costas, que tenha tido experiências no Legislativo e Executivo. Ou seja, uma pessoa que tenha uma experiência maior, mais sênior, que tenha um entendimento maior do que é política e gestão pública. Que saiba como é complexa a gestão pública e mesmo assim tenha coragem de fazer importantes mudanças para o bem da população mais carente. 

Para encerrar, quando pedirem sua opinião na composição da chapa majoritária você vai indicar Angelo Coronel, Marcos Cavalcanti ou Antônio Brito?

(risos) Eu acredito que todos eles são excelentes nomes para compor a chapa majoritária.

Fotos: Roberto Viana // BNews

Classificação Indicativa: Livre

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