Economia & Mercado

Taxa média de desocupação em Salvador é a maior dos últimos sete anos

Imagem Taxa média de desocupação em Salvador é a maior dos últimos sete anos
Política de governo de Bolsonaro não contribui para a redução do desemprego  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 16/06/2019, às 05h00   Márcia Guimarães


FacebookTwitterWhatsApp

O cenário econômico no Brasil está entre os piores dos últimos tempos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 13,2 milhões de pessoas estão desempregadas. Esse número não abrange as 4,9 milhões de pessoas desalentadas (desistiram de procurar emprego) ou os 7 milhões de trabalhadores subocupados/fazendo bicos. Na Bahia, a taxa de desemprego era de 18,3% no primeiro trimestre 2019. São aproximadamente 1,3 milhão desempregados no Estado.

Fazendo um contraponto com as políticas de governo de Jair Bolsonaro (PSL), o Doutor em Economia Aplicada Henrique Tomé, professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), analisa o cenário do mercado de trabalho na Bahia e, mais especificamente, em Salvador. Confira:

BNews - Como está a situação do desemprego na Bahia?
Henrique Tomé -
De acordo com a PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a taxa de desemprego de 18,3% é o segundo pior indicador do Brasil. No primeiro trimestre de 2018, a taxa do desemprego era de 17,9%, ou seja, houve expansão do desemprego no Estado, de 17,9% para 18,3%. A taxa de desemprego atingiu o mínimo de 15% no quarto trimestre de 2017.

Os seguintes conceitos são relevantes: Temos parte a força de trabalho em idade de trabalhar desempregada (são esses 18,3%) e temos parte da força de trabalho em idade de trabalhar que está subutilizada ou subempregada (menor volume). Também temos parte da força de trabalho em idade de trabalhar desalentada (com autoestima baixa, desprovidos ânimo, sem forças e sem coragem, desanimados, sem esperanças de encontrar emprego). Estas pessoas já fazem parte da população não economicamente ativa.

Também, de maneira geral, o desemprego tem se mostrado persistente no Brasil. A taxa do desemprego quase duplicou entre 2012 a 2017, passando de 7,4% para 12,7%. Em termos históricos, é de notar que a evolução do desemprego no Brasil mostrou-se ascendente entre 1994 e 2002, quando então teve dinâmica descendente de 2002 até 2014.

BNews - E especificamente em Salvador?
Henrique Tomé –
A taxa média de desocupação de 2018 em Salvador foi a maior dos últimos sete anos, considerando 13 capitais. Pelos dados do Dieese, a taxa anual de desemprego de 2018 na capital baiana foi de 24,9% da População Economicamente Ativa (PEA). Em 2003, a taxa de desemprego foi de 27,1%. Ou seja, houve uma regressão do ciclo do desemprego. Inclui-se nesta taxa elevada, o desemprego, digamos, formal ou aberto e o desemprego precário, subemprego e desalentos/desanimados. 

Esse é o cenário do mercado de trabalho em Salvador. É um cenário estrutural que requer o esforço de políticas estadual, federal e municipal no front de combate ao desemprego. Vai ser necessário muita inovação de políticas no mercado de trabalho e a força de trabalho tem que ganhar consciência de si, principalmente sobre a necessidade de elevar sobretudo a escolaridade e formação técnica para atender a demanda de mão-de-obra no setor privado e o incremento autônomo dos negócios.

BNews - Qual a sua avaliação sobre a relação entre o desemprego e a política de governo de Bolsonaro?
Henrique Tomé –
O desemprego se combate com choque de crescimento econômico porque o crescimento real do PIB implica em crescimento real da ocupação e do emprego, e, portanto, na redução do desemprego. Naturalmente, evidências de crescimento em setores-chaves e intensivos no emprego da força de trabalho podem melhor induzir à diminuição do desemprego. 

No caso de Salvador, a demanda de emprego é maior nos segmentos de produção mais intensivos na mão-de-obra porque há elevado estoque de trabalho desempregado e também de baixa qualidade. E como a qualidade geral de mão-de-obra em Salvador é baixa, temos dois problemas: Melhorar o nível de educação e escolaridade da força de trabalho local em diferentes níveis (formação técnica e industrial, até mesmo em pequenos detalhes na cultura do trabalho, como no atendimento de serviços turísticos, na hospitalidade, gastronomia, serviços domésticos, etc); e melhorar a estrutura produtiva e tecnológica da economia baiana e brasileira, de forma que demandem também qualidades melhoradas da força de trabalho e que essas forças estejam disponíveis no mercado de trabalho. 

Um grande contingente de pessoas com formação escolar e técnica inadequada configura, mesmo diante de baixa taxa de desemprego, um baixo padrão de rendimento da comunidade, o que não é o bastante para o desenvolvimento e mobilidade social.

BNews - O que deve ser feito para mudar esse cenário?
Henrique Tomé –
É necessário elaborar um agressivo Programa Nacional de Combate ao Desemprego. No âmbito nacional, em nível do Governo Federal, ainda não se fez nada neste sentido. Deveria ser este o objetivo central da Política Econômica (Monetária, Fiscal e Tributária). Nota-se que o Governo Federal elegeu prioritariamente o Plano da Reforma Previdenciária, que tem efeitos indiretos e de médio e longo prazo em termos de crescimento econômico, como estratégia de combate ao desemprego. Ou seja, a prioridade foi uma escolha inversa à relevância do tema de desemprego.  

A redução do Déficit Fiscal é um objetivo importante sim, mas a escolha política pela adoção do caminho de austeridade fiscal radical, como a que estamos observando, de fortes restrições ao sistema de educação e saúde, acaba sendo um “tiro no pé”, para parafrasear o dito popular. Crescimento se faz com inovação, ciência, pesquisa e tecnologia, que são fatores que resumem a busca de ganhos de produtividade nacional, e, assim, o combate ao desemprego com expansão da renda nacional e a sua distribuição natural, em parte.

BNews - Os trabalhadores, empregados ou não, podem se animar com os próximos meses? A crise deve melhorar?
Henrique Tomé –
Em função daquilo que argumentei anteriormente, o cenário não é muito animador. A previsões nacionais do IBGE, da Organização Internacional do Trabalho – OIT e do FMI são de retração na economia brasileira. Esse cenário persiste desde a fase final do Governo Dilma. A expectativa era de que o presidente Temer promovesse ajustes que induzissem ao crescimento. E foram esses os argumentos, inclusive, em defesa da mudança na trajetória de política econômica.

O Governo Bolsonaro, até o momento, já decorrido um semestre, ainda não adotou nenhum plano de reforma como demonstração para alguma forma de choque de crescimento, a não ser as teses subjacentes aos efeitos positivos da reforma da Previdência, ainda não aprovada. Portanto, concluo com a narrativa pessimista, pelo menos, dentro dos próximos seis meses, apesar do efeito sazonal das festas natalinas, efeito do décimo terceiro e do consumo fim de ano.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp