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‘Eu vejo o MDB se reorganizando, é um partido forte, que vai continuar sendo decisivo nas eleições’, defende Lúcio Vieira Lima

Imagem ‘Eu vejo o MDB se reorganizando, é um partido forte, que vai continuar sendo decisivo nas eleições’, defende Lúcio Vieira Lima
O irmão de Geddel atualmente está sem cargo na política brasileira, mas não tem deixado de costurar alianças e buscar um novo caminho para a sua trajetória  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 24/03/2019, às 05h00   Juliana Nobre e Márcia Guimarães


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O ex-deputado federal Lúcio Vieira Lima (MDB) conversou com o BNews sobre os rumos do MDB nos próximos meses, as opções para a disputa pela Prefeitura de Salvador e os primeiros meses do Governo Bolsonaro, entre outros assuntos. O irmão do ex-ministro chefe da Secretaria de Governo do Brasil, Geddel Vieira Lima, atualmente está sem cargo na política brasileira, mas não tem deixado de costurar alianças e buscar um novo caminho para a sua trajetória. O MDB, segundo o ex-deputado, vai se reorganizar. Um dos nomes apontados como possibilidade nas eleições de 2020 é do atual secretário de Ordem Pública, Felipe Lucas, já que este foi bem votado para vereador, "é jovem, trabalhador, e hoje está ocupando cargo no Executivo". Contudo, Lúcio vê outros caminhos em uma terceira via. Confira:

BNews – Como estão os bastidores na reorganização dos partidos?
Lúcio Vieira Lima -
O partido passa por um novo momento, não só o MDB, mas todos os partidos estão tendo que se modernizar, ir à procura do povo, voltar a ouvir as ruas. O MDB não seria diferente. Nós estamos aí com um presidente novo, não só em termos de idade, mas com ideias novas, que é o Alexsandro. Ele tem experiência administrativa e pensa em fazer um MDB moderno. Então, eu estou me afastando devagar do MDB, de cargos decisórios e passando para o cargo de conselheiro enquanto o conselho prestar. O dia que não prestar, me afasto com muita tranquilidade.

Eu vejo o MDB se reorganizando, é um partido forte, que tem tempo de televisão, tem história, tem quadros, é um partido que vai continuar sendo decisivo nas eleições, ou apresentando candidaturas ou apoiando candidaturas. É só você ver, por exemplo, que o MDB foi fundamental nas duas eleições do prefeito ACM Neto (DEM). O presidente Alexsandro Freitas está preparando o partido para que 2020 seja também decisória a participação dele [partido] nas eleições, ou apresentando candidatura ou apoiando um candidato que se mostre com um projeto. No MDB, a gente destaca que não apoia nomes, a gente apoia projetos. Então, quem apresentar o melhor projeto para a cidade de Salvador, terá o apoio do MDB.

BNews - Haveria a possibilidade de uma terceira via?
Lúcio Vieira Lima -
Não há terceira via. Essa história de terceira via não existe. Primeiro porque nós fazemos hoje parte da base do prefeito ACM Neto. O prefeito apresentou um projeto para a cidade e tem cumprido isso e, por isso, que eu defendo que prefeito não pode vir com o nome, ele tem que querer continuar a manutenção do projeto. Se acontecer de ele insistir para impor um nome sem conversar com a base, vai acontecer o que aconteceu nessa eleição agora para governador: termina tomando uma derrota acachapante. Então, você tem grandes nomes na base que têm preparo e competência para ser o candidato e ter o apoio do MDB. Então, uma condição nesse momento inicial é ser da base do prefeito do ACM Neto. Sendo assim, o MDB é da base e pode apresentar candidato.

Tivemos conversas [com ACM Neto] depois da última eleição sobre a participação do MDB no governo, nessa reformulação que teve. Ele ouviu as ponderações do partido e fez, logicamente, as ponderações dele. Ele achou importante o MDB continuar na administração. 

O MDB também tem conversas com todas as lideranças. Você tem o Geraldo Júnior (SD), que está se colocando como uma nova liderança, apesar de já ter uma grande estrada percorrida na política. Hoje, na posição de chefe de um Poder Legislativo, ele tem podido demonstrar o quanto ele gosta de Salvador, o quanto ele é competente. Tem também a candidatura de Irmão Lázaro (PSC). Ele foi para o PR, que faz parte da base do prefeito ACM Neto. É um grande amigo e teve um grande desempenho eleitoral agora na eleição para o Senado. Nós temos nome no MDB também, de Gerson Gabrielli, que também se coloca como candidato a prefeito. Então, o que não falta é opção para Salvador. 

O que nós temos que acabar é com aquela política de nome, achar que tem que ser Fulano ou Beltrano. Tem que ser quem tem melhor capacidade para levar à frente o projeto que foi discutido na base de apoio. Neto está fazendo uma grande prefeitura? Está! Então vamos continuar esse projeto. Quem é que tem melhores condições para tocar esse projeto? É Bruno Reis? É Geraldo Júnior?

