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Salvador tem 6 mil pessoas em situação de rua; secretária detalha ações e cuidados na abordagem

Imagem Salvador tem 6 mil pessoas em situação de rua; secretária detalha ações e cuidados na abordagem
Conheça as atividades realizadas pela Secretaria e saiba como você pode ajudar estes indivíduos, muitas vezes carentes de afeto, atenção, moradia e oportunidades de emprego  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 21/07/2019, às 05h00   Márcia Guimarães


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A Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre) está, desde o início de julho, sob nova gestão. Com a saída de Leo Prates para a Saúde, quem assumiu foi Ana Paula Matos, ex-secretária das Prefeituras-Bairro e que já trabalhou na Sempre por dois anos, quando o órgão ainda se chamava Semps.

Com um olhar apurado para o ser humano e as suas necessidades, ela conhece bem a cidade, suas especificidades e onde pode trabalhar para melhorar a vida das cerca de seis mil pessoas que estão em situação de rua em Salvador. Conheça as atividades realizadas pela Secretaria e saiba como você pode ajudar a garantir os direitos destes indivíduos, muitas vezes carentes de afeto, atenção, moradia e de oportunidades de emprego.

BNews – Quais os seus planos para a Sempre?
Ana Paula Matos –
Primeiro, colocar em prática tudo que está no planejamento estratégico. Hoje a principal ação está voltada para a questão da população em situação de rua. Temos, por exemplo, um programa chamado Sempre Cidadão, com mais de R$ 60 milhões a serem investidos em moradia e em serviços de requalificação e de reestruturação para essa população; há uma lei do SUAS em votação na Câmara Municipal de Salvador que institui até três salários mínimos para a primeira moradia dessa população; estamos colocando novas unidade de acolhimento institucional, ampliando o programa Consultório nas Ruas em parceria com a Secretaria de Saúde. Nesse mesmo processo, estamos contratando unidades terapêuticas e fazendo uma requalificação nos serviços que oferecemos, inclusive nos Centros POP - Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua.

BNews - O trabalho de Leo Prates na Sempre ajudou na sua retomada?
Ana Paula Matos –
Tem ajudado muito. Desde que ele foi para a Sempre, ele conversou muito comigo, por eu já ter sido de lá por dois anos, e a gente tem uma boa parceria. Então, muitos dos projetos em andamento foram construídos e conversados em conjunto, pois ele quis dar uma continuidade ao trabalho que já era desenvolvido. Acredito que essa parceria irá continuar, até porque trabalharemos em conjunto com a Secretaria da Saúde em diversas ações. 

BNews – Quais os principais projetos da Sempre?
Ana Paula Matos –
A Sempre está requalificando as suas unidades de atendimento, principalmente os CRAS - Centro de Referência de Assistência Social. Também estamos ampliando as unidades de acolhimento institucional. Trouxemos o UPCD, que é a unidade de políticas para a pessoa com deficiência. Temos como novidade também a Diretoria Animal. Estamos realizando uma descentralização de serviços. Então, a grande marca da minha gestão vai ser olhar cada pessoa, verificar esses projetos que são de políticas socioassistenciais e como isso vai ser colocado em prática. Faremos isso olhando o todo, porque é a natureza da política, mas também cada indivíduo, pois a Sempre trabalha com pessoas em situação de vulnerabilidade social. Estas pessoas, muitas vezes, não têm mais nenhuma esperança, já perderam tudo que elas imaginavam que seria a dignidade, e a gente está ajudando nessa reconstrução. 

BNews – Quais os perfis das pessoas em situação de rua?
Ana Paula Matos –
Quando eu penso em uma população em situação de rua, eu tenho que entender quem são essas pessoas. Fazendo uma anamnese, eu tenho o passante (alguém que está ali vendendo um produto que as vezes dorme na rua porque não deixar seu material ali); o migrante que veio para procurar o sonho na cidade grande e perdeu o documento ou perdeu tudo; mulheres vítimas de violência; desempregados que perderam tudo; e quem nasceu e mora na rua desde sempre. 

