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‘Me disponho a governar Salvador para toda a sua gente, mas incorporando os negros de maneira substancial’, avisa Olívia

Imagem ‘Me disponho a governar Salvador para toda a sua gente, mas incorporando os negros de maneira substancial’, avisa Olívia
Lançada como pré-candidata à prefeitura da capital baiana pelo PCdoB, a deputada deverá enfrentar nomes de peso para conquistar o Palácio Thomé de Souza  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 10/11/2019, às 06h00   Márcia Guimarães


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Lançada como pré-candidata à prefeitura de Salvador pelo PCdoB, a deputada estadual Olívia Santana deverá enfrentar nomes de peso para conquistar o Palácio Thomé de Souza. Um dos deles é o vice-prefeito Bruno Reis (DEM), o favorito do prefeito ACM Neto (DEM) para continuar seu projeto político na capital baiana.

Em entrevista ao BNews, a pedagoga, que há 35 anos milita nos movimentos sociais, fala, entre outros assuntos, sobre o cenário eleitoral em Salvador; a busca por apoios de partidos de esquerda; o seu relacionamento com o governador Rui Costa (PT) e com a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA); e sobre a importância de sua candidatura para a cidade com a maior população negra fora da África. Confira:

BNews - Quais as suas propostas pra cidade de Salvador? O que ACM Neto não entregou à cidade e que, você sendo eleita, entregará?
Olívia Santana -
Nós estamos com uma disposição muito grande das pessoas que apoiam o meu nome. Vamos disparar um processo colaborativo de construção de um projeto pra Salvador com a participação de diversos segmentos que querem contribuir. Vamos ter como centro as pessoas, a população de Salvador. Eu tenho dito que essa candidatura não diz respeito a uma disputa apenas de uma força política que vai fazer uma contraposição a ACM Neto. Ela é uma candidatura histórica, é a oportunidade de uma mulher, com o meu perfil, ser candidata à prefeitura de Salvador com possibilidade de fato. Isso nunca aconteceu. Entendo que temos que fazer uma construção de escuta, para que quem vem me acompanhar, construa junto, em um trabalho de baixo para cima.

Quero fazer escolhas diferentes, estabelecer prioridades. Uma das minhas principais escolhas será a Educação. Vim da favela, do gueto, e a educação transformou a minha vida. Tenho também um compromisso muito forte com as mulheres. Quero pensar em projetos para dar mais sustentação e estratégias de geração de renda para mulheres chefes de família. Quero ser prefeita da cidade de Salvador para cuidar de gente, gente que tem a minha origem, que tem histórias duras. Não sou uma alpinista da política, entrei a partir do movimento social, tenho 35 anos de militância.

BNews - O que você achou da declaração de Bruno Reis sobre não ser preponderante a candidatura negra, mas um conjunto de fatores?
Olívia Santana -
É claro que é um conjunto de fatores e, no conjunto dos fatores, nós temos que tematizar a candidatura negra e por que isso nunca aconteceu na história de Salvador. Por que só os brancos podem nos representar como universais? Bruno Reis, ACM Neto e os príncipes todos acham que podem governar a cidade para todos. E por que uma pessoa negra não poderia governar para todos? Eu me disponho a governar Salvador para toda a sua gente, mas incorporando os negros de maneira substancial, não estabelecendo políticas que mantenham a população negra em situação de brutal desigualdade. Queremos oportunidade.

BNews - Você conversou com Vilma Reis e Vovô do Ilê? Algum deles pode ser seu vice ou te apoiar?
Olívia Santana -
Agora é o momento de buscar apoios, de articular com os partidos políticos e trazer o máximo de apoio possível, não só nos partidos, mas também dos movimentos sociais. No caso específico do “Eu quero ela”, eu sou um dos nomes desse movimento. Fui muito saudada pelas pessoas que fazem parte dele porque ele pautou diversos partidos com essa demanda: por que não um quadro negro para ser candidato ou candidata à prefeitura de Salvador? Então, temos nomes do PT, como Vilma Reis, do PDT, a exemplo do Vovô do Ilê, e eu no PCdoB. Cada um em partidos diferentes com essa pauta também. 

Claro que nós queremos muito o apoio e essa discussão sobre o vice passa por construção partidária. Temos que dialogar principalmente com os partidos, pois são eles que determinam quem são seus candidatos, quem pode compor uma vice. Esse é o nosso sistema eleitoral. Nesse momento, o que nós estamos fazendo é dialogando com nossos companheiros e companheiras. Vou conversar também com Vilma Reis, que é um nome muito importante, mulher que tem uma trajetória de luta belíssima. Foi ouvidora por duas vezes, eleita com o meu apoio e o meu empenho. Tenho uma relação muito positiva com ela e gostaria de contar com o apoio dela nesse desafio que está posto aí.  