BNews - Bruno Reis é uma boa opção para a prefeitura de Salvador?
Lúcio Vieira Lima -
Eu acho que Bruno Reis (DEM) está tentando agora reconstruir o seu nome. Ele fez uma campanha para ser candidato a prefeito com a saída de Neto. Neto não foi. Então, é um novo momento. Lá, ele tinha uma força com a expectativa de Neto ser governador. Agora, ele tem que construir essa força. Ele agora vai partir para uma eleição direta, pelo voto para prefeito. Então, a primeira coisa que ele tem que fazer é conquistar os aliados. Ele pode ter o meu apoio com tranquilidade porque é da base de ACM Neto. Mas ele tem que fazer por merecer esse apoio, chegando e dando tranquilidade que o projeto que ele vai continuar apoiando é o do prefeito ACM Neto e que ele terá condições de tocar esse projeto, que vai fazer um governo amplo, não só politicamente, mas para toda a sociedade.  

O fato dele ter saído do MDB não é problema nenhum, a gente separa da mulher depois de viver mais de 30 anos e vice-versa... O problema nas relações quando acabam são as formas como elas chegam ao fim. Agora, volto a dizer: o que não pode é se fixar em uma única candidatura, até porque isso gera insatisfações imediatas na base. Não é porque a pessoa é da base do prefeito que vai ter prioridade porque, quando se faz uma aliança, todos ali são iguais.

Tem, por exemplo, o PTB, do meu amigo Benito Gama, e o PSDB, de Imabassahy. Se o cara quiser ser candidato a prefeito, olha o quadro aí: já foi ministro, presidente da Eletrobras, prefeito, governador do estado. Tem o Felipe Lucas, que é do partido e, se o MDB decidir apresentar candidatura, é outro grande nome também. Vereador bem votado, jovem, trabalhador, hoje está ocupando cargo no Executivo e, a depender do desempenho dele... Todo mundo é nome, tem que aproveitar o seu momento. Agora, precisa transformar isso em números, mostrar que o povo o aceita e começar nas pesquisas aparecendo. Ninguém queira dissociar pesquisa de escolha. Tem sua grande influência, tem seu grande peso e, por isso, é importante esses pré-candidatos se locomoverem, andarem, fazerem o seu proselitismo para que apareçam na pesquisa pontuando. 

BNews - Qual a sua avaliação do Governo Bolsonaro até o momento?
Lúcio Vieira Lima -
A gente tem que dar aquela história dos 100 dias de lua de mel. Não resta dúvida que Bolsonaro já gastou 60 e não está sendo do agrado da população. Eu via onde andava muita gente, antes da eleição, dizendo que ele era o cara. Hoje, quando chego na fila de mercado, começo a ouvir reclamações porque ele não tem condições de executar o discurso eleitoral que ele fez. Antigamente, ele era contra a reforma da Previdência, agora está propondo a reforma da Previdência. Aqui, eu não estou entrando no mérito se é necessário ou não. Antes, ele pongava no desgaste de quem apresentou a proposta para dizer que era contra e pegar voto. Agora, ele tem a responsabilidade de governar e não está colocando nada em prática o que fez o povo votar nele. Então, se ele conseguir resolver isso nos 40 dias que faltam, ele melhora. Senão, vai ficar muito difícil, até porque ele está com o relacionamento difícil com o Congresso Nacional. E não adianta que ninguém governa sem o Congresso.

BNews – Como anda o alinhamento da MDB da Bahia com o nacional?
Lúcio Vieira Lima –
A política precisa de ideias novas, não pode ser vertical, tem conversar com todo mundo. Acabou o coronel, o chefe, e o partido tem que se reciclar. Isso não é só no MDB da Bahia não, são todos os partidos políticos. O PSL, por exemplo, saiu com a maior bancada das urnas. O que é o PSL como partido? Não é que seja ruim não. Não tinha história, mas foi beneficiado por esse sistema eleitoral que votaram no 17, para votar em Bolsonaro e etc. Quem ainda tem, com todo desgaste, alguma militância, queira ou não queira, é o PT. Quando você faz uma pesquisa, vê que teve 75% dos votos aqui na Bahia. Então, não pode ser simplesmente no discurso, tem alguma coisa efetivamente realizada. 

Nacionalmente, o MDB tinha 66 deputados e caímos para 30. Na Bahia, tínhamos um e caiu pra zero. Todos os partidos, com exceção do PT e do PSL, diminuíram a sua bancada. Você não tem mais hoje um partido despontando. Isso não é só no Brasil não, foi no mundo, tanto que surgiram novos partidos na Europa, derrubadas de governo, o povo tomando as ruas através da internet. A fase está passando, como toda fase. A poeira vai assentar e depois vai voltar o equilíbrio. 

Todos os partidos apresentaram, ao longo do tempo os mesmos defeitos. Nenhum pode dizer isso ou aquilo daquele partido porque isso ou aquilo aconteceu também ocorreu no partido dele. Então, nivelou por baixo.

BNews – Na sua avaliação, qual o comportamento ideal para o MDB na Câmara?
Lúcio Vieira Lima -
Eu acho que todo partido político deve se comportar como se comportou nas eleições. Se eu sou contra você apoiar alguém numa eleição, não pode depois compor com ele naquela história de política de coalisão, quando é política de cooptação. Se o MDB apresentou uma candidatura no primeiro turno, que foi de Henrique Meirelles, e no segundo turno se manteve neutro e independente, eu acho que o MDB deve continuar se mantendo neutro e independente, e não apoiar automaticamente. O que for bom se aprova, o que for ruim pro povo não aprova. Isso sem fazer oposição radical, nem ser governo também porque está tendo esse ou aquele cargo. Isso é o que eu defendo para o MDB, é coerência.

Classificação Indicativa: Livre

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