O migrante é mais fácil tratar. Minha equipe de acolhimento conversa com ele, tira os documentos, se for o caso, o coloca em uma unidade de acolhimento institucional e depois o ajuda no retorno ao lar/ ao seu local de origem. Temos mulheres vítimas de violência que saíram de casa com os filhos e foram parar nas ruas. É um grupo que a gente atua e acolhe e elas aceitam com mais facilidade essa ajuda porque querem a esperança de uma nova vida. Tenho pessoas que perderam emprego, perderam tudo e a gente tem um programa que é o Ruas do Bem, que tem na meta do nosso planejamento empregar 103 ex-moradores de rua. Queremos ajudá-los a sair dessa situação, a ter autonomia.

A população em situação de rua é a que requer mais atenção. Muitas vezes, vivem nas ruas desde que nasceram e é a única realidade que conhecem. Então, o primeiro passo é a construção de vínculo, conseguir a confiança e mostrar que existe outra vida fora da rua. Eles não são objetos que a gente tira daqui e coloca ali. Às vezes, as pessoas, apressadas no dia a dia, exigem que a Secretaria aja assim, mas elas têm que entender que ali é são vidas. Nosso primeiro trabalho é identificar cada situação, por que aquela pessoa está ali na rua e ajudá-la a construir esse vínculo e ter autonomia produtiva. Para isso, existem as unidades de acolhimento institucional, equipes de abordagem social e diversos programas, como os que envolvem aluguel social e qualificação.

BNews – Como está a demanda para pessoas em situação de rua? 
Ana Paula Matos - Estamos fazendo um censo em convênio com o Projeto Axé sobre a quantidade de moradores de rua em Salvador, pois existe um número muito maior do que a realidade nos apresenta. Como as nossas metodologias eram diferenciadas, a gente está trabalhando em conjunto para ter o número atualizado. Na nossa conta, há cerca de seis mil pessoas em situação de rua (dormem, acordam e moram na rua). A gente vê quase sempre as mesmas pessoas, pois muitas são andarilhas. 

Hoje, temos 500 vagas para abrigamento - unidades com perfis diferenciados: casal com filhos, crianças, homens, mulheres, a fim de respeitar a individualidade das famílias - e estamos ampliando para 700 vagas. Além disso, há quase 300 pessoas que recebem o aluguel social, cujo valor é R$ 300. É bom lembrar que não há limite de beneficiários para o aluguel social. 

A realidade é que a vida na rua é muito difícil e sacrificante. Precisamos ter o maior cuidado no tratamento com essas pessoas, não podemos obrigá-las a aceitar o acolhimento, pois elas não podem se sentir expulsas da própria rua. Muitas vezes, nós fazemos a busca ativa dessas pessoas, porque vimos na rua ou recebemos denúncias da população, e, depois de construirmos a confiança, a gente oferece os nossos serviços.

BNews - Como as pessoas em vulnerabilidade social podem ter acesso aos serviços oferecidos pela secretaria?
Ana Paula Matos -
A Sempre tem o Cuidar, que fica na sede no Comércio, e está na fase final das obras do Nuar – Núcleo de Ações Articuladas para População em Situação de Rua, com atendimento especializado para esse público. Ele também ficará no Comércio. Contamos ainda com os Centros Pops, CREAS - Centros de Referência Especializados da Assistência Social, equipes de abordagem na rua, serviços nas Prefeituras-Bairro (atualização cadastral, inscrição no CadÚnico...). Realizamos um trabalho descentralizado e em parceria com diversos órgãos da prefeitura de Salvador. Quem quiser fazer qualquer denúncia ou entrar em contato, basta procurar uma das unidades acima. 

BNews- Como seu trabalho nas Prefeituras-Bairro ajudou na condução da Sempre? 
Ana Paula Matos -
Nas Prefeituras-Bairro, eu passei a ter um conhecimento geral da prefeitura porque lá eu tenho o serviço de todas as secretarias (medicamentos, carteira de trabalho, vagas de emprego, Bolsa Família, Primeiro Passo, Minha Casa Minha Vida...). Já foram mais de sete milhões de atendimentos. Além disso tem serviços coletivos: as Prefeituras-Bairro são uma grande central de articulação. Por lá passaram discussões sobre o plano de mobilidade, o plano de cultura, o combate ao preconceito LGBT, por exemplo. Ainda realiza um trabalho de zeladoria quando olha cada região administrativa da cidade, seus buracos, problemas de iluminação, de limpeza de canal, etc. Então, eu conheço, de fato, a realidade da cidade e isso ajuda no momento de pensar em uma política pública ou assistencial porque eu já sei onde é mais necessário.


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