BNews - Como está o seu relacionamento com Alice Portugal? Ela deve apoiar a sua candidatura?
Olívia Santana -
Com certeza! Não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Alice é um quadro do partido, uma deputada destacada. Eu fiz a campanha dela, coordenei, estava presidenta municipal do PCdoB em 2016 e, antes, em 2015, conduzi todo o processo de conferência que consagrou o nome dela como candidata única. Não fizemos nenhuma disputa naquele momento.

Este momento é único e é novo. O que aconteceu foi: considerando a minha votação em Salvador e considerando a votação de Alice em Salvador, estes foram dois nomes naturais, apresentados pela Direção Municipal para abrir o debate sobre quem o PCdoB apresentaria para a disputa na cidade. Houve uma evolução na direção do meu nome e na construção de uma pactuação, até por uma participação da Direção Nacional que dialogou com Alice sobre a importância de ela permanecer na Câmara dos Deputados, acompanhando as pautas de luta política que estamos fazendo lá ao Governo Bolsonaro. Além disso, houve também uma proposta para que ela assumisse a Secretaria de Relações Institucionais aqui na Bahia para ir acompanhando as candidaturas de prefeito no interior.

Considerando que 70% da minha votação foi em Salvador, o partido achou melhor que, nesse momento, fosse o meu nome e ela [Alice] concordou também com isso. Então, teve aquela situação de ela não ter comparecido à coletiva de imprensa e isso se deu em função do vazamento de que eu seria candidata, mas como se eu tivesse derrotado ela e aí ficou uma imagem muito ruim e ela não se sentiu confortável em comparecer. Mas eu tenho certeza que a deputada nos apoia, vai participar do nosso projeto eleitoral, da nossa campanha. Ela tem compromisso com isso. Sempre fiz dobradinha com Alice, ela federal e eu estadual. Então, não há por que instalar uma crise no nosso relacionamento. 

Neste sábado (9), fizemos uma grande conferência, com o partido unido em torno do meu nome como pré-candidata à prefeita de Salvador, e Alice fez um belo discurso em torno da nossa unidade.

BNews – Você vai tentar resgatar a simpatia que Rui tinha com você nas eleições de 2016?
Olívia Santana -
Eu espero contar com o governador. Esse é um dos passos que o PCdoB dará, solicitar um encontro para falarmos sobre a candidatura. Gostaria muito de contar com o apoio dele e de senadores. Vamos dialogar com todas as forças políticas, afinal essa é uma candidatura que brota do polo de forças que apoiam o governador. 

Tenho uma relação muito positiva com Rui, fomos vereadores juntos, fizemos uma dobradinha muito bacana. Me sinto honrada de ter feito parte de seu secretariado. E fiquei muito feliz quando ele fez declarações, por diversas vezes, sobre a sua preferência pelo meu nome em 2016. Sei que agora é outro momento, nós estamos diante de uma eleição que vai acontecer em 2020, política muda e ele tem o direito de mudar de opinião, assim como eu tenho o direito de solicitar este apoio a ele. Este movimento nós faremos.

BNews - Houve alguma manifestação da Comissão da Mulher da AL-BA com relação à situação de agressão à mulher envolvendo o deputado Marcell Moraes e um assessor da Assembleia?
Olívia Santana -
Não foi apresentada nenhuma queixa para a Comissão da Mulher, não fui procurada como presidenta, nem nenhum outro membro da comissão. Vi o fato repercutir na imprensa. A informação que tenho é que a moça agredida já procurou a delegacia e o Ministério Público. O papel da Comissão da Mulher é fazer esse tipo de encaminhamento quando é provocada ou se ela ainda não tivesse movimentado os órgãos competentes. Se ela nos procurar, procurar apoio político, de acompanhamento, estaremos plenamente à disposição.

BNews - Como você avalia um parlamentar envolvido em um episódio como este?
Olívia Santana -
Considero lamentável porque nós, parlamentares, somos pessoas públicas e precisamos dar exemplo. Essa temática da violência contra as mulheres está na ordem do dia. É algo que todo agente público tem informação suficiente e deve pautar sua conduta no sentido de respeitar o direito das mulheres. Nós temos o entendimento que, o que nós pregamos para as pessoas lá fora, deve ser cumprido por nós mesmos em primeiro lugar. Acredito que o deputado deveria pautar sua conduta numa atitude de respeito à cidadania das mulheres. Essa responsabilidade se agrava quando se trata de um agente público.

Classificação Indicativa: Livre

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