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Bahia Farm Show: Mulheres driblam preconceito e aumentam participação no Agronegócio, afirma Carminha Missio

Imagem Bahia Farm Show: Mulheres driblam preconceito e aumentam participação no Agronegócio, afirma Carminha Missio
Presidente do Sindicato dos produtores rurais de Luís Eduardo Magalhães afirma que 30% dos negócios estão sendo geridos por mulheres  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 11/06/2018, às 18h23   Luiz Fernando Lima


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A presença de mulheres em lugar de destaque no agronegócio vem crescendo a cada ano, a avaliação é da presidente do sindicato dos produtores rurais de Luís Eduardo Magalhães, Carminha Gato Missio. Ao longo dos cinco dias (5 a 9 de junho) da Bahia Farm Show foram poucos os momentos em que a representante da categoria patronal da região parou para uma água, café ou bater papo.

Durante a meia hora em que conversou com a reportagem do BNews, Carminha foi cumprimentada por um sem número de produtores Atenciosa, continuou o bate-papo já marcando com os representados que chegavam as próximas conversas. Para ela, esta é uma das características peculiares as mulheres: resolvemos várias questões ao mesmo tempo.

Carminha acredita que a tecnologia e inovação contribuíram para uma presença maior das mulheres na atividade produtiva que até pouco tempo atrás era quase que uma exclusividade dos homens. Produtora que não se furta a operar as máquinas, ela diz que 30% das empresas são tocadas por mulheres, mas projeta o crescimento rápido da participação delas nos negócios.

“Temos um curso em parceria com o Senai voltado para gestores de propriedades rurais e sucessão. Neste que começou há dois meses temos mais mulheres do que homens matriculados”, revela.

Carminha refuta a ideia de que deve haver cursos específicos para mulheres. Ao contrário, para ela, as mulheres têm e devem competir em igualdade aos homens.

Confira trechos sobre assuntos abordados na entrevista.

Sobre ser melhor e representante de uma categoria majoritariamente masculina como são estas tarefas?

Na verdade, é um desafio permanente, mas felizmente a cada dia o agronegócio vem tendo mais mulheres protagonizando dentro da nossa atividade e isso nos dá um orgulho muito grande. Não sei se é a tecnologia, se é a evolução do mercado da nossa base, o que eu posso dizer é que vejo assim: existiam alguns paradigmas que eram inerentes a espécie humana – macho e fêmea – e tem algumas coisas que nós nunca seremos iguais a exemplo da força física, mas nossa capacidade de inteligência, gestão e de alimento, com certeza estamos no mesmo patamar e podemos atuar com o mesmo profissionalismo, respeito e capacidade. Me sinto orgulhosa por poder estar diante deste universo e sinto que é uma responsabilidade muito grande para poder trazer mais mulheres para junto de mim. Então, eu tenho que fazer um trabalho com eficiência para que mais mulheres venham ocupar mais espaços.

Qual a participação em percentual?

Nós vemos que dentro do negócio de cada grupo familiar as mulheres estão atuando diretamente. Cuidando do escritório, dos Recursos Humanos, muitas delas estão. Temos mais de 30% de mulheres que atuam fortemente no negócio familiar ou empresarial. Falta apenas um pouquinho para que estas mulheres assumam a liderança nas tomadas de decisões e dentro do próprio negócio.

Como assim?

Essa tomada de decisão por exemplo: se tem que comprar uma área de terra a mais, essa é uma decisão ainda predominantemente do homem. A mulher vai dar palpite e tal, mas ele é que aparentemente tem este poder maior de tomar a decisão e dizer “vamos que a gente vai dar conta”. A mulher ainda fica um pouquinho mais no bastidor. Mas ela já está lá na lavoura como agrônoma, sobe na máquina para colher, vai para o GTS, está dentro do escritório tomando decisão de contratar ou demitir, está fazendo treinamento nas mais diversas áreas.

Existe preconceito dentro da lavoura?

Ainda existe um pouco, mas já diminuiu muito. Estamos evoluindo e crescendo. Não dá para dizer que já está resolvido, mas temos 30% e estamos avançando. É nesta esfera que precisamos aprender a articular um pouco mais porque capacidade não falta.

Cursos específicos?

Não temos cursos específicos para mulheres porque nós entendemos que se a mulher tem a capacidade de fazer qualquer atividade ela não precisa de um curso específico. Ai estaríamos rotulando a mulher. Quando há algum problema maior a denúncia é feita normalmente para as autoridades. No sindicato nós ouvimos quando há necessidade de ser ouvidas.

Eu tenho que ter um curso? não, ela tem a mesma capacidade e toma o mesmo curso. Nós temos o curso de gestão da propriedade rural no qual fazem homens e mulheres. Temos o curso de operador de máquina com homens e mulheres.  O último curso de gestão da propriedade rural que ministramos e que foi elaborado e criado para a nossa região e para servir como piloto para outras, organizado pelo Senai, nós temos mais mulheres do que homens. Isso nos chama a atenção pois é um curso para gestores e sucessores de propriedade rural. A gente tende a ter muito mais mulheres à frente do negócio num futuro próximo

Características das mulheres

Conciliar diversas atividades e resolver vários conflitos ao mesmo tempo. Esta peculiaridade a mulher tem. Ela pode estar resolvendo um problema de RH enquanto resolve um técnico mecânico e auxilia no administrativo.

Sobre o momento atual do agronegócio e da Bahia Farm Show

Para o sindicato, que somos a representação de base, é um momento muito peculiar. O que nós visualizamos hoje é que apesar de estarmos saindo de três ou quatro safras onde nós estávamos sofrendo pela estiagem e uma produção aquém do que esperávamos e isso comprometia toda a cadeia produtiva até o comércio de máquinas e insumos, este ano nós tivemos uma das melhores safras do Brasil no que se refere a soja. Essa produção renovou a confiança dos produtores e dos representantes do setor comercial que fabricam para eles. A confiança das instituições financeiras em voltar a ter esta credibilidade na consolidação da agricultura aqui no oeste da Bahia. Isso para nós é um fato muito positivo.

A Bahia Farm Show traz este debate sobre as temática e busca, conjuntamente, a resolução destes conflitos. Isso é de uma relevância e grandeza muito grande. O que a gente vê é a maturidade dos agricultores e empresários desta região. Uma pauta numa economia livre em que deve prevalecer a lei da oferta e procura termos um tabelamento imposto pelo governo prejudica o diálogo. A opinião do governo tende a gerar mais conflitos do que auxiliar na resolução dos problemas.

Plano Safra

Nós tivemos o lançamento do Plano Safra que ficou aquém da expectativa no que se refere a taxa de juros. Embora reconheçamos que houve uma redução, era para reduzir mais. De qualquer maneira diante deste cenário político que carrega insegurança jurídica e política a gente diz que esta lacuna teremos que encontrar lastros em outros espaços para manter a pujança da produção. Os produtores têm a capacidade de driblar estas dificuldades.

Agenda negativa

A gente tem uma necessidade de conversar mais com as pessoas. Por muitos anos fomos tratados e há uma tendência da massa de ver nós produtores como aquilo que a literatura descrevia no passado como jeca tatu. Nós todos somos da agricultura familiar. As empresas aqui do Oeste são todas familiares.

Sobre a água

Nós falamos no Fórum Mundial da Água onde abordamos vários pontos: o grande problema da água não está nas áreas rurais está nas áreas urbanas. Uma nascente que brota um pouquinho antes do Rio de Pedras (um pouco antes de Luís Eduardo Magalhães) a água sai limpinha. Só ganha alguma coisa como não deveria ao longo do percurso que diz respeito a área urbana. Ao longo do trajeto ela vai se limpando. O produtor, pela lógica ou pela própria necessidade de sobrevivência porque a ferramenta de trabalho é a natureza, não deprecia, não acaba com a água. Ele não seria bobo o suficiente para destruir aquilo que dá o sustento a ele. O que nós não sabemos fazer é divulgar o que fazemos. Estamos evoluindo nesta temática

Sindicato

O sindicato tem a representatividade constitucional de todos os produtores e nós estamos atravessando uma fase um pouquinho delicada com a legislação trabalhista que tornou facultativa a contribuição. Nunca ficou muito claro quais as contas e para onde será direcionado esses recursos que são arrecadados, tanto pelo trabalhador através do sindicato deles quanto do patronal. De qualquer forma ainda assim precisamos usar mecanismos para tornar mais transparente toda e qualquer aplicação dos recursos. Dentro desta parte que de atuação do sindicato patronal nós hoje podemos afirmar com plena convicção que a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária)  está com uma infinidade de processos tramitando no Congresso Nacional na defesa dos produtores e nas mais diferentes esferas. São processos que atendem desde o pequeno produtor que tem que resolver o seu simples (ou o leite em pó que entra de forma errada pelas fronteiras do nosso país), problemas fitossanitários como os que atinge o cacau, até os grandes produtores. É uma infinidade de processos que estão sendo defendidos a pedido dos sindicatos de base do Chuí ao Oiapoque. Então, quando não temos uma sustentabilidade econômica nós não temos como manter estas defesas. É muito importante, portanto, que a nossa classe produtora, neste caso a patronal, cada vez mais se una em fortalecimento a esse sistema sindical.

Queda na arrecadação

Ainda é cedo para falarmos disso. Agora em maio, no caso do patronal, é possível ter um pouco mais de ciência. Tem que fechar maio para saber deste relatório detalhado. Sempre há uma queda. Eu acho que, embora a redescoberta seja um trabalho no qual acreditamos que os produtores serão parceiros, a nossa classe tem vontade de continuar crescendo e reconhece a necessidade de atuar em conjunto através do sindicato. Essas reformas são necessárias periodicamente. Os ajustes são necessários. Nada acontece por acaso. É necessário para que haja a evolução.

Classificação Indicativa: Livre